Toni Malau

Nº de referência da peça: 
F1354

Toni Malau
Kingdom of Kongo, 17th c.
Brass |H 8 cm
Prov.: Miguel Baganha, Oporto

Toni Malau
Latão
Reino do Congo (República Democrática do Congo e Angola), século XVII
Dim.: 8 cm de altura
Proveniência: Miguel Baganha, Porto
F1354

This minute brass figure, a devotional pendant inspired by a European prototype taken to the Congo by the Portuguese in the late 15th century, portrays Saint Anthony of Congo, also known as “Anthony of Good Fortune”, Toni Malau, Ntony Malau or Dontoni Malau.
Highly stylized, the Saint features a radiant halo, and supports the standing Child Jesus on the left palm while holding a Latin cross in the right hand. In turn, the child is portrayed supporting the orb on its left hand while blessing with the right. Anthony is attired in the characteristic Franciscan hooded habit, tied at the waist by a long, knotted cord. Although diminutive in scale the figure was modelled with wondrous detail and cast by the lost wax technique.
Anatomically, it shares evident African features with larger sized brass and ivory examples, namely in its characteristic almond shaped eyes. From the figure’s flat back stands out a suspension loop that allowed for hanging from a necklace. The pendant’s dense patina, and worn and abraded surface, confirm its use as an amulet, a magic charm to ward off evil that, as a nkisi, or spirit inhabited object, should be rubbed on the areas of the body affected by disease.

Saint Anthony of Padova, or of Lisbon, as he is referred to in Portugal and in its former overseas territories, was born in Lisbon in 1195 and, following from his studies in the University of Coimbra decided, in 1220, to join the Franciscans. Departing for Morocco soon after, following the martyrdom of five Franciscan friars, he would be forced to return to Europe in consequence of a severe fever. Subsequently, he taught theology at the University of Bologna and preached in southern France. On his death in Padova, aged 36, Anthony became the most popular Franciscan Saint, after Saint Francis of Assisi himself. His popularity in Portugal, and in former Portuguese territories worldwide, where many extant churches were dedicated to him, does naturally relate to his Portuguese origins and to his brief travels in Africa.
Wooden or ivory carved, and cast brass images of Saint Anthony, were made in Portugal but also in Ceylon, now Sri Lanka, in Goa, in the Philippines – carved by Chinese artisans known as sangleyes -, and in the Lower Congo. Encouraged by Italian Capuchin monks, the earliest examples produced in the latter African region correspond to a small group of brass figurines, that includes our example, known as Toni Malau or Dontoni Malau, from “Dom António”, and malau, the plural form of lau, meaning “good fortune, luck or success”.
In addition to these small figures, other depictions of the Saint, carved in wood and of evident African features, do also exist. A well-documented example, previously in Sankt Augustin, in Germany, belonged to Petelo Kianana, of the Ntumba-Mwembe, and was destined to be used by the clan women, who held the image on their knees while praying for successful child delivery.
Some of the Saint’s imagery can also be related to the Antonian religious movement led by Beatriz Kimpa Vita (1684-1706), a Congolese priestess trained as nganda mrtinda (a person with the ability for communicating with the supernatural world). Kimpa Vita claimed that Jesus was Congolese and that she herself had died and was possessed by Saint Anthony, hence bringing many prophecies in the name of the Saint. Encouraged by her messianic vision, her followers took over the capital city of Mbanza Kongo, but her cult was ended once Beatriz was charged with rebellion and heresy and sentenced to death by fire in 1706.
Brass pendants, particularly as small as the present example, are rare. An analogous, albeit larger pendant (dim.: 10.2 x 3.5 x 2.9 cm) belongs to the Metropolitan Museum of Art, in New York (inv. 1999.295.1).

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

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Esta pequenina figura, peça de joalharia devocional em latão (uma liga de cobre), inspirada num protótipo europeu trazido pelos portugueses nos finais do século XV, representa Santo António do Congo, também conhecido como “António da Boa Sorte”, Toni Malau, Ntony Malau ou Dontoni Malau.
Muito estilizado, o santo, com seu nimbo estelar, segura na palma da mão esquerda o Menino Jesus em pé (com orbe na mão esquerda enquanto abençoa com a mão direita) e na mão direita uma cruz latina.
Veste o seu característico hábito franciscano com capuz, amarrado na cintura por um longo cordão pendurado com nós. Embora diminuto no tamanho, foi modelado com incrível pormenor usando a técnica da cera perdida.
Partilha características africanas comuns a imagens semelhantes de maior dimensão em latão e marfim entalhado, nomeadamente os característicos olhos amendoados. No verso plano, uma argola de suspensão permite que possa ser trazida no pescoço.
A extraordinária pátina desta figura e a sua superfície desgastada são testemunho do seu uso como amuleto, talismã mágico para afastar o mal e enquanto nkisi ou objecto habitado por espíritos, sendo esfregado em partes do corpo afetadas por doenças.
Santo António de Pádua, ou de Lisboa como é conhecido em Portugal e nos seus antigos domínios coloniais, nasceu em Lisboa em 1195 e depois de estudar em Coimbra juntou-se em 1220 aos franciscanos. Partiu então para Marrocos, onde cinco franciscanos haviam acabado de ser martirizados, mas devido a uma febre, foi forçado a regressar à Europa. Ensinou teologia em Bolonha e pregou no centro e sul da França. Quando morreu em Pádua em 1231, aos 36 anos, António tornou-se o santo mais popular da sua ordem depois de São Francisco de Assis. A sua popularidade em Portugal, com muitas igrejas a ele dedicadas no reino e além-mar nos territórios ultramarinos, decorre das suas origens e da sua breve passagem por África.
Imagens do santo, entalhadas em madeira e marfim, ou feitas em latão fundido foram produzidas não apenas em Portugal como também no Ceilão (actual Sri Lanka), Goa, Filipinas (entalhadas por artesãos chineses conhecidos como sangleyes), mas também no Baixa Congo.
Promovidos pelos padres capuchinhos italianos, os exemplares mais antigos produzidos no Baixo Congo constituem um pequeno grupo de figuras de latão, ao qual pertence o nosso diminuto exemplar, conhecido como Toni Malau ou Dontoni Malau - de Dom António e malau, plural de lau que significa “sorte, ventura ou sucesso”.
Para além destas pequenas estatuetas, sobrevivem outras esculturas do santo, talhadas em madeira com marcados traços africanos. Um exemplo bem documentado, outrora em Sankt Augustin, na Alemanha, pertenceu a Petelo Kianana dos Ntumba-Mwembe, sendo usado pelas mulheres do clã que seguravam a estátua nos joelhos e rezavam para terem um parto bem-sucedido.
Algumas estatuetas do santo podem estar relacionadas com o movimento religioso antoniano liderado por Beatriz Kimpa Vita (1684-1706), uma sacerdotisa congolesa que havia sido treinada como nganda marinda (pessoa com a capacidade de se comunicar com o mundo sobrenatural). Afirmou ela que Jesus era congolês e que ela havia morrido e estava possuída por Santo António, trazendo muitas profecias em nome do santo. Estimulados pela sua visão messiânica, os seus seguidores tomaram a capital Mbanza Kongo, mas o seu culto deu-se por terminado ao Beatriz ser acusada de rebelião e heresia e finalmente condenada à morte na fogueira em 1706.
Pendentes de latão como este nosso exemplar representando Toni Malau são raros, em especial de tão reduzidas dimensões. Um pendente de muito maiores dimensões (10,2 x 3,5 x 2,9 cm) pertence ao Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque (inv. 1999.295.1).

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

  • Arte Colonial e Oriental
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