Tabuleiro de jogo desdobrável

Nº de referência da peça: 
F1401

Folding games board
Indian rosewood, ivory, and coloured mastic; wrought iron and gilt copper fittings
India, probably Chaul, 2nd half of 16th century
Dim.: 18.5 x 61.0 x 61.0 cm (open)
23.0 x 61.0 x 23.0 cm (closed)

Tabuleiro de jogo desdobrável
India, Chaul?; século XVI – 2ª metade
Sissó, marfim, mástique, ferro forjado e cobre dourado
Dim.: Aberto - 18,5 x 61,0 x 61,0 cm
Fechado - 23,0 x 6,0 x 23,0 cm

This rare folding games board for chess, draughts and backgammon is crafted from East Indian rosewood (Dalbergia latifolia) and lavishly decorated with floral ivory inlays, highlighted in coloured mastic (resin mixed with pigments). The square-shaped board unfolds through hinges into three equal sections, featuring two falling leaves that, when closed, elegantly conceal the sides of an inner box. Positioned at right angles to the falling leaves, two crenellated boards function as feet when the board is open, tightly enclosing the inner box. Within the inner rectangular box are three compartments a central squared compartment and two oblong ones, with one fitted with a locked drawer for storing game pieces. Similar to other surviving game boards of this production, opening the drawer triggers the appearance of a carved ivory female figurine. This figurine rises from the board floor through a trap door in the centre, signalling the end of the game. The back compartment functions as a music box, with the cords similarly triggered by the opening of the drawer.
When open, the board reveals a central chequered area for draughts and chess, featuring sixty-four spaces inlaid with ivory rosettes, further engraved and highlighted in alternating green and red mastic. The top of the board is decorated with several borders. The inner one alternates quatrefoils and lozenge-shaped rosettes. A wide border with large lotus-flower rosettes, with a stylised vegetal scroll motif set on the angles, holds two raised escutcheons at opposite sides for each player's dice cups. A raised rim, with a similar frieze of quatrefoils and lozenge-shaped rosettes, features a crenellated ruler on each side of the board for stacking the backgammon draughtsmen. The triangular-shaped feet boast stylised lotus-flower rosettes emerging from a leafed stem. The front of the drawer, left plain, is fitted with a central iron lock plate. The Chinese-style gilt copper fittings are finely chased with vegetal scrolls on a punched ground, and include four corner brackets and two hook fastenings on either side of the closed folding board.
Games boards, flat and reversible, spread rapidly through Asia. They were introduced by the Portuguese on the ships of the India Run and locally replicated using the exotic and durable Indian woods, employing refined techniques like sadeli. These games boards were commissioned by wealthy merchants, courtly officials, and captains of the Portuguese State of India. Chess, a board game that was thought to have originated in India, gained significant popularity at the Portuguese court during the sixteenth-century. King Sebastião I (r. 1557-1578) was particularly renowned as a skilled player. Chronicler João de Barros, documenting the Portuguese Expansion in Asia in his Décadas, recounts a curious episode from 1509. It occurred during the initial contacts with Malacca when Diogo Lopes de Sequeira, aboard his ship, was surprised by a local individual, an enemy of the Portuguese, while playing chess.
Folding game boards made for export to the European market in western Indian coastal centres, such as the present one, are rare. Their shape and complex geometrical design appear unique, with no known parallel, either locally or in Europe. Some boards, richly decorated with exotic woods, ivory, and green-dyed bone inlays of contrasting colours, were likely made in Thane, also part, like Chaul (present-day Fort Revdanda, Maharashtra), of the Northern Province of the Portuguese State of India. Others boards, featuring sadeli in their decoration were seemingly made in Thatta, in present-day Pakistan. As with the present example, a third group of folding game boards were probably produced in Portuguese-ruled Chaul. These include one that belonged to the Portuguese royal family collection, housed in the Palácio Nacional da Ajuda, Lisbon (inv. 65971), as well as four others in private collections in Portugal. The present folding games board, with its rarer, strictly floral decoration, is a new important addition to the corpus of known objects with this decoration.

