Prato “ Crucificação”

Nº de referência da peça: 
C723

c. 1745
Porcelana vidrada decorada a grisaille e ouro
China, Dinastia Qing, Período Qianlong (1735-1796)
Diam.: 23 cm

“Crucifixion” plate, ca.1745
Grisaille and gilt glazed porcelain
China, Qing dynasty, Qianlong reign (1735-1796)
Diam.: 23 cm

Chinese export porcelain moulded plate of flat well and mildly oblique lip. Made in a pure white porcelain coated in blueish glaze, it is decorated in Indian-ink (grisaille) highlighted in gold.
In the plate well a depiction of Jesus Christ Crucifixion as narrated in the New Testament, at the moment the soldiers gamble with dice for Jesus robes (John 19: 23-24) . Jesus, nude but for the loincloth and crown of thorns, displays an exuberant radiant halo beneath the inscription “INRI” (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum – Jesus of Nazareth, King of the Jews), that is nailed to the cross, and is flanked by the two crucified thieves. At His feet the Virgin Mary and His most beloved disciple John (the gospel’s author) being followed by a crowd. At the forefront, a soldier holding a cloth soaked in vinegar torments Christ, while the others, seated on the ground or squatting, throw the dice, gambling for His tunic.
On the lip, a sophisticated border of tendril scrolls (plant of religious associations), ribbons and flowers, interlaced over a golden bar and framed by two friezes of intense gold. The painted decoration, monochrome and applied over the glaze, resorts to fine outlines and shadowing effects that are achieved by the use of black enamels or dark Manganese browns, with some gilt highlighted details.
The grisaille decorative technique follows from traditional Indian ink Chinese painting, with its masterly use of shadows that convey texture and light. François Xavier d’Entrecolles (1644-1741), a French Jesuit priest who lived in China for many years, and was proficient in the “chim” language , reports, in 1722, on the difficulty of fixing grisaille to porcelain, which disappeared in the firing. This reference contributed to establishing time frames for the technique appearance, which would be fully developed once this obstacle was surpassed .
From then on, the quantity of European themed Chinese porcelain pieces decorated in this technique grew exponentially, being perfectly adapted to the replication of prints, which were extensively produced all through the 1740s and 1750s. The Crucifixion scene would become widely popular, as it is attested by the various documental records from the Dutch East India Company - V.O.C., that register commissions for both tea and dinner sets on this theme . Destined to the European market, this decorative technique, adopting shapes and motifs supplied by the client, was often executed with some artistic freedom by the Chinese artisans. Once known as “Jesuitical porcelain”, this attribution did eventually succumb to secular commissions as well as to those from other religious orders .
The iconographic identification of this Christological theme follows a print by the Dutch engraver and poet Jan Luyken (Amsterdam 1649-1712), who was much connected to religious themes. From amongst his works stands out the Lutheran Bible – Nederduytse Bijbel, with a 1734 octave (octagonal) edition which, for its low post and ease of transport was popular amongst sailors and travellers, being known as the “Sailors Bible” . Could it be that a copy of this Bible was the origin for this Crucifixion?
Although identical to the original printed source (see fig.1) , the scene has been altered by the artist, who added the landscape surrounding the characters, the groups of auspicious clouds (yun) of Chinese grammar and the rather feminine breasts, both to Christ and to the two thieves . Certainly not fully aware of the divine figure he was portraying, the painter nonetheless included the clouds, essential elements in the intent of Chinese culture, which symbolise the interaction between earth and the spiritual dimension of heaven, the vital energy (qi) created by the cosmic forces of yin and yang .
Following from the 1724 edict banning Christianity from the whole of the Manchu Empire – only the mathematicians and astronomers of the Peking mission being allowed in their unique quality as state employees – the anti-Christian fervour and Imperial laws were often transgressed and pieces portraying religious iconography remained in production, possibly for the simple reason that the Chinese artisans were not aware of the religious meaning of some iconographies destined for exporting to Europe .
Chronologically this plate belongs to the first of the three classical series made in China dedicated to the Life of Christ – second quarter of the 18th century – which adopt tendrils as a decorative element . European demand for “grisaille” porcelain will eventually succumb from the 1780s onwards.
Even though drawings for Holy Thursday Banquet Tables (1667/8), made for the Pope by Pierre Sevin, show small edible sugar made figurines , it is fair to assume that in Catholic countries it would not be accepted practice to eat from Crucifixion decorated porcelain. It this context, possibly used exclusively for displaying in the most important religious celebrations, it is thus justified that this, as well as other identical plates dispersed for various public and private collections worldwide, survive in such excellent condition.

