Estante de Missal

Nº de referência da peça: 
F1268

Madeira lacada de negro, decorada a ouro e prata, e embutidos de madrepérola; ferragens de cobre dourado
Japão, Períodos Momoyama a Edo, ca. 1580-1620
Dim.: 35,0 x 31,0 x 29,0 cm
Prov.: Gonçalo Silva, Espanha

A Namban Bible Stand (shokendai)
Wood, lacquer, mother-of-pearl, gold and gilt copper
Japan, Momoyama to Edo Period, ca. 1580-1620
Dim.: 35,0 x 31,0 x 29,0 cm
Prov.: Gonçalo Silva, Spain

The bible stand is formed by two lacquered articulated wooden sections and decorated with a golden composition of floral and foliage elements combined with an exuberant insignia of the Society of Jesus - a new religious order founded by Ignatius of Loyola in 1534 and officially recognized by the Pope Paul III in 1540.
The Jesuits were the first Christian missionaries in Japan, concentrating their action firstly on the Japanese elite and later on lower social classes, having converted, by end of the sixteenth century, more than 300,000 Japanese to Christianism. With the Portuguese arrival in the East and the intense missionary program that followed, a necessity to erect churches and produce locally objects used on the European context arose.
Furniture and other liturgical objects in lacquer with mother-of-pearl inlay, such as this lectern, were made by the hands of local artisans oriented by Portuguese masters following European prototypes yet using regional materials and techniques. These lecterns (shokendai) were commissioned by Jesuits missionaries to be used on devotional services to hold the sacred text. This specific type of portable folding lectern is related to Baroque carved wooden prototypes produced in Goa, albeit its articulated mechanism, formed by two crossed boards, follows well-known Islamic models. With a slight modification to the original Islamic lectern model, this adapted prototype allowed the bible to rest on an almost vertical position, as the Western book-rest form, in opposition to the horizontal position used for the reading of the Koran.
Made of Japanese cypress wood (Chamaecyparis obtusa) and coated with black lacquer (urushi-e), the lectern is richly decorated with gold and silver motifs (maki-e), as well with mother-of-pearl inlaid work (raden).
The large central medallion, composed of two rings, bears the “IHS”, the Jesuits’ monogram, and the symbols of Christ’s crucifixion. The outer ring is fully decorated with a marvelous mother-of-pearl inlaid work combined with golden and silver strips in a beautifully composition of sunrays, shining light to the Jesuits insignia.
This pattern consisted of inlaid work in the form of radiant beams can also be found on small namban boxes, resembling an open fan.
On the ground of the front panels, a profuse floral decoration takes place consisting of a Japanese cherry tree blossoms (sakura) on the superior panel, and a leaf pattern with orange-fruits on the lower panel. A decoration of scrolling wine with grapes, and a Japanese camellia (tsubaki) tree adorn the on the upper and lower back panel, accordingly.
The front panels are framed with an ornamental border of a scrolling and interlacing tendrils. Protecting the lectern, iron mountings with cherry trees engravings were added to the superior corners and feet.
Lecterns, such as the present example, were common to most Jesuit churches. As a result of the persecution of Christians under the leadership of Tokugawa Iemitsu (1623-1651), these objects are today extremely rare. This one of few example of the namban liturgical lacquers that have survived to the present day, illustrating the cross-cultural interaction between the East and the West in Japan during the Momoyama Period (1573-1615).
Similar examples can be seen at the Namban Bunkanan Museum in Osaka, the Arte Antiga National Museum in Lisbon, the Monasterio de las Descalzas Reales in Madrid, and the Peabody Essex Museum in Massachusetts.

Esta estante de missal (shokendai) fechando em tesoura, é formada a partir de dois elementos de madeira de recorte inferior polilobado lacados a negro (urushi) que funcionam como pés, e decorados a ouro e prata (maki-e) com embutidos de madrepérola (raden). A decoração é em tapete, com campos centrais de cariz floral emoldurados por finas cercaduras de friso de gavinhas Namban (karacusa). O elemento de maiores dimensões constitui o plano inclinado frontal e os pés dianteiros, sendo decorado na parte superior frontal pelo emblema dos Jesuítas, ostentando as letras sagradas “IHS”, sobrepujado por um cruz latina e tendo por baixo um coração (em madrepérola) atravessado pelos três cravos da crucificação, envolvidas por raios de sol, alternando ouro, prata e madrepérola, dentro de um grande círculo. O fundo restante é preenchido por bordos do Japão ou momizi (Acer palmatum) ladeando o emblema jesuítico. Os pés dianteiros são decorados por ramos de diospireiro ou kaki (Dyospirus kaki). O tardoz do plano inclinado frontal é decorado em cima com cachos de uvas, com folhas de videira e suas gavinhas, enquanto o dos pés não é decorado. O elemento de menores dimensões, é constituído pela cerneira e os pés traseiros, decorados com flores. As ferragens de cobre dourado, finamente cinzeladas com motivos florais sobre fundo puncionado conhecido por “ovas de peixe” (nanakoji), incluem as cantoneiras do plano inclinado frontal e as da cerneira, com um elemento central, na espessura da cerneira, em bem assim protecções para os pés dianteiros e traseiros. Todas as ferragens são decoradas com flores de cerejeira do Japão ou sakura (Prunus sp.).
A refinada decoração a ouro e prata aplicada nesta estante de missal, conhecida por maki-e, literalmente “pintura polvilhada”, era comum no período Momoyama (1568-1600) no Japão, e também nos inícios do período Edo que se lhe seguiu. É neste período e contexto de mútua aculturação que surge um tipo especial de laca para exportação combinando embutidos de madrepérola com um tipo de decoração conhecida por hiramaki-e, a que se chama nanban makie ou nanban shitsugei. Namban, ou Nanban-jin (literalmente, “Bárbaro do Sul”) é um termo japonês derivado do chinês que se refere aos mercadores, missionários e marinheiros portugueses e espanhóis que aportaram ao Japão nos séculos XVI e XVII. Namban tornou-se igualmente sinónimo do tipo de laca e outros produtos encomendados no Japão para o mercado interno ou para exportação, e que reflectiam o gosto ocidental, copiando, no geral, protótipos europeus. Objectos lacados de estilo Namban, produzidos em exclusivo para exportação, combinam técnicas, materiais e motivos decorativos japoneses com estilos e formas europeias. A tipologia japonesa da estante de missal terá as suas origens em modelos produzidos na Índia para o mercado português. No entanto, o arquétipo será islâmico, adaptado das estantes para o Corão (rahla), onde uma das folhas reduziu, do que era antes uma forma em berço para uma apresentação vertical do livro, transformando-se em apoio ou cerneira. Malgrado a intensa perseguição aos cristãos no Japão, que incluiu missionários europeus como recém-convertidos locais, sobrevivem bastantes exemplares deste tipo de objecto cuja iconografia trai a sua encomenda, maioritariamente no domínio da presença jesuíta em solo japonês. Ao contrário da grande maioria das estantes de missal que sobrevivem em colecções públicas e particulares, tanto em Portugal como no estrangeiro, e bem assim aquelas que têm surgido no mercado internacional, o exemplar presente encontra-se em excelente estado de conservação, tendo sofrido muito pouco desgaste para uma peça desta fragilidade. O exemplar talvez com maiores afinidades no confronto com o presente, será o que pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (inv. 37 Div).

Hugo Miguel Crespo

  • Arte Colonial e Oriental
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