Leque da Princesa Imperial D. Januária de Bragança

Nº de referência da peça: 
F1398

Imperial Princess D. Januária de Bragança Folding Fan
Paper, silk, mother-of-pearl, gouache, gold and pearls
France, 2nd half 19th century (1861? 1874?)
Signed Adolphe d’Hastrel (1804 - 1875)
Diam.: 28.0 cm

Provenance: Imperial Princess of Brazil, D. Januária de Bragança (Rio de Janeiro, 1822 - Nice, 1901); private collection, Portugal

Papel, seda, madrepérola, guache, ouro e pérolas
França, segunda metade do século XIX (1861? 1874?).
Assinado Adolphe d’Hastrel (1804 - 1875)
Diam.: 28,0 cm

Proveniência: Princesa Imperial do Brasil, D. Januária de Bragança (Rio de Janeiro, 1822 - Nice, 1901); colecção particular, Portugal.

A double-leaf pleated fan (double-entente) crafted from paper and silk, featuring a polychrome gouache painting with a landscape of Rio de Janeiro, overlooking the bay and Corcovado with a special focus on Morro and Igreja da Glória and, on the reverse the JL monogram and the Brazilian imperial crown from the Second Empire.
Frame with 18 sticks in filigreed mother-of-pearl with gold applications, with floral and plant motifs and a rivet topped with two pearls. The guards, also in mother-of-pearl, are finely decorated with flowers and pearls.
The painter's autograph signature, "Ad. D'Hastrel," is visible on the right side, in the background. The signature marks the work of Étiene Adolphe de Hastrel de Rivedoux (b. Newiller-lès-Saverne, Alsace, Oct. 4, 1805, d. Paris, July 1, 1874), a renowned French artist.
Adolphe d’Hastrel, painter, watercolourist, lithographer, and musician, was an artillery officer in the French navy, allowing him to embark on journeys to diverse locations in the Mediterranean, North Africa, and South America.
In the years 1840/41, he made a significant sojourn in Rio de Janeiro, where he frequented the imperial court’s circle. He formed a close connection with the Prince of Joinville, D. Francisco de Orleães, husband of Princess D. Francisca de Bragança , Imperial Highness of Brazil, Infanta of Portugal and Royal Princess of France, daughter of D. Pedro I and D. Leopoldina of Austria, emperors of Brazil, with whom he maintained contact in Paris, during their exile.
He drew landscapes of the city's most iconic places, highlighting the bay, the port, Corcovado, Morro, Igreja da Glória and, Santa Teresa, among others.
His views of various cities (Les Sables-d'Olonne and La Rochelle, Île Bourbon, the French colony of Senegal, Argentina and Mar del Plata, the Philippines, and Rio de Janeiro, for example), lithographs and watercolours are reproduced and referenced in Art History books and specialized dictionaries.
Among the albums published in France and England, around 1847 or 1848, he published the very rare, Rio de Janeiro ou Souvenirs du Brésil, dessinés d'aprés nature et dediés a S.A.R. Madame la princeses de Joinville par Adolph d'Hastrel, Paris , comprised of ten numbered lithographs and a fold-out panorama of the city, of great iconographic insight.
The scenery depicted on the fan does not align with any featured in the previously mentioned album, nor is any lithograph of it known. Hence, it is presumed to be an unpublished view of Rio de Janeiro in the 1840s, during Hastrel's residence in the city, and coinciding with the completion of the artwork dedicated to D. Januária de Bragança. It is, therefore, a unique image of considerable symbolic and iconographic significance.
On the fan guards, the artist also depicts a detail of a white dove with outstretched wings, a quiver holding arrows, a tambourine, and a musical score, all enveloped by olive branches and palms. It is a distinct symbol of Athena's ideals, the triumph of justice over warfare and the paramount virtue of peace. It seems to draw a connection to the Italian unification, alluding to the conquest and annexation of the Kingdom of the Two Sicilies from the Royal House of Bourbons. Princess Januária and D. Francisco sought exile in Paris, then.
The date of these events is expressed on the fan, in the left quadrant: 1861, which underscores the importance of the artistic object beyond its role as a bearer of aesthetic elegance tied to costume and social decorum.

On the reverse, the silk leaf is adorned with botanical motifs, portraying olive leaves and olives, topped by the imperial crown of Brazil (Second Empire) and the monogram "JL." This is the sign of belonging of D. Januária de Bragança , the imperial princess of Brazil and heir to the throne, during the period of her Brother Pedro II's minority between 1835 and 1845.
The letter J corresponds to Januária, and the letter L represents her husband, D. Luís Carlos de Bourbon-Two Sicilies, the Count of Áquila and Royal Prince of the Two Sicilies.
The “Princess of Independence”, as she was referred to, having been born in Rio de Janeiro in 1822, the year of Brazil's independence, was the daughter of D. Pedro I, the first emperor of Brazil and his wife, D. Leopoldina da Austria, and sister to D. Maria da Glória, queen of Portugal.
From October 30, 1835, to February 23, 1845, she held the title of imperial princess of Brazil and served as the presumptive heir to the throne until the birth of her Brother Pedro's son, the second emperor of Brazil. Due to complex political circumstances, the couple had to settle in Europe, between Naples, Paris and London, refraining from returning to Brazilian soil. The siblings and their consorts, would only reunite thirty years later during a visit to Queen Victoria of England.
Due to its formal, iconographic and symbolic characteristics, the fan stands as an object of immense historical and heritage significance.
MAA

Bibliografy :
BERALDI, Henri, Les graveurs du XIX siècle : guide de l'amateur d'estampes modernes, L. Conquet, 1889, p. 63 (réédité en fac simile en 1981, par LAME, Nogent-le-Roi).
BRAGANÇA, D. Carlos de Saxe-Coburgo, Dona Januária, a Princesa da Independência: o Conde d’Áquila em Desavença com D. Pedro II e a Luta contra Garibaldi, São Paulo, Ed. Senac, 2022.
HART, Avril; TAYLOR Hart, Fans, Victoria and Albert Museum. Fashion Acessories, 1998.
HASTREL, Adolphe, “Rio de Janeiro ou Souvenirs du Brésil, d’après nature et dediés a S.A.R. Madame la Princesse de Joinville”. Paris, F. Delarme, Rue J.Rousseau, 10; London, Gambart, J. & Co. 25 Berners St. Oxford S. Imp. De Auguste Bry, rue de Bat, 134 [n.d. (1847 ?)].
HORCH, Rosemarie E., Álbuns do Rio de Janeiro Existentes no IEB, U. de São Paulo, Revista do I. de Estudos Brasileiros, (5), 145-6. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i5p145-176
PINTO, Paulo F. de Campos, O Leque de Folha Dobrada em Portugal, do século XVI ao século XX. Leques Comemorativos Portugueses, Master's Dissertation in Art History, Lisbon, U. Lusíada, 2002.

--

Leque plissado de folha dupla em papel e seda, com pintura polícroma a guache, com paisagem do Rio de Janeiro, vendo-se a baía e o Pão de Açucar, com destaque para o Morro e Igreja da Glória, no verso e com o monograma JL e coroa imperial brasileira (Segundo Império), no reverso.
Armação com colo de 18 varetas em madrepérola filigranada com aplicações em ouro, com motivos florais e vegetalistas e rebite rematado com duas pérolas. As guardas, também em madrepérola finamente decoradas com flores e pérolas.
A assinatura autógrafa do pintor é visível no lado direito, ao fundo, como “Ad. D´Hastrel”. Trata-se de Étiene Adolphe de Hastrel de Rivedoux (n. Newiller-lès-Saverne, Alsácia, 4 out. 1805, m. Paris, 1 julho 1874), um renomado artista francês.
Adolphe d’Hastrel, pintor, aguarelista, litógrafo e músico, foi oficial de artilharia da marinha francesa, ao serviço da qual viajou por vários lugares do Mediterrâneo, Norte de África e América do Sul.
Nos anos de 1840/ 41 fez uma larga escala no Rio de Janeiro, onde frequentou o círculo da corte imperial. Conviveu de perto com o Príncipe de Joinville, Francisco de Orleães, marido da Princesa Dona Francisca de Bragança , Alteza Imperial do Brasil, Infanta de Portugal e Princesa Real de França, filha de D. Pedro I e de Dona Leopoldina de Áustria, imperadores do Brasil, com quem manteve contacto em Paris, no exílio dos príncipes.
Desenhou ao vivo paisagens dos locais mais icónicos da cidade, com destaque para a baía, o porto, o Corcovado, o Morro e Igreja da Glória, Santa Teresa, entre outras.
As suas vistas de cidades (Les Sables-d’Olone et la Rochelle, I’Ile Borbóun, colónia francesa do Senegal, Argentina e Mar da Prata, Filipinas e Rio de Janeiro, por exemplo), litografias e aguarelas, estão reproduzidas e referenciadas em livros de História de Arte e dicionários da especialidade.
Entre os álbuns publicados em França e Inglaterra, cerca de 1847 ou 1848, editou o raríssimo, Rio de Janeiro ou Souvenirs du Brésil, dessinés d’aprés nature et dediés a S.A.R. Madame la princeses de Joinville par Adolph d´Hastrel, Paris , constituído por dez litografias numeradas e um panorama da cidade, desdobrável, de grande valor iconográfico.
A paisagem pintada no leque não corresponde a nenhuma que tenha sido publicada no referido álbum, nem se conhece nenhuma litografia da mesma. Considera-se, assim, que é uma vista inédita do Rio de Janeiro dos anos 40 do século XIX, época em que Hastrel aí residiu e que terá finalizado para esta peça dedicada a Dona Januária de Bragança. Trata-se, portanto, de uma imagem única, com alto valor simbólico e iconográfico.
Nas guardas do leque, o artista ainda pinta um pormenor formado por uma pomba branca de asas abertas, uma aljava com flechas, um pandeiro e uma pauta, rodeados por ramagens de oliveira e palmas. Trata-se de uma simbologia clara dos valores de Atena, da vitória da justiça sobre a guerra, e do bem supremo da paz. Deve tratar-se de uma referência à unificação italiana, com a conquista e anexação do Reino das Duas Sicílias, da Real Casa dos Bourbons. Os príncipes Januária e Luís exilaram-se, então, em Paris.
A data destes acontecimentos está expressa no leque, no quadrante esquerdo: 1861, o que releva, também a importância deste objecto artístico, para além da sua função de elegância estética aliada ao traje e aparato social.

O reverso, em folha de seda, está decorado com motivos vegetalistas, representando folhas de oliveira e azeitonas, encimado pela coroa imperial do Brasil (II Império) e o monograma JL. Trata-se do sinal de pertença de D. Januária de Bragança , princesa imperial do Brasil e herdeira ao trono, durante o período de menoridade de D. Pedro II, seu irmão, entre 1835 e 1845.
A letra J, correspondente a Januária, e a letra L, a seu marido, Luís Carlos de Bourbon-Duas Sicílias, Conde de Áquila e Príncipe Real das Duas Sicílias.
A “Princesa da Independência”, como é tratada, por ter nascido no Rio de Janeiro em 1822, ano da independência do Brasil, era a filha de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil e de sua mulher, Dona Leopoldina de Áustria, e irmã de Dona Maria da Glória, rainha de Portugal.
Foi princesa imperial do Brasil entre 30 de outubro de 1835 e 23 de fevereiro de 1845, e herdeira presumptiva ao trono até ao nascimento do filho varão de seu irmão D. Pedro, segundo imperador do Brasil. Por circunstâncias políticas complexas, o casal teve de se fixar na Europa, entre Nápoles, Paris e Londres, sem mais regressar a terras brasileiras. Os irmãos e respectivos consortes, só voltariam a reencontrar-se trinta anos mais tarde, numa visita à Rainha de Inglaterra, Dona Vitória.

Pelas suas características formais, iconográficas e simbólicas, o leque constitui-se como um objecto de grande valor histórico e patrimonial.

MAA
Bibliografia:
BERALDI, Henri, Les graveurs du XIX siècle : guide de l'amateur d'estampes modernes, L. Conquet, 1889, p. 63 (réédité en fac simile en 1981, par LAME, Nogent-le-Roi).
BRAGANÇA, D. Carlos de Saxe-Coburgo, Dona Januária, a Princesa da Independência: o Conde d’Áquila em Desavença com D. Pedro II e a Luta contra Garibaldi, São Paulo, Ed. Senac, 2022.
HART, Avril; TAYLOR Hart, Fans, Victoria and Albert Museum. Fashion Acessories, 1998.
HASTREL, Adolphe, “Rio de Janeiro ou Souvenirs du Brésil, d’après nature et dediés a S.A.R. Madame la Princesse de Joinville”. Paris, F. Delarme, Rue J.Rousseau, 10; London, Gambart, J. & Co. 25 Berners St. Oxford S. Imp. De Auguste Bry, rue de Bat, 134 [n.d. (1847 ?)].
HORCH, Rosemarie E., Álbuns do Rio de Janeiro Existentes no IEB, U. de São Paulo, Revista do I. de Estudos Brasileiros, (5), 145-6. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i5p145-176
PINTO, Paulo F. de Campos, O Leque de Folha Dobrada em Portugal, do século XVI ao século XX. Leques Comemorativos Portugueses, Dissertação de Mestrado em História de Arte, Lisboa, U. Lusíada, 2002.

  • Arte Portuguesa e Europeia
  • Diversos

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.