Prato executado na China para exportação, moldado com fundo e aba plana, ligeiramente obliqua. De porcelana branca e revestida a vidrado azulado, está decorado a tinta-da-china (grisaille) com realces a ouro.
No fundo desenvolve-se tema do Novo Testamento: a “Crucificação”, no momento em que os soldados lançam sortes sobre as vestes de Jesus (João 19: 23-24) .
Jesus, desnudo com cendal e coroa e espinhos na cabeça, tem um exuberante resplendor por debaixo da inscrição “INRI” (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum - Jesus Nazareno Rei dos Judeus) pregada na Cruz e está ladeado por dois ladrões crucificados. A Seus pés a Virgem e o discípulo “muito amado” João (autor do Evangelho), seguidos por uma multidão. Em primeiro plano um soldado romano desafia Cristo com um pano impregnado em vinagre na mão, enquanto quatro outros, sentados ou agachados, lançam dados, tirando à sorte a Sua túnica.
Na aba, cercadura de grande riqueza decorativa, com enrolamentos de gavinhas (planta de temática religiosa), fitas e flores, entrelaçadas sobre uma barra dourada. Está emoldurada por dois filamentos com intensos realces a ouro.
A pintura é monocromática, sobre o vidrado, com recurso a finas linhas de contorno e sombreados, a partir de esmaltes pretos ou castanhos-escuros de manganês, com alguns detalhes realçados a ouro.
A técnica de decoração em grisaille segue a pintura tradicional chinesa a tinta-da-china, com uso inteligente de sombreado, que confere textura e luz. François Xavier d’Entrecolles (1644-1741), padre jesuíta francês que viveu longos anos na China e com profundo conhecimento da língua chim relata, em 1722, a dificuldade na fixação do grisaille à porcelana, que desaparecia na cozedura. A missiva contribuiu para estabelecer balizas temporais quanto ao aparecimento da técnica, que se desenvolveu na sua plenitude, depois de colmatada esta dificuldade .

A quantidade de porcelanas decoradas com motivos europeus em grisaille aumentou exponencialmente a partir de então, por se adaptar na perfeição à reprodução de gravuras, que durante as décadas de 40 e 50 do século XVIII foram amplamente produzidas. A cena da Crucificação foi bastante popular, existindo vários registos documentais da Companhia das Índias Holandesa, V.O.C., sobre encomendas de serviços de chá e mesa com o tema .
Esta técnica de pintura era destinada ao mercado europeu, usando formas e decorações fornecidas pelos ordenantes, muito embora com alguma liberdade na execução pelos artesãos locais. Outrora denominada “porcelana Jesuítica”, este nome sucumbiu ao facto de ser também encomenda de outras ordens religiosas e civil .
A identificação iconográfica deste tema cristológico recai sobre gravura do ilustrador, gravador e poeta holandês, Jan Luyken (Amesterdão 1649-1712) muito ligado a temas religiosos. De entre as suas obras encontra-se a Bíblia Luterana – Nederduytse Bijbel , com uma edição em octavo (oitavada) de 1734, que se tornou popular devido ao seu baixo custo e fácil transporte, tendo sido muito utilizada por marinheiros e viajantes, sendo por isso denominada “Bíblia dos marinheiros” . Terá sido, certamente, um destes exemplares que deu origem a esta Crucificação.
A cena é idêntica à gravura original, embora o artesão lhe tivesse acrescentado a paisagem que ladeia os figurantes, os agrupamentos de auspiciosas nuvens (yun), de cariz chim e um peito feminil a Cristo e aos dois ladrões . Embora o artesão não estivesse perfeitamente ciente da figura divina que estava a retratar, as nuvens constituem um elemento essencial dos desígnios da cultura chinesa, simbolizando a interacção entre terra e esferas espirituais do céu, a energia vital (qi) criada pelas forças cósmicas de yin e yang .
Após o édito de 1724 que bania a religião cristã do império Manchu - sendo apenas autorizados os matemáticos e astrónomos da missão em Pequim, na única qualidade de servidores do Estado Chinês - o fervor anticristão e as leis imperiais foram transgredidas e continuaram a ser executadas peças decoradas com temas religiosos, provavelmente, porque o artesão chinês não teria consciência do caracter religioso de alguns temas destinados à Europa .
Cronologicamente este prato pertence à primeira das três séries clássicas fabricadas na China e dedicadas à Vida de Cristo – segundo quartel do século XVIII - em que na cercadura aparecem ramos de videira . A partir dos anos oitenta de setecentos o gosto europeu pela porcelana “grisaille” vai cair em desuso.
Muito embora os desenhos de Mesas de Banquete de Quinta-feira Santa (1667/8) para o Papa, da autoria de Pierre – Paul Sevin, estejam decoradas em certas épocas litúrgicas com figurinhas de cenas religiosas comestíveis em açúcar , cremos que nos países católicos não se utilizasse porcelana pintada com motivos da “Crucificação” durante as refeições. Justifica-se assim que este e outros pratos similares dispersos por colecções públicas e privadas se encontrem em excelente estado de conservação, com um uso provável limitado a exposição nas festividades religiosas.

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