Par de Terrinas
A PAIR OF BOAR HEAD SHAPED TUREENS
Moulded faience
Portugal, “Real Fábrica do Rato”, Tomás Brunetto period (1767 – 1771)
Dim.: 26.0 x 36.0 x 27.0 cm
Stamped: F.R. TB.
PAR DE TERRINAS CABEÇAS DE JAVALI
Faiança moldada
Portugal, Real Fabrica do Rato, Período Tomás Brunetto (1767 – 1771)
Dim.: 26,0 x 36,0 x 27,0 cm
Estampilha: F.R. TB.
A pair of boar head shaped faience tureens, decorated in cobalt blue and manganese oxide pigments on a tin white enamelled surface (A). The tureens cover corresponds to the upper section of the boars’ heads and feature the semi-perked up ears, and oval shaped milky white coloured eyes of manganese brown irises, surrounded by a watery shade of blue (A).
From the base container stands out the animal’s blue shaded snout (A), as well as the mouth of visible teeth, from which emerge a pair of large, white enamelled, protruding tusks. The deep nostrils, closed and circular, are white.
The monogrammed marks “F.R. TB”, corresponding to the Fábrica do Rato production under the directorship of Tomás Brunetto, are clearly visible on the underside of the cover in (A) and in the container interior in (B).
Following from the devastating earthquake and tsunami that struck Lisbon in 1755, the city’s reconstruction had become a practical exercise in the implementation of the Enlightenment ideals, which were evidenced by the extensive reforms imposed by the Kingdom’s chief minister, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquess of Pombal (1699-1782). It was also Pombal’s decision to establish this ceramic manufacture in Lisbon, with the purpose of “competing with the best European productions” and, therefore, to restrain the importing of luxury goods from abroad.
Tomás Brunetto, the Italian master whose name features in these tureens, presided over the creation of this royal enterprise in 1767, leading its artistic development for a period of approximately 5 years. The “Fábrica do Rato” would play a major role in Portuguese ceramic production, becoming a milestone for the artistic tendencies it embraced and developed, as well as for the number of craftsmen that it trained and employed. It was the first manufacture established under State patronage, joining the existing Silk Factory acquired by the crown in 1750.
Brunetto imprinted a very personal character to the creations that he supervised, his “factory” project resulting in the development of modern processes that reflected the earliest attempts at industrialization in its field . As such, his leadership embodied one of the highest and brightest moments in Portuguese ceramic production. In technological terms, the decision of increasing the use of plaster moulds enabled the manufacturing of a wider variety of three-dimensional objects, as well as securing a serial production. However, despite the undeniable higher quality of the clays, glazes and pigments used, the ornamentation remained close to the traditional faience techniques of high fired colours fixed in a second firing.
The various typologies of both utilitarian and luxury objects produced under Brunetto demonstrate an evident creative experimentation of formats and decorations, which followed those of the major contemporary European faience and porcelain productions, and of the eastern porcelain exporters, such as China and Japan. From these diverse influences emerged a variety of objects characterised by modern international tastes. Nonetheless, the adoption of such foreign prototypes did not corrupt the factory’s production, from which consistently stands out the Portuguese matrix, imbued of emotive strength and creative interpretation.
From the various innovations introduced by Tomás Brunetto the “Louça de Fantasia” – the fancy wares of naturalistic iconography representing animals and vegetables to which belong our boar head tureens, is probably the most striking. They reflect a model introduced between 1748 and 1753 by Paul Antoine Hanning at the Strasburg Faience Factory, which became widespread throughout Europe and eventually copied in porcelain by the Chinese potters , the latter being perhaps the prototype that was replicated in Portugal.
The Marquess of Pombal was possibly the first patron to acquire Rato produced objects, taking onto himself to become an example for the whole Portuguese court. According to the manufactory’s inventories, a total of twelve boar heads, then referred as “pig heads”, were acquired from the Royal Ceramic Wares Factory between 1769-1770, amongst which is mentioned one purchased by the Marquess of Marialva and others by the Viscounts of Asseca .
Throughout the Middle Ages and the Renaissance Period the remains of hunted animals were used to adorn ceremonial tables. In the 18th century, due to changing dietary and ceremonial banqueting practices within the Portuguese aristocracy and wealthy bourgeoisie, this practice does eventually come to an end. Stews and pâtés prepared with meats and vegetables would then become fashionable, being served in exceptional faience sets that comprised of splendid zoomorphic tureens and other equally exuberant serving paraphernalia.
From amongst the most iconic examples of this period stand out the renowned and singular “pigs heads”, or boar tureens, by Tomás Brunetto. The displaying of such exuberant and theatrical objects on a dinner table conferred a joyful and unexpected visual impact that surely invited to the enjoyment of the delicacies held within.
Bibliography:
PAIS, Alexandre Nobre; MONTEIRO, João Pedro, HENRIQUES, Paulo, Real Fabrica de Louça ao Rato (Cat.), M.N.Az.; M.N.S.R., Lisboa e Porto, 2003.
MADUREIRA, Nuno Luís, “Informação e Gestão na Real Fábrica de Louça”, in PAIS, Alexandre Nobre; MONTEIRO, João Pedro; HENRIQUES, Real Fabrica de Louça ao Rato (Cat.), M.N.Az.; M.N.S.R., Lisboa e Porto, 2003.
PINTO DE MATOS, Maria Antónia, Cerâmica da China. Colecção RA, Jorge Welsh Books – Publishers and Booksellers, London, 2011.
QUEIRÓS, José, Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, Editorial Presença, Barcarena, 2002 (4ª edição).
Par de terrinas em faiança moldada em forma de cabeça de javali, com esmalte estanífero branco, decoradas a óxido de manganês e azul-cobalto (A).
A tampa constitui a parte superior da terrina e da cabeça do animal. Tem orelhas triangulares, levemente levantadas e olhos de formato oval, em esmalte branco lácteo com a íris a castanho manganês, rodeados de aguada azul (A).
No contentor sobressai boca semicerrada com par de dentes caninos proeminentes em esmalte estanífero branco e focinho levemente azulado em (A). As narinas profundas, hermeticamente fechadas e circulares, mantiveram-se em branco estanífero.
As marcas (F.R. TB), indicadoras de “Fábrica do Rato” do período do mestre “Tomás Brunetto”, são completas e bem visíveis pintadas a azul no interior da tampa em (A) e no interior do contentor em (B).
Com a reconstrução de Lisboa, após a devastação do terramoto de 1755, Portugal tornara-se um exemplo prático do pensamento iluminista sob as Reformas Pombalinas. Coube ao futuro Marquês de Pombal – Sebastião José de Carvalho e Melo (1699 - 1782) - a iniciativa de criar esta manufactura cerâmica em Portugal “capaz de concorrer com as melhores produções europeias” e de suster a importação de bens sumptuários.
O artista que assina as peças, mestre italiano Tomás Brunetto, presidiu ao arranque da Real Fabrica de Louça ao Rato, em 1767, prolongando a sua direcção artística por cerca de cinco anos.
Esta oficina desempenhou um papel muito importante no panorama da cerâmica nacional, tornando-se num marco da produção de faiança, quer pelas tendências artísticas que desenvolveu, quer pelos artífices que aí trabalharam e se formaram. Foi a primeira que se estabeleceu por conta do Estado e se anexou à já existente “Fábrica das Sedas” , adquirida pela coroa portuguesa em 1750.
Brunetto imprimiu uma marca muito pessoal nas criações que lhe coube supervisionar. O seu projecto “de Fábrica” resultou na instalação de um pensamento moderno, com o primeiro esforço de industrialização nesta área . A ele se deve um dos momentos mais altos e importantes da produção de cerâmica portuguesa.
Tecnologicamente, a eleição de maior utilização de moldes em gesso , veio permitir um elenco mais alargado de formas e relevos, garantindo-se uma produção seriada. Apesar de ser exigida maior qualidade nas pastas, vidrados e tintas, a decoração manteve os procedimentos tradicionais da faiança, com cores de “alto fogo” definidas em segunda cozedura.
As diferentes tipologias de objectos utilitários ou sumptuários, que a fábrica do Rato produziu sob as coordenadas deste mestre, demonstram uma notória e criativa experimentação de formas e decorações seguindo, quer às grandes manufacturas de faiança e de porcelana europeias contemporâneas, quer aos grandes produtores e exportadores de porcelana oriental, como a China e o Japão.
Desta diversidade de influências resultou uma variedade de propostas de gosto internacional moderno. No entanto, a adopção de certos modelos estrangeiros não desvirtuou a produção, onde sobressai constantemente a matriz portuguesa, imbuída de uma força emotiva extraordinária e grande liberdade interpretativa.
De entre as grandes novidades introduzidas por Brunetto sobressai a nível de formas, a denominada “Louça de Fantasia” de iconografia naturalista, em especial animais e legumes, das quais fazem parte estas terrinas de cabeças de javali. Provavelmente terão sido uma inovação de Paul Antoine Hannong para a Fábrica de Faiança de Estrasburgo, entre 1748 e 1754, posteriormente disseminadas pela Europa e copiadas em porcelana na China , podendo ter sido esta última, a influência directa em território nacional.
O Marquês de Pombal deverá ter sido a primeira pessoa a adquirir as peças do Rato, constituindo-se como exemplo para toda a Corte. Nos arrolamentos, entre 1769 e 1770 terão sido adquiridas à Real Fábrica de Louça doze cabeças de Javali (na época denominadas de “cabeças de porco”), entre as quais vigorava a compra de um exemplar pelo Marquês de Marialva e outros pelos Viscondes de Asseca .
Durante a Idade Média e o Renascimento, todos os restos de animais caçados adornavam as mesas cerimoniais. No século XVIII, com a alteração de alguns hábitos alimentares da burguesia e aristocracia portuguesas, poe-se fim a essa prática. Surge a moda de ensopados e patês – preparados com pedaços de carne e vegetais – em magníficos conjuntos de faiança, elegendo terrinas zoomórficas como alguns dos seus contentores.
De entre os exemplos icónicos deste período, sobressaem as famosas e singulares terrinas de “cabeça de Porco” ou Javali do mestre Brunetto. A presença destas exuberantes e teatrais peças sobre a mesa conferiam um prazenteiro impacto visual, que convidava à participação degustativa dos manjares que continham no seu interior.
Bibliografia:
PAIS, Alexandre Nobre; MONTEIRO, João Pedro, HENRIQUES, Paulo, Real Fabrica de Louça ao Rato (Cat.), M.N.Az.; M.N.S.R., Lisboa e Porto, 2003.
MADUREIRA, Nuno Luís, “Informação e Gestão na Real Fábrica de Louça”, in PAIS, Alexandre Nobre; MONTEIRO, João Pedro; HENRIQUES, Real Fabrica de Louça ao Rato (Cat.), M.N.Az.; M.N.S.R., Lisboa e Porto, 2003.
PINTO DE MATOS, Maria Antónia, Cerâmica da China. Colecção RA, Jorge Welsh Books – Publishers and Booksellers, Londres, 2011.
QUEIRÓS, José, Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, Editorial Presença, Barcarena, 2002 (4ª edição).
- Arte Portuguesa e Europeia
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