Caixa
Disco bì com caixa
China; séculos XVI-XVII
Jade de nefrite entalhado; madeira de zitan
Dim.: 1,5 x 6,0 x 6,0 cm (disco)
5,5 x 9,0 x 9,0 cm (caixa)
ProV.: Ex-colecção do Visconde de Soveral
Pequeno disco em jade de nefrite de cor mesclada entre verde acinzentado e castanho claro, entalhado nas duas faces, com sua caixa que serve de suporte em zǐtán, madeira de muito apreciada na China e semelhante ao pau-santo.
Conhecidos por bì, e usados como oferta sacrificial aos céus ou como símbolo de poder, ou para serem colocados em túmulos sobre o jacente (peito e estômago), estes discos circulares achatados em jade (símbolo de qualidade moral) com furo central, na origem sem decoração, remontam aos períodos mais recuados da cultura e arte chinesas durante o Neolítico. Os mais antigos pertencem à cultura Liangzhu (ca. 3400-2250 a.C.), sendo frequentes nas dinastias Shang (ca. 1600-1046 a.C) e Zhou (c. 1046-256 a.C.), declinando o seu uso depois da dinastia Han (202 a.C-220 d.C.).
O presente exemplar, de produção mais tardia e arcaizante, apresenta o reverso plano decorado com padrão de “grãos”, copiando exemplares arcaicos em bronze e o anverso entalhado em alto-relevo, com partes destacadas do fundo, mostrando dois dragões chīlóng afrontados e entrelaçados.
Estes animais são desprovidos de chifres e portanto dragões imaturos, que surgem igualmente nas versões arcaicas, cuja decoração este bì pretende emular. Com efeito, os dragões que pousam neste bì, replicam um modelo da dinastia Han, embora sejam mais salientes (num estilo mais naturalista típico dos séculos XVI e XVII) e menos sofisticados no entalhe, sendo usualmente representados em silhueta emoldurando a circunferência do disco, ou entalhados dentro e fora da sua superfície plana.
Objectos arcaizantes deste tipo foram produzidos entre as dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1919) para a elite intelectual chinesa, apreciados por coleccionadores connoisseurs e usados por oficiais da corte imperial, e embora procurem replicar os modelos arcaicos, são no geral mais pesados, coloridos e mais decorados.
Um exemplar de maiores dimensões (11,8 cm de diâmetro) em jade de nefrite de cor cinza escuro, com chīlóng entrelaçados no anverso e padrão de “grãos” no reverso, produzido entre os séculos XVII e XVIII, pertence ao British Museum, Londres (inv. 1945,1017.107).
Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa
Bibliografia:
RAWSON, Jessica, AYERS, John, Chinese Jades throughout the ages (cat.), Londres, Victoria and Albert Museum, 1975.
TENG Shu-P'Ing, “The Original Significance of Bi Disks: Insights Based on Liangzhu Jade Bi with Incised Symbolic Motifs”, Journal of East Asian Archaeology, 2.1, 2000, pp. 165-194.
- Arte Colonial e Oriental
- Artes Decorativas
- Diversos