Menino Jesus Salvador do Mundo

Nº de referência da peça: 
F1182

Baby Jesus Salvator Mundi
Polychrome and parcel-gilt ivory
Sinhalese-Portuguese, early-17th century
Height: 42,0 cm
Prov.: Pedro Carvalho and A.P.T., Lisbon

Marfim entalhado, com policromia e douramento
Cingalo-português, séc. XVII (inícios)
Alt.: 42,0 cm
Prov.: Pedro Carvalho and A.P.T., Lisboa

A partially painted and gilt elephant ivory sculpture of the Child Christ as Salvator Mundi, standing on a large orb, symbolising sovereignty over the world. The figure raises His right hand in blessing, while holding in the left, a later silver long staff cross.
On account of its iconography and stylistic features, the present figure belongs to a second, well defined group of Ceylonese ivory carvings conceived for private Christian devotion, being a particularly fine Mannerist example. It incorporates some of the most important features of this imagery: an egg-shaped globe, which contrary to other more common examples, is carved separately from the figure – a characteristic of later Goan devotional carvings, and a clenched left fist for holding a staff cross.
Albeit carved in two sections, and apart from the typically Ceylonese rendition of the Child’s face, ears and Buddha-like hair curls, the figure’s origin is unmistakable on the basis of the rare engraved orb decoration: bands of waved foliage scroll motifs, carved in deep low relief and coated in gold leaf, a type of decorative detail which, even though unknown in surviving devotional ivory sculptures, is present on some rare ivory caskets from Ceylon intended for the Portuguese court. Such is the case of a recently published casket dating to the second-half of the 16th century, one other, possibly from the same workshop, in the Távora Sequeira Pinto collection in Oporto, and a box at the Victoria and Albert Museum, London (inv. 205-1879).
Curiously the Child’s hair was gilded using shell gold (ground gold particles suspended in a liquid medium), rather than gold leaf, a technique seen on Buddhist imagery surfaces when a matte surface was intended.
The long-lasting impression left by devotional Ceylonese ivory carvings made for the Portuguese market, was recorded first-hand by Jan Huygen van Linschoten (1563-1611), author of the famous Itinerario published in 1596. While in Goa, in the service of the Portuguese archbishop Vicente Fonseca, the author refers to a Crucified Christ ivory sculpture about forty-five centimetres long, that had been offered to the prelate, as having been produced in such excellent and diligent way that his hair, beard, and face seemed as natural as if that of a living person, and so finely carved, with limbs so well proportioned, that one would fail to see similar pieces made in Europe.
Stemming from an ivory carving tradition promptly exploited by the Portuguese, whether missionaries willing to commission the imagery necessary for the indoctrination of new converts, or state officials in the Portuguese State of India, the production of Catholic cult figures in Ceylon achieved huge fame and prestige all over Asia, having been the starting point and dissemination centre for an industry that, once the island was lost to the Dutch in 1658, was most likely transferred to Goa.

Uma figura de pé Menino Jesus Salvador do Mundo (Salvator Mundi) delicadamente entalhada em marfim de elefante parcialmente pintado e dourado, sobre um orbe, simbolizando a soberania sobre o mundo inteiro.
Sobre o orbe, o Menino faz o sinal da bênção com a mão direita, enquanto agarra com a esquerda o que seria na origem uma vara crucífera de prata ou ouro.
Dada a sua iconografia e características estilísticas, a presente estatueta pertence a um bem definido segundo grupo de obras em marfim entalhado destinadas à devoção íntima cristã, do qual esta é um belo exemplo maneirista.
Apresenta as características mais importantes dessa imaginária: o globo em forma de ovo sob os pés do Menino, ao contrário do que é mais usual, é esculpido não na mesma presa de marfim que o resto da imagem mas em duas secções - característica que verificamos nos marfins devocionais produzidos mais tarde em Goa -, e a figura é representada com o punho esquerdo vazio, destinado a segurar uma vara crucífera em metal precioso.
Embora produzido a partir de duas partes distintas, a indesmentível origem cingalesa desta peça, para além da típica representação do rosto, orelhas e o cabelo de carácter búdico do Menino, é também evidente na rara decoração gravada do orbe: tarjas de motivos vegetalistas ondulantes entalhados em muito baixo relevo e cobertos de folha de ouro, um tipo de decoração que, sendo único quanto aos marfins devocionais remanescentes, pode ser encontrado nalguns preciosos cofres de marfim produzidos no Ceilão em número reduzido e na maioria destinados à corte régia portuguesa.
Frisos gravados em tudo semelhantes podemos encontrar, por exemplo, num recém-publicado cofre de marfim da segunda metade do século XVI, noutro cofre, provavelmente da mesma oficina, da colecção Távora Sequeira Pinto, Porto, e numa caixa do Victoria and Albert Museum, Londres (inv. 205-1879).
Um aspecto curioso da presente figura é o uso de ouro em pó (produzido com partículas de ouro em suspensão num meio líquido) para a decoração do cabelo do Menino, normalmente dourado a folha, uma técnica que, no entanto, era de uso corrente no douramento de imaginária budista quando se pretendia uma superfície mate.
O impacto duradouro deixado pelas esculturas devocionais de marfim feitas no Ceilão para os portugueses foi testemunhado em primeira mão por Jan Huygen van Linschoten (1563-1611), o autor do famoso Itinerario publicado em 1596.
Enquanto Linschoten esteve ao serviço do arcebispo luso Vicente Fonseca, em Goa, recebeu o prelado a oferta de uma escultura de marfim do Cristo Crucificado com cerca de quarenta e cinco centímetros de comprimento, que o autor descreve como tendo sido produzido de maneira tão excelente e diligente que o seu cabelo, barba e rosto pareciam tão naturais como se fossem de um ser vivo, e tão finamente entalhado, com membros tão bem proporcionados que não lograria ver peças semelhantes feitas na Europa.

Decorrente de uma tradição de entalhe do marfim prontamente aproveitada pelos portugueses, seja por missionários empenhados em encomendar imagens de que tão desesperadamente precisavam para a doutrinação dos novos convertidos, ou até mesmo por oficiais de corte do Estado Português da Índia, a produção de imagens católicas no Ceilão alcançou enorme fama e prestígio em toda a Ásia, tendo sido o ponto de partida e centro de divulgação de uma indústria que, após a perda da ilha para os holandeses em 1658, provavelmente se trasladou para Goa.

Hugo Miguel Crespo

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