Escritório

Nº de referência da peça: 
F1358

Fall front writing cabinet
India, Gujarat, ca. 1580-1620
Teak, sissoo, ebony, ivory, green dyed bone, sandalwood, brass, and iron; brass hardware | 28.4 x 21 x 16 cm
Prov.: Edric van Vredenburgh, Brussels

Escritório
Teca, sissó, ébano, marfim, osso tingido de verde, sândalo, latão, e ferro; ferragens de latão
Índia, Guzarate, c. 1580-1620
28,4 x 21,0 x 16,0 cm
Proveniência: colecção particular, Bruxelas; colecção Edric van Vredenburgh, Bruxelas
F1358

This rare fall front cabinet was made in Gujarat ca. 1580-1620. Its teakwood (Tectona grandis) carcass is veneered in sissoo (Dalbergia latifolia) and inlaid in teak, ebony, ivory, green dyed bone, and brass filleting, forming elaborate decorative marquetry compositions. The brass hardware elements comprise of the front lock escutcheon and the inner drawer pulls. The outer surfaces, as well as the inner fall front writing top, feature carpet-like compositions centred by figural scenes, framed by peripheral borders of stylized Chinese inspired cloud motifs, that seem to be unique to this specific writing cabinet.
Unlike other extant pieces of identical origin, the archetypal ornamental motifs of symmetrical flowering branches and birds are, in this instance, complemented by Iranian style, rather off the scale figures.
The front and lateral elevations are characterized by two male figures in Iranian attire flanking a flowering tree. An older man, seemingly a scholar or a sage, reclining and reading a book, and another, a kneeling youth, reading a safineh, an oblong shaped book, probably of poetry. The latter is portrayed in a sleeveless tunic over a shirt, or pirahan, and both display large turbans, characteristic of the Safavid period. Contrasting with these motifs, the top panel surface features two floor seated female figures, with one knee resting on the ground and playing tambourines. These figures, rather than following a regular Gujarati portraiture style, copy the pictorial Iranian model that is evident in contemporary Safavid paintings and in luxurious figural silk textiles.
Made according to the same techniques, with brass pins fixing the larger inlaid elements, and adopting the same materials, ivory and dyed bone of incised black highlighted lines, the figures are contemporary to the box and represent iconographic inclusions, certainly resulting from a specific commission, for which the cabinetmaker adapted a writing cabinet routinely made for the Portuguese market but restyled for an Iranian customer or for an Indian of Persian cultural sensibilities.
When open, the cabinet would originally expose six drawers arranged in three tiers: one long upper drawer, now missing, a central double-height square drawer, and two pairs of smaller, identical drawers. The drawer fronts, of inlaid decoration, are defined by flowering branches flanked by mirrored face-to-face hares. Identically to the other box surfaces, the inlaid motifs include green dyed bone elements that lend added sophistication and contrast to the marquetry surface. Alongside teak, the drawer bottoms are cut in ebony.
The central drawer displays a couple in local Indian costume, probably emphasizing the marriage character often associated to this type of object. The male figure is attired in jama (coat), pay-jama (tight fitting trousers), patka (waist band) e kulahdar (small turban), while the female features ghaghra (long pleated skirt), odhani (transparent veil) over the head, and a choli (fitted short bodice).

This Gujarati writing cabinet seems to correspond to a unique example of adaptation to the demands of an Iranian or Indian-Persian customer, for a product generally destined to the European market. Its iconography, derived from painted models and Safavid silk textile patterns, is an unequivocal demonstration of the Indian artisans capacity for adapting its artistic productions to a widely varied clientele.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University o

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Este raro e importante escritório de tampo de abater foi produzido no Guzarate cerca de 1580-1620. De estrutura em teca (Tectona grandis), é faixeado a sissó (Dalbergia latifolia) e decorado com embutidos de teca, ébano, marfim, osso tingido de verde e fio de latão. Além da teca, a estrutura é em ébano no fundo das gavetas.
As ferragens de latão incluem o espelho da fechadura da frente e os puxadores das gavetas no interior.
A decoração das faces exterior e do interior do tampo de abater é em tapete, com cenas figurativas no campo central e cercadura de nuvens estilizadas de inspiração chinesa e que parecem ser únicas a este nosso escritório.
Ao contrário de qualquer outro escritório desta produção guzarate, o típico motivo das plantas floridas dispostas em simetria com aves é aqui complementado com figuras um tanto fora de escala de estilo iraniano.
Na frente e ilhargas, duas figuras masculinas de traje iraniano flanqueando a árvore florida, uma mais velha, um sábio reclinado lendo um livro e o outro, um jovem ajoelhado lendo um safineh, livro comprido, oblongo, provavelmente de poesia. O jovem enverga uma túnica sem mangas sobre a camisa ou pirahan e ambas ostentam grandes turbantes típicos do período safávida.
Em contraste, no topo duas figuras femininas sentadas, com o joelho no chão, tocam pandeiretas. Estas figuras, ao invés de seguir o usual estilo de representação guzarate, copiam o estilo pictórico iraniano da pintura contemporânea safávida e nas suas luxuosas sedas figuradas.
Produzidas segundo as mesmas técnicas (pinos de latão a fixar os embutidos de maior dimensão) e materiais (marfim e osso tingido de verde com linhas incisas avivadas a negro), estas figuras são contemporâneas do escritório e representam uma adição iconográfica que certamente resultou de uma encomenda específica que adaptou escritórios feitos usualmente para exportação para o mercado português segundo os ditames de um cliente iraniano ou indiano de forte influência persa.
Quando aberto, o escritório apresentaria seis gavetas dispostas em três fiadas (a mais longa, superior, em falta), sendo uma quadrada ao centro de maiores dimensões.
A decoração embutida da frente das gavetas consiste em plantas floridas ladeadas por lebres afrontadas; à semelhança da decoração da frente e do interior do tampo de abater, os embutidos incluem osso tingido de verde, emprestando maior riqueza e contraste à superfície marchetada.
A frente da gaveta central representa um casal afrontado de indumentária local indiana, provavelmente enfatizando o carácter nupcial deste tipo de peças. A figura masculina veste jama (casaco), pay-jama (calças ajustadas), patka (faixa de cintura) e kulahdar (pequeno turbante); enquanto a feminina veste ghaghra (saia comprida plissada), odhani (véu transparente) sobre a cabeça, e um choli (blusa curta e justa).
A par de contadores de mesa e estrado, este escritório copia um protótipo europeu que granjeou lugar de destaque entre as peças mais prestigiadas de mobiliário de conter no século XVI.
O tampo de abater formaria uma superfície apropriada à escrita, enquanto as muitas gavetas dariam acesso aos objectos preciosos e instrumentos de escrita contidos no seu interior.
Este tipo de mobiliário de luxo foi predominante na decoração de interiores das famílias nobres e patrícias, e peças de mobiliário portáteis como esta tornar-se-iam requisito fundamental para os funcionários europeus, mercadores e comerciantes que viviam e viajavam pela Ásia.
Peças deste tipo foram produzidas na Ásia com materiais exóticos e dispendiosos, sendo muito admirados e avidamente procurados na Europa, devido não só à sua forma, mas também à sua perfeição técnica e riqueza decorativa. A produção deste tipo de mobiliário centrou-se no noroeste da Índia, nomeadamente no Guzarate.
Este escritório guzarate parece ser um caso único de adaptação às exigências de um cliente iraniano ou indiano de influência persa, de um produto normalmente destinado à exportação para o mercado europeu. A sua iconografia, derivada da pintura e luxuosos têxteis de seda safávidas, revela-se como um poderoso testemunho da capacidade indiana de adaptar as suas produções artísticas a diferentes clientelas.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

  • Arte Colonial e Oriental
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