HMC

Bibliography:

CARVALHO, Pedro de Moura, Luxury for Export. Artistic Exchange between India and Portugal around 1600 (cat.), Boston, Isabella Stewart Gardner Museum, 2008

CRESPO, Hugo Miguel, India in Portugal. A Time of Artistic Confluence (cat.), Porto, Bluebook, 2021

MARKL, Dagoberto L., “O Xadrez e os Descobrimentos. O Tempo de João de Barros (1496-1570)”, Oceanos 27 (1996), pp. 92-98

--

Este raro tabuleiro de jogo desdobrável, para jogos de xadrez, damas e gamão é inteiramente construído em sissó (Dalberia latifolia) e ricamente decorado com embutidos florais em marfim, avivados a mástique de cores (resina misturada com pigmentos).
De planta quadrada, o tabuleiro articula-se em três partes iguais através de dobradiças, com duas abas que, caindo, envolvem as ilhargas de uma caixa interior. Em esquadria com as abas, duas faces dentadas, que funcionam como pés quando aberto, permitem que o tabuleiro se feche como uma caixa paralelepipédica.
A caixa no interior, com o mesmo formato, tem três compartimentos: um central, de planta quadrada e dois rectangulares, um dos quais, com gaveta e fechadura, que serve para conter as peças de jogo. À semelhança de outros tabuleiros da mesma produção, a gaveta, ao abrir, espoleta a ascensão de uma figura feminina entalhada em marfim, rompendo do plano do tabuleiro através de um alçapão ao centro, sinalizando o final do jogo. O compartimento do tardoz funciona como caixa de música, com cordas igualmente accionadas ao abrir da gaveta.
Quando aberto, o tabuleiro apresenta uma zona central axadrezada para o jogo de damas e xadrez com sessenta e quatro casas, alternando rosetas embutidas, incisas e preenchidas, ora a mástique verde, ora vermelho. Este quadro está emoldurado por diversas cercaduras: um friso mais interno é estreito, com uma sucessão de quadrifólios e rosetas em losango, seguindo-se uma banda larga, decorada por grandes rosetas de flores-de-lótus, com motivos vegetalistas estilizados nos cantos, com dois escudetes de recorte alteado, em lados diametralmente opostos, para conter o copo e os dados de cada jogador. Por fim, uma faixa elevada, rebordo que termina num friso de quadrifólios e rosetas em losango rematando todo o tabuleiro e cujo bordo interno - no lado correspondente a cada jogador - é de perfil recortado em semicírculos contíguos e simetricamente colocados de cada lado do escudete - onde se colocam as peças do gamão, também dominadas homens ou checkers.
Os pés triangulares estão ornamentados com grandes rosetas estilizadas de flores-de-lótus com seus caules pontuados por folhas. A frente da gaveta, plana e sem decoração, tem um espelho de fechadura liso em ferro e as ferragens de cobre dourado de estilo chinês - quatro cantoneiras e dois ganchos para fechar o tabuleiro dos lados - são finamente cinzeladas, com enrolamentos vegetalistas sobre fundo puncionado.
Tabuleiros de jogo, planos ou de face dupla, difundiram-se rapidamente na Ásia, levados pelos portugueses nas naus da Carreira da Índia e aí replicados com as madeiras exóticas e resistentes indianas e as refinadas técnicas locais, como o sadeli, a mando de ricos mercadores, oficiais e capitães do Estado Português da Índia. Com efeito, o xadrez - jogo que se considerava originário da Índia - era um dos jogos mais apreciados na corte portuguesa de Quinhentos e no qual o rei Sebastião I (r. 1557-1578) se teria notabilizado. João de Barros, cronista da Expansão Portuguesa na Ásia, relata nas suas Décadas o curioso episódio de Diogo Lopes de Sequeira - aquando dos primeiros contactos com Malaca em 1509 - ter sido surpreendido por um local, inimigo, quando jogava xadrez na sua nau.
Os tabuleiros desdobráveis, como o presente, produzidos para o mercado europeu ao longo da costa ocidental indiana são raros e terão sido produzidos na Chaul sob domínio português. A forma e o seu complexo encaixe geométrico, parecem ser únicos, não se conhecendo paralelos, europeus ou asiáticos. Outros há, ricamente marchetados com madeiras exóticas, marfim e osso tingido de verde, que foram provavelmente produzidos em Taná que - tal como Chaul (actual Fort Revdanda, Maharashtra) - fazia parte da Província do Norte do Estado Português da Índia. Um terceiro grupo, enriquecidos com sadeli, serão originários de Thatta, no actual Paquistão.
Fazem parte do conjunto originário de Chaul, o que pertenceu à colecção da família real portuguesa e que se encontra no Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa (inv. 65971) e, outros quatro, de colecções particulares em Portugal. Este nosso exemplar com a sua mais rara decoração estritamente floral, é uma importante adição ao corpus conhecido de objectos com esta decoração.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

Bibliografia:

CARVALHO, Pedro de Moura, Luxury for Export. Artistic Exchange between India and Portugal around 1600 (cat.), Boston, Isabella Stewart Gardner Museum, 2008

CRESPO, Hugo Miguel, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021

MARKL, Dagoberto L., “O Xadrez e os Descobrimentos. O Tempo de João de Barros (1496-1570)”, Oceanos 27 (1996), pp. 92-98

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Diversos

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.