Par de pratos “Albuquerque”

Nº de referência da peça: 
C714 a/b

Par de pratos de grandes dimensões marcados “Albuquerque”
Faiança portuguesa, Desenho Miúdo
Lisboa, 1660 – 1680
Diâm.: 39.0 cm

A Pair of large shallow plates marked “Albuquerque”
Portuguese faience “Desenho Miúdo”
Lisbon, 1660 – 1680
Diam.: 39.0 cm

Raríssimo par de pratos de grandes dimensões em faiança portuguesa, com covo pouco acentuado e aba levantada, estando identificados na base como pertencentes à família Albuquerque. A decoração a azul-cobalto e vinoso de manganês está aplicada sob esmalte estanífero branco, num minucioso padrão decorativo designado por “Desenho Miúdo”.

A decoração central, de marcado cariz oriental, chama-nos a atenção num dos pratos pela representação de uma figura masculina nua, perseguida por um grande lagarto, e segurando nas mãos pedras para defesa, enquanto no outro se representa uma varanda com guanine, uma criança e um gamo estilizado que se pavoneia em equilíbrio sobre as duas patas esquerdas, cercados por profusa composição vegetalista e fortificações. Ambas as cenas estão circundadas por “orlas das três contas” encerradas entre dois filetes a azul.
As abas, preenchidas por paisagens orientalizantes, com árvores, flores, folhas e plumas, alternam construções fortificadas com faisões, num dos pratos, e edifícios estilizados com aves pernaltas, possivelmente garças brancas, no outro, numa composição em detalhada figuração, mas perfeitamente inserida no tema decorativo. No verso, cinco motivos vegetalistas estilizados e equidistantes e a marca de posse ALBVQVERQVE em roxo de manganês.

Há a realçar que, neste contexto, a iconografia de forte valor simbólico característica da porcelana importada da China, metamorfoseia-se, ao ser reinterpretada pelos oleiros Portugueses para aplicação nas várias tipologias faiança produzidas nas oficinas de Lisboa, em elementos meramente decorativos, desprovidos do seu significado original, devido ao desconhecimento do seu caracter alegórico original.

A faiança do período definido por “Desenho Miúdo” caracteriza-se pela grande qualidade da manufatura, em motivos de pintura gráfica e nervosa contornada a vinoso de manganês, que preenchem o espaço num evidente horror vacui. Aqui, a liberdade criativa é privilegiada, conduzindo a uma cerâmica hibrida mas original.

A hegemonia portuguesa no fabrico e fornecimento de faiança de alta qualidade para as classes abastadas da Europa durante a primeira metade de seiscentos, entrou em declínio a partir de meados do século com o início da produção Holandesa de Delft que chegava ao consumidor a custo inferior. Efetivamente, quer o transporte quer a distribuição da louça portuguesa eram feitos por via marítima, essencialmente por mercadores judeus baseados na Europa do Norte, fator que encarecia consideravelmente o seu preço.

Deste modo, o “Desenho Miúdo” e o uso do roxo de manganês correspondem a uma última tentativa dos oleiros portugueses, de competirem com as oficinas de Delft que, a partir de 1660, aumentaram exponencialmente a sua produção, desviando assim grande parte da clientela que antes se abastecia nas oficinas de Lisboa.
Segundo Alexandre Pais, esta produção, que se situou entre 1660 e 1680, seria aparentemente circunscrita a umas poucas olarias que mantiveram um fabrico de grande qualidade, aproximando-se das manufaturas de Delft e da francesa Nevers. No entanto Lisboa mudara, tendo-se entretanto independentizado do domínio espanhol e mergulhado numa grave crise financeira, o que causara uma redução drástica das encomendas cerâmicas nacionais de grande qualidade. Numa tentativa de sobrevivência, as olarias irão focar-se na produção de objetos simples de uso quotidiano em detrimento das grandes peças de aparato que distinguiram, durante décadas, esta pioneira produção Portuguesa. Esta mudança conduzirá contudo, ao declínio e eventual encerramento de muitas delas.

--

An exceptionally large pair of Portuguese faience shallow plates of mildly raised lip, marked “Albuquerque” to the reverse, the family to whom they belonged, and characterized by a dense and detailed cobalt-blue and manganese purple decorative composition, known as “Desenho Miúdo”, painted onto a bright white tin glaze ground.

From one of the plates, both being of evident oriental appearance, stands out the central depiction of a nude male figure holding stones for self-defence, while being pursued by a large lizard. On the other plate, a guanine and a child on a balcony and a stylised fallow deer balanced on its left limbs, amongst profuse foliage decoration and fortifications. Both scenes are equally framed by “triple beading” bands, encased by two peripheral blue fillets. The plates’ lips are filled by compositions with trees, flowers, foliage and plumes, alternating fortified structures with pheasants, on one plate, and stylised architectural structures with long legged birds, possibly white cranes, on the other, in a structure of detailed figuration perfectly inserted within the decorative thematic. On the reverse, five stylised equidistant foliage motifs and the ownership mark “ALBVQVERQVE” in manganese purple.

In the present context it is also relevant to note that, on being reinterpreted by the Portuguese potters and reapplied onto the various typologies produced by the Lisbon workshops, the highly symbolic iconography characteristic of Chinese imported porcelain, metamorphoses into merely decorative elements, devoid of their original meaning due to the unfamiliarity with their allegorical character.

Faience dating from the period known as “Desenho Miúdo” is characterised by the very high quality of manufacture, in motifs of graphic and nervous trace outlined in manganese purple, that fill the whole surface space in evident horror vacui. In it, creative freedom is blatantly privileged, leading to a type of hybrid, yet original, faience.

Portuguese supremacy in the production and supplying of these high quality wares to wealthy European patrons during the first half of the 1600s, will however decline from the middle of the century onwards, with the onset of the Dutch Delft production, which reached consumers at considerably lower cost. Effectively, both the transporting and distribution of the Portuguese wares were made by sea, often by Jewish merchants based in Northern Europe, a factor that impacted considerably their final cost.

As such, the “Desenho Miúdo” and the introduction of the manganese purple pigment, reflect a last attempt by the Portuguese potters at competing with the Delft workshops which, from 1660, increased exponentially their production, thus diverting considerable numbers of the clientele that had previously bought from Lisbon.

According to Alexandre Pais, this production, wedged between 1660 and 1680, was apparently restricted to a small number of workshops that maintained a high quality that was close to both the Delft and the French Nevers manufactures. Lisbon had however changed, becoming independent from Spanish crown domination and subsequently diving into a serious economic crises that caused a drastic reduction in the consumption of high quality Portuguese made wares. In an attempt at survival, potteries focused on the production of utilitarian daily use objects, in detriment of the exceptional display pieces that had, for decades, been the trademark of this pioneering manufacture. This change will nonetheless mark the decline and eventual closure of many of the Lisbon workshops.

  • Arte Portuguesa e Europeia
  • Azulejos e Faianças

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.