Perfumador

Nº de referência da peça: 
C657

Potpourri vase
Portuguese faience “Desenho Miúdo”
Lisbon, 1660-1680
Height: 37,5 cm
Provenance: Private collection, Alcobaça
Pub.: "Lisboa na Origem da Chinoiserie", 2018, pp. 176-179
C657

Perfumador
Faiança portuguesa, “Desenho miúdo”
Lisboa, 1660-1680
Alt.: 37,5 cm
Proveniência: Colecção particular, Alcobaça
C657

Rare 17th century Portuguese faience potpourri vase of pierced and cut lid, sitting on a ringed, truncated cone foot. Wheel-thrown and moulded, the outer surfaces are wholly decorated in cobalt-blue and manganese-purple pigments on a tin-white enamelled ground.

The semi-spherical bowl decorative composition is defined by segmented horizontal bands, centred by a broad strip of four large and equidistant cartouches. In each cartouche a Chinese figure, either resting or meditating, crossing a bridge or eventually on a balcony or terrace. Two of the figures are bald and placed diametrically opposed, and alternate with two others wearing turbans. They are surrounded by delicately painted exotic “desenho miúdo” landscapes with buildings and vegetation, detailed in a denser cobalt-blue tone. Alternating with, and framing these cartouches a geometric netting pattern in two different sized patterns. This broad decorative strip is encased on the top by a double frieze, and supported on the base by two continuous bands, one wider of juxtaposed ruyi sceptre heads, and another and of radiating petal like patterns– a degeneration of Chinese ornamental banana leaves – separated by plain filleting. The same, albeit mirrored motifs will be repeated on the large convex ring uniting the bowl to the low, wide and prominent foot ringed by plain filleting. The flaring rim outer lip surface is encircled by a frieze of triple bead groups.
The large domed lid is sectioned in various concentric rings. The two wider ones, isolated by a narrow band of alternating three bead groups, are composed of zigzagging and triangular stems, filled by manganese spirals on a bluish ground, forming an interesting cut-out pattern of arrows and triangles. A strip of radiating petals connects to the tightly strangulated neck from which emerges the large, rounded knob shaped pierced handle, decorated in manganese spirals, in a similar pattern to the bowl.
The only known example in such typology, this magnificent potpourri vase stands out for its original mixing of various decorative motifs that fill the whole surface in a characteristic, almost obsessive, horror vacui.
Of well-known European design, the typology alludes to China, where potpourri vases were used to fragrance the environments as early as the Xia, Shang and Zhou dynasties (21st to 12th centuries B.C.), and later adapted by Buddhist purification rituals.
The oriental influence however, is not restricted to the function. The decorative grammar is charged with Chinese decorative motifs – miniature like and graphically related to “desenho miúdo” at this stage of Portuguese faience production - which frequently appear in association to other innovative objects and extravagant shapes unseen in earlier periods.

The cartouche decoration of Buddhist monks could, in its original prototype, represent the history of Xuanzang, as narrated in the Chronicles of the Three Kingdoms, albeit in this instance replicated naively by the potter artist who, unaware of its symbolic meaning, reinterprets it in under his own creative perception.
Xuanzang was a Buddhist monk that went in pilgrimage to India in order to recover the Buddhist sutra (texts) that would protect the Emperor against the malignant spirits haunting him. On crossing a bridge, freeing himself from his own body he reached immortality.
In the Museu Nacional de Arte Antiga, there is a tureen of similarly shaped lid, albeit smaller (inv. 2415-CER), that was acquired at the sale of the Count of Ameal collection.

Note: this piece has evidence of an old restoration

--

Raro e invulgar perfumador esférico, de tampa vazada e taça assente em anel saliente sobre base troncocónica larga, rodado e modelado, em faiança portuguesa da segunda metade do século XVII, inteiramente decorado a azul-cobalto e roxo de manganés sobre esmalte estanífero branco. Interior desadornado.
A taça, em forma semiesférica e de bordo revirado, apresenta decoração segmentada em faixas horizontais, centrada numa banda larga no bojo, com quatro reservas ovaladas semelhantes e equidistantes.
Estes quadros retratam figuras chinesas, que poderão estar sentadas a repousar ou em meditação, a travessar uma ponte ou eventualmente num varandim. Duas das figuras são calvas, diametralmente opostas e alternam com outras de turbante. Estão envolvidas por paisagem em planos diversos, com edifícios e plantas exóticas de “desenho miúdo”, graciosamente pintados e com expressivos apontamentos de azuis mais densos.
Separam as reservas uma malha de reticulados geométricos, de dois modelos alternados, simulando grelhas perspetivadas, que preenchem os espaços intermédios.
A banda ornamental do bojo está limitada por duplo friso e termina em duas faixas contiguas, a mais larga com cabeças de ceptros de ruyi justapostas, e a outra, com pétalas radiais – uma degenerescência das folhas de bananeira da gramatica ornamental chinesa - separadas por filetes desadornados. Os mesmos motivos, em espelho, vão constituir a decoração do anel convexo, que une a taça à base, sendo esta - larga, baixa e proeminente - rematada por filetes lisos. O bordo, revirado, está percorrido por um friso de grupos de três contas, na face inferior.
A tampa, de aba revirada para o exterior, está dividida em vários anéis concêntricos e diferenciados. Os dois mais largos são constituídos por hastes em zig-zag e triangulares, preenchidas com espirais pintadas a manganés sobre fundo azulado, desenhando um curioso padrão vazado de setas e triângulos. A separá-los, anel decorado por grupos de três contas dispostos alternadamente, limitado por duplo filete. Um anel de pétalas radiais serve de ligação ao colo, estrangulado, que liga a tampa à pega, em forma de pomo. Esta está envolvida por filetes lisos e é vazada, decorada com espirais a manganês, seguindo o mesmo padrão da taça. A aba diferencia-se através de um friso preenchido por grupos contínuos de três contas.
Exemplar único conhecido com esta tipologia, este magnífico e aparatoso perfumador destaca-se pela original combinação de diversas decorações usadas na faiança portuguesa da época, ocupando de forma quase obsessiva as superfícies disponíveis, num característico horror vacui.
Embora a forma seja ocidental, a tipologia do objecto remete para a China, onde os perfumadores eram usados para fins aromáticos já nas dinastias Xia, Shang e Zhou, (XXI a XII a.C.), e posteriormente adaptados aos rituais budistas e de purificação.
A influência oriental, não se limita à função. A decoração está carregada de motivos da gramática ornamental chinesa – miniaturais e com a expressão gráfica habitual do “desenho miúdo”, nesta fase avançada da faiança portuguesa seiscentista – e que, com frequência, aparecem associados a objetos de formas inovadoras e aparatosas, inéditas em relação aos períodos anteriores.
A decoração das reservas, com figuras de monges budistas poderia, na origem, representar a história de Xuanzang narrada na Crónica dos Três Reinos, reproduzida de forma ingénua pelo artista que, desconhecendo a carga simbólica que transportava, a reproduz com a sua criatividade decorativa.
Xuanzang era um monge budista que partiu para a India em peregrinação, para recuperar os escritos (sutras) budistas, com a finalidade de proteger o Imperador contra os espíritos malignos que o assombravam. Ao atravessar uma ponte, libertando-se do seu corpo, atingiu a imortalidade.
Existe uma terrina com tampa de formato idêntico, embora de menor altura (alt.: 31 cm) no acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (inv. nº2415 Cer), adquirida no leilão da colecção do Conde de Ameal)
Nota: Esta peça apresenta um restauro antigo.

  • Arte de Fusão

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.