Trindade Triândrica

Nº de referência da peça: 
F980

Esta pequena pintura devocional executada sobre madeira de teca, de que não se conhece a exacta procedência, foi certamente executada em Goa na primeira metade do século XVII e representa a Santíssima Trindade na forma de Trindade Triândrica.

Admiram-se na pintura as figuras do Padre Eterno, do Filho e do Espírito Santo representadas com a mesma fisionomia, todas três, com barbas, cabelos longos e face cândida, variando nos atributos que seguram junto ao peito em dísticos dourados: ao centro, vemos o Padre Eterno, que ostenta o disco com o símbolo do Sol; à esquerda, Jesus Cristo, mostrando a figura do Agnus Dei; à direita, o Espírito Santo, que segura no disco a Pomba, sua tradicional iconografia.

O enquadramento mostra um renque de nuvens, pintadas de modo singelo, envolvendo as três figuras da Santíssima Trindade. A composição segue um raríssimo modelo iconográfico da Santíssima Trindade que fora, de há muito, abandonado na Europa católica e que, com a Contra-Reforma, passou a estar erradicado das representações de arte sacra autorizadas. O tema, veio a ter, curiosamente, uma forte e significativa ressonância na arte religiosa realizada na antiga Índia portuguesa dos séculos XVI, XVII e XVIII, sob estímulo da reforma tridentina.

Trata-se de produção goesa das primícias do século XVII, altura em que a opção por esta versão trinitária – a Trindade Triândica – dominava os repertórios de arte cristã aí gerada. Basta citar-se como bom exemplo a pintura mural de uma antiga capela no Mosteiro agostiniano de Santa Mónica, em Velha Goa, de cerca de 1630, onde o mesmo tema ressurge, aí com a novidade absoluta de Jesus Cristo ocupar o centro e o Padre Eterno se situar à esquerda.

Existem outras representações triândricas nas Santíssimas Trindades representadas na arte indo‑portuguesa dos séculos XVI e XVII, as quais exploram em termos simbólicos as relações da Santíssima Trindade com a Trimurti, a tríade hindu formada por Brahma, o criador, Vishu, o mantenedor, e Shiva, o destruidor, permitindo uma eficaz catequização das comunidades a converter. 

Pode tratar-se de obra devida a uma das várias oficinas de pintura sediadas em Goa no princípio de Seiscentos e de que as recentes investigações vão deixando conhecer os nomes, como Aleixo Godinho, João Peres, António da Costa ou o canarim Janas. 

 

Teca policromada

Oficina Goesa, séc. XVII – 1ª Metade

Dim.: 41,0 × 35,0 cm

Teak with polychromy

Goan School, 17th c. – first half

Dim.: 41,0 × 35,0 cm

— GONÇALVES, Flávio, A Trindade Trifonte em Portugal, sep. de O Tripeiro, 6ª série, Porto, 1962.

— MATOS, Luís de, Imagens do Oriente no Século XVI. Reprodução do Códice Português da Biblioteca Casanatense, Lisboa, IN/CM, 1985.

— SERRÃO, Vitor, Pintura e Devoção em Goa no Tempo dos Filipes: o Mosteiro de Santa Mónica no ‘Monte Santo’ (c. 1606–1639) e os seus artistas, (Painting and worship in Goa during the period of iberian union: the Santa Mónica monastery at ‘Monte Santo’ (c. 1606–39) and its artists), revista Oriente, n.º 20, 2011, pp. 11–50

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