Prato de Aparato

Nº de referência da peça: 
C754

Display plate
Faiança Portuguesa “Pré-Aranhões”
Lisboa, 1635-1650
Dim.: 37.3 cm

Faiança Portuguesa “Pré-Aranhões”
Lisboa, 1635-1650
Dim.: 37,3 cm

Seventeenth-century (1635-1650) Portuguese faience shallow plate of raised lip, painted in cobalt blue on tin glazed.
In the well a central scene is filled by a landscape from which stands out a majestic nobleman of Chinese appearance, dressed in European contemporary attire. Dressed in a tunic and sleeveless doublet over shirt, breeches and tied socks with exuberant ribbons, high-heeled shoes – a sign of masculinity and elevated social status - he covers himself with a short, artistically raised cape obscuring part of his face and mouth. Sporting long hair, his head is partially covered by a brimmed hat, and a rapier is at his waist.
In the background, a garden is enclosed by a balcony adorned with an exuberant flowering plant. Positioned to the right of the figure, a 17th-century Portuguese table, contemporaneous with the Philippine dynasty - also referred to as the “Filipino table” - features a naively designed top, lacking a sense of perspective, and its characteristic iron spinners, upon which what appears to be three candles are illuminated. The surrounding ambiance is punctuated by various insects.
The central scene is surmounted by two draperies – the curtain to the left of the figure culminates in a tassel – that only encircles half of the well - certainly an allusion to contemporary interiors.
The plate’s lip decoration extends into the well and is segmented into eight cartouches - divided by double fillet bands adorned with hanging seals - alternating stylized daisies’ bouquets, with palm leaves “aranhões” and painting scrolls, with Chinese cords modified into spider legs. This decoration draws inspiration from Chinese Kraak porcelain dating back to the Wanli reign (1573-1617).The composition is framed by a blue fillet.
The reverse is divided by the same number of cartouches featuring a double semicircle embellished with stylized leaves and divided by a fillet.
The paramount influence on Portuguese faience during the 17th century is notably attributed to Chinese porcelain. According to the "evolutionary cycles" classification, this plate stands as a paradigmatic representation of the second quarter of the century. Its main feature lies in the convergence of cultures, evident in the incorporation of a Portuguese theme and porcelain-like ornaments on the lip, albeit presented in an innovative manner.
The figure’s attire and the "Filipino table" - which reflects a contemporary model of Iberian furniture - anchor this scene within the same historical period as the plate’s manufacture, aligning politically with the conclusion of the Dual Monarchy and the Restoration of the Portuguese crown.
The dynastic crisis, arisen from the absence of direct heirs to the Portuguese throne, culminated in the Iberian Union, with the ascension of King Philip II of Spain - Philip I of Portugal, in 1580. Over the span of sixty years, the Spanish administration became increasingly unpopular, giving rise to a sense of nationalist resistance cutting across all societal classes. The loss of individuality was felt by the majority of the Portuguese populace, along with an economic crisis that gripped the entire Empire, notably, with the decline of the maritime commercial monopoly, previously held by the Portuguese. This period culminates in 1640 with a widespread revolt, marked by the acclaim of the Duke of Bragança, João IV, as king of Portugal.
Throughout the process of regaining independence, Portugal found itself in a state of heightened war tension with Spain. Within this context we can interpret the imagery depicted by the potter - the moment in which a nobleman, afraid of exposing his identity, hides part of his face having next to him a table of Filipino origin , with three illuminated candles, serving as a beacon of hope.
TP

Bibliography:
João Henrrique Marrocano “Mobiliário português de estilo nacional: o Bufete, forma, Origem e Identidade”, Res Mobilis - Revista internacional de investigación en mobiliario y objetos decorativos, Vol. 10, nº. 11, 2021, pp. 44-74.

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Prato de faiança portuguesa do século XVII (1635-1650) de covo pouco acentuado e aba levantada, decorado a azul-cobalto sobre esmalte estanífero.
Ao centro, uma paisagem onde se destaca um majestoso fidalgo de fisionomia chinesa, vestido com traje europeu da época. De túnica e gibão, calças e meias atadas por exuberantes fitas, sapatos de tacão – sinal de masculinidade e de elevado status social – cobre-se com capa curta e artisticamente levantada tapando parte da cara e da boca. De cabelo comprido, tem a cabeça parcialmente coberta com chapéu de abas e traz um espadim à cintura.
Em segundo plano, um jardim limitado por varandim com uma planta exuberantemente florida, à destra da figura e, do outro lado, uma mesa portuguesa do século XVII, contemporânea da dinastia Filipina – também designada “mesa filipina” - de tampo ingenuamente planificado, sem noção de perspectiva, com os característicos fiadores em ferro, sobre a qual se dispõem, o que nos parece ser, três velas acesas. A atmosfera envolvente está pontuada por vários insectos.
A paisagem é encimada por dois panejamentos – o reposteiro à esquerda da figura, termina em borla de passamanaria, certamente uma referência à pintura de época, segundo a lógica do cerimonial barroco.
Na aba, a decoração prolonga-se pelo covo e está dividida com oito reservas - separadas por bandas de fios duplos com selos suspensos – alternando ramos de boninas, ora com folhas de palmeira, ora com rolos de pintura, envolvidos por cordões chineses, que irão dar origem às patas dos famosos “aranhões”. Esta ornamentação é inspirada na porcelana chinesa Kraak, do reinado Wanli (1573-1617). A composição está circundada por filamento azul.
O verso da aba está decorado pelo mesmo número de reservas ocupadas por duplo semicírculo com folhas estilizadas e separadas por “filete”.
À porcelana chinesa se deve a influência mais emblemática da faiança portuguesa do século XVII. De acordo com a classificação em “ciclos evolutivos”, este prato é paradigmático do segundo quartel do século. A principal característica resulta da confluência de culturas e manifesta-se pela introdução de um tema português ao centro, a par dos ornamentos da aba análogos à porcelana, mesmo que representados de forma original.
A indumentária da figura e a “mesa filipina” - que reflecte um modelo de mobiliário ibérico de época - reportam esta cena para o mesmo período de manufactura da peça, correspondendo politicamente ao finalizar da Monarquia Dual e à Restauração da coroa portuguesa.
A crise dinástica, provocada pela ausência de herdeiros directos ao trono de Portugal originou a União Ibérica (espanhola e portuguesa) com a ascensão ao trono português do rei Filipe II de Espanha – Filipe I de Portugal – em 1580. Ao longo dos sessenta anos a administração espanhola foi-se tornando cada vez mais impopular, difundindo-se por todas as classes um sentimento de resistência nacionalista. A perda de individualidade era sentida pela maioria dos portugueses, a par da crise económica que se instalara em todo o Império, em especial a decadência do monopólio comercial marítimo que o povo português tinha alcançado anteriormente. Este ciclo terminou em 1640, ano em que a população se revoltou, com a aclamação do duque de Bragança, D. João IV, como rei de Portugal.
Ao longo deste processo de recuperação de independência, o país encontrava-se sob elevada tensão bélica com a Espanha, razão pela qual podemos considerar que o oleiro documentou nesta peça o momento em que uma figura da nobreza, com receio de expor a sua identidade, esconde parte da sua cara, e ao lado, representa uma mesa de origem filipina , sobre a qual colocou três velas acesas, como símbolo ou reduto de esperança.

BIBLIOGRAFIA ESPECIFICA:
João Henrrique Marrocano “Mobiliário português de estilo naciona: o Bufete, forma, Origem e Identidade”, Res Mobilis - Revista internacional de investigación en mobiliario y objetos decorativos, Vol. 10, nº. 11, 2021, pp. 44-74.

  • Arte Portuguesa e Europeia
  • Azulejos e Faianças

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