Contador Namban

Nº de referência da peça: 
F1113

Namban table cabinet
Urushi lacquered and gilt (maki-e) wood, ray skin (same) and gilt copper
Japan, Edo Period c. 1630-1640
Dim.: 31,0 x 42,0 x 28,3 cm
Former private collection, Brussels

Contador de duas portas Namban
Madeira lacada a negro (urushi), decorada a ouro (maki-e) e com polvilhado de pele de raia (same); ferragens de cobre dourado
Japão
Período Edo, ca. 1630-1640
Dim.: 31 x 42 x 28,3 cm

Rare Edo Period (c.1630-1640) urushi lacquered and gilt (maki-e) two door Namban table cabinet, sprinkled in ray skin (same) denticles, with gilt copper mounts and hardware.
Following an Iberian prototype, when opened this cabinet reveals an arrangement of eight drawers organized over four tiers. One single top drawer with two identical smaller drawers below and, on the two lower tiers, a central double height arch decorated drawer, as in European cabinets, sided by pairs of overlapping smaller drawers.
This cabinet typology, designed to store small precious objects, jewellery, documentation and correspondence, was common in 16th century European domestic interiors, and a mandatory piece of utilitarian furniture for traders and officials based in the Far East. Produced in a variety of precious exotic materials such as tortoiseshell, ivory or gilt lacquer, they were admired and coveted in Europe, for their aesthetic appeal and manufacturing quality.
Similarly to other Namban pieces produced after the banishment of the Portuguese, the decoration of this cabinet alludes to a textile or rug pattern, with a central field sprinkled in ray skin denticles (samegawa or samekawa) framed by a wide decorative border. On the front panel, a large lacquer lozenge decorated with a pheasant within vegetation, occupies the centre of the ray skin field. Persimmon (Diospyros kaki) shaped lacquered roundels occupy the centres of both side panels, with decorative compositions of bellflowers or kikyo (Platycodon grandiflorum) on the left hand side and a large flower, probably a magnolia or mokuren (Magnolia liliiflora), on the right.
Pieces characterised by the decorative use of ray skin in their manufacture are defined as samegawa nanban, a specific group within the Japanese furniture production. Only the hard grains or denticles (same), extracted from the decomposed fish skin, are used in this technique known as samegawa-nuri. These denticles are sprinkled on to the selected surface, fixed and hardened by an urushi lacquering process and pumice polished to obtain the desired finish.
Although the term “same” is mentioned as early as 1603 in the Japanese–Portuguese Dictionary “Vocabulário da Lingoa de Iapam”, published by Jesuit Missionaries, where it is defined as ray skin used in lining sword handles and scabbards, the earliest references to this type of furniture are made in c.1635-1645, in “facturen”, the cargo manifests from the Dutch East Indies Company (V.O.C.), in which they are highly praised. (1)
The refined gilt decoration applied to this cabinet, known as maki-e, literally “sprinkled painting”, was a technique common throughout the Momoyama (1568-1600) and early Edo periods. (2) It is at this time of cultural miscegenation that a specific export lacquer is developed, combining mother-of-pearl inlay with a type of decoration known as hiramaki-e, and referred to as nanban makie or nanban shitsugei. The term nanban, also written namban or namban-jin (literally “southern barbarians”), of Chinese origin, refers not only to the Portuguese or Spanish traders, missionaries and sailors that arrived in Japan in the 16th and 17th centuries, but also to a group of lacquered objects and others produced in Japan, for the internal market and for export, reflecting a Western taste and following European prototypes, such as the present two door cabinet that hints at Dutch models.
Export Namban objects combine Japanese techniques, materials and languages with European styles and typologies. A table cabinet of similar production, sprinkled in ray skin denticles but with mother-of pearl inlays, was recorded in the former collection Francisco Hipólito Raposo in Lisbon. (3)

1 See: Oliver Impey, Christiaan J. A. Jörg, Japanese Export Lacquer, 1580 – 1850, Amsterdam, Hotei Publishing, 2005, pp. 245 – 247.
2 See: Teresa Canepa, Silk, Porcelain and Lacquer. China and Japan and their Trade with Western Europe and the New World, 1500 – 1644, London, Paul Holberton publishing, 2016; e Alexandra Curvelo, "Nanban Art: what's past is prologue", in Victoria Weston (ed.), Portugal, Jesuits and Japan. Spiritual Beliefs and Earthly Goods (cat.), Chestnut Hill, MA, McMullen of Art, 2013, pp. 71 – 78.
3 See: Maria Helena Mendes Pinto, Lacas Namban em Portugal. Presença portuguesa no Japão, Lisboa, Edições Inapa, 1990, p. 92.

Um contador de duas portas Namban em madeira lacada (urushi), replicando um protótipo ibérico de móvel de conter, o contador ou cabinet, com duas portas à semelhança de um armário. Com diversas gavetas de diferentes formas, contadores como o presente foram concebidos para guardar documentos importantes e cartas, jóias e pequenos objectos preciosos, sendo imprescindíveis nos interiores domésticos quinhentistas europeus. Quando aberto, apresenta: oito gavetas dispostas em quatro fiadas, sendo a primeira de uma gaveta única mais comprida, a segunda composta por duas, uma a meio, ocupando as duas fiadas inferiores, com arcaria ao modo dos contadores europeus da época, ladeada por duas gavetas sobrepostas de cada lado. Móveis de conter como o presente eram de uso obrigatório para oficiais, nobres e mercadores europeus estantes na Ásia, sendo produzidos numa variedade de materiais exóticos e valiosos, tais como a tartaruga, o marfim ou a delicada laca decorada a ouro, muito apreciada e avidamente procurada na Europa dado não apenas o seu apelo estético, mas também a perfeição técnica posta na sua execução. À semelhança de outros móveis lacados Namban produzidos já depois da expulsão dos portugueses, a decoração deste contador é em tapete, com campo preenchido por polvilhado de dentículos de pele de raia (samegawa ou samekawa) e largas cercaduras decorativas. Enquanto o campo da frente (com as duas portas) apresenta um medalhão em forma de losango ou diamante (decorado por um faisão junto a alguma vegetação), o das ilhargas é em forma de dióspiro (fruto do kaki, ou Diospyros kaki), com o da ilharga esquerda apresentando campânulas ou kikyo (Platycodon grandiflorum), e o da direita com uma larga flor, possivelmente uma magnólia ou mokuren (Magnolia liliiflora). O presente contador de duas portas pertence, portanto, ao mobiliário lacado dito samegawa nanban, grupo específico da produção Namban caracterizado pela utilização de pele de raia na sua manufactura. Apenas os grãos duros ou dentículos da pele de raia (same) eram utilizados (extraídos após o apodrecimento da matéria orgânica que os liga à derme animal), polvilhados sobre a superfície a decorar, depois coberta de laca (urushi) e polida com pedra-pomes, sendo a técnica de aplicação com laca conhecida por samegawa-nuri. Porquanto logo em 1603 encontramos o vocábulo same no Vocabulário da Lingoa de Iapam da autoria de missionários jesuítas que residiam no Japão descrito como pele de raia, utilizada para a decoração de punhos e bainhas de espada, as primeiras referências a este mobiliário lacado Namban com pele de raia encontram-se nas facturen (conhecimentos de embarque) de ca. 1635-1645 da Companhia Holandesa das Índias Orientais ou V.O.C., sendo descritos com grandes encómios de admiração.
A refinada decoração a ouro aplicada a esta caixa-escritório de médias dimensões, conhecida por maki-e, literalmente "pintura polvilhada", era comum no período Momoyama (1568-1600) no Japão, e também nos inícios do período Edo que se lhe seguiu. É neste período e contexto de mútua aculturação que surge um tipo especial de laca para exportação combinando embutidos de madrepérola com um tipo de decoração conhecida por hiramaki-e, a que se chama nanban makie ou nanban shitsugei. O vocábulo Nanban, igualmente grafado como Namban, ou Namban-jin, (literalmente "Bárbaros do Sul"), de origem chinesa, surge utilizado para identificar mercadores, missionários e marinheiros portugueses e espanhóis após a sua chegada ao Japão entre os séculos XVI e XVII, tendo sido empregado também para designar um grupo de objectos lacados e outros produtos produzidos no Japão para consumo interno ou para exportação, reflectindo um gosto ocidental, sendo modelados sobre protótipos europeus, tal como o presente contador de duas portas, indicando já a adopção de modelos holandeses. Objectos de estilo Namban, produzidos em exclusivo para exportação, combinam técnicas, materiais e motivos decorativos japoneses com estilos e formas europeias. Da mesma produção com polvilhado de pele de raia (embora com inclusão de madrepérola na sua decoração), refira-