Escritório

Nº de referência da peça: 
F1323

Escritório
Norte da Índia
Século XVII
Sissó e marfim (e osso); ferragens de ferro
Dim.: 30,0 x 46,0 x 35,5 cm
F1323

Fall-front writing cabinet
Northern India
17th century
East Indian rosewood and ivory (and bone); iron fittings
Dim.: 30,0 x 46,0 x 35,5 cm
F1323

This fall-front writing cabinet is made from East Indian rosewood and decorated with ivory (and bone) inlays. The wrought iron fittings include eight corner brackets protecting the corners and edges, two heavy side handles, the openwork escutcheon-shaped lock plate (European-inspired), two pullers on the exterior side of the fall-front, an odd-shaped appliqué with three perfectly aligned loops possibly used to reinforce the cabinet, and the lock plate and pullers set on the drawers inside. When opened, it reveals a complex and unusual partition for this type of cabinet that albeit originally copying a European model, seems to have been adapted to the uses and specificities of local consumers. Thus, the interior is fitted with eleven drawers arranged in three rows, simulating fifteen. The decoration of the fronts of the larger drawers is carpet-like, with a border of floral scrolls with leaves, and a cartouche-shaped central field with a stylized floral rosette in the centre. The smaller drawers, narrower and set vertically, are simply decorated with a cartouche and a small rosette in the centre. Typical of this production are the many drawers with secret compartments behind. The interior side of the fall-front features a blank central field highlighting the beautiful rosewood veins, while the border features eight- and four-petaled rosettes. The exuberantly decorated exterior sides of the cabinet similarly follow a carpet-like composition, with a central field with a diaper pattern of large interlocking circles - a decoration with distant origins in India and typical of printed, painted and dyed cotton textiles produced in medieval Gujarat. The borders feature vegetal scrolls with large circular flowers. Like that seen on the interior, the inlaid decoration is incised and highlighted in black mastic.
The present fall-front cabinet seems to belong to a particular group characterized by a less accomplished inlay decoration when compared to pieces of the same typology produced for export between the mid-sixteenth century and the middle of the following century in Sind or Gujarat, where the outsized scale of the diaper pattern of interlocking circles, and the floral inlays are larger and somewhat coarser. It seems to derive from a production with Mughal characteristics whose place of manufacture is still debated today. A similar writing cabinet (27.0 x 40.5 x 31.5 m) that has lost its fall-front and is today at the musée du Louvre, Paris (inv. AD 15325) seems to bridge the gap between a more careful Mughal production and this one, possibly somewhat of a later date. Similar to the pieces with floral decoration derived from the Mughal repertoire of the period of Emperor Shah Jahan (r. 1628-1658), with stylized and symmetrically arranged flowering plants influenced by contemporary European herbaria and the type of botanical representation as practised then in Europe, the cabinet in Paris features a similar diaper pattern of interlocking circles (only on the top side), the same type of stylized floral motifs, the same economy of materials and similar manufacturing techniques. In the long upper drawer, simulating three, on the right inner side, there is a long inscription in Arabic characters in nasta’liq script, highlighting its local use in contrast with a production for export.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

Bibliography:

CRESPO, Hugo Miguel, India in Portugal. A Time of Artistic Confluence (cat.), Porto, Bluebook, 2021.

TCHAKALOFF, Thierry-Nicolas, et al., La Route des Indes. Les Indes et l’Europe. Échanges Artistiques et Héritage Comun, 1650-1850 (cat.), Paris, Somogy éditions d’art, 1998.

Este escritório de tampo de abater é construído em sissó e decorado com embutidos em marfim (e osso). As ferragens, em ferro forjado, incluem oito cantoneiras recortadas protegendo os cantos, duas pesadas gualdras laterais, o espelho de fechadura (de inspiração europeia) recortado e vazado, dois puxadores com argola no exterior do tampo, um curioso aplique de três argolas alinhadas talvez para reforçar a segurança do escritório, e o espelho de fechadura e puxadores de argolas das gavetas no interior. Quando aberto, revela uma partição complexa e inusual para este tipo de peças que, copiando na origem um modelo europeu, parecem ter-se adaptado aos usos e especificidades dos consumidores locais. Assim, o interior apresenta onze gavetas dispostas em três fiadas, simulando quinze. A decoração das frentes das gavetas maiores é em tapete, com cercadura de enrolamentos vegetalistas com folhas e campo de forma em cartela com roseta floral estilizada no centro; enquanto as menores, mais estreitas e dispostas sobre a vertical, apresentam apenas cartela com roseta pequena. Típico desta produção são as várias gavetas com compartimentos secretos interiores. O interior do tampo de abater apresenta campo vazio, tirando partido dos veios da madeira de sissó, enquanto a cercadura é semeada de rosetas de oito e quatro pétalas. As faces exteriores do escritório, mais decoradas, seguem igualmente uma composição em tapete, com campo preenchido por largo padrão de círculos secantes - uma decoração de origens longínquas na Índia e típica dos têxteis de algodão impressos, pintados, e tingidos produzidos no Guzarate medieval. As cercaduras são de enrolamentos vegetalistas com grandes florões circulares. Tal como no interior, a decoração de embutidos é incisa e avivada com mástique negro.
Esta peça pertence a um grupo de objectos de decoração menos cuidada se comparada com as peças da mesma tipologia produzidas para exportação entre os meados do século XVI e os meados do século seguinte no Sinde ou no Guzarate, em que sobressai a maior escala do padrão de círculos secantes, e os embutidos florais são maiores e um tanto mais grosseiros. Parecem derivar de uma produção com características mogóis cujo local de fabrico ainda hoje se debate. Um escritório (27,0 x 40,5 x 31,5 m) que perdeu o tampo de abater hoje no musée du Louvre, Paris (inv. AD 15325) parece fazer a ponte entre uma produção mogol mais cuidada e esta, porventura um pouco mais tardia. À semelhança das peças com um decoração floral derivada do repertório mogol do período do imperador Shah Jahan (r. 1628-1658), de ramos floridos estilizados e dispostos simetricamente influenciados pelos herbários europeus coevos e o tipo de representação botânica tal como praticado então na Europa, apresenta também semelhante largo padrão de círculos secantes (apenas no topo), o mesmo tipo de elementos vegetalistas estilizados, a mesma economia de materiais e semelhante técnica de fabrico. Na gaveta superior, comprida e simulando três, na ilharga interior direita, apresenta uma longa inscrição em caracteres árabes em escrita nasta’liq, reforçando o seu uso local em detrimento de fabrico para exportação.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

Bibliografia:

CRESPO, Hugo Miguel, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021.

TCHAKALOFF, Thierry-Nicolas, et al., La Route des Indes. Les Indes et l’Europe. Échanges Artistiques et Héritage Comun, 1650-1850 (cat.), Paris, Somogy éditions d’art, 1998.

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Diversos
Peças Vendidas

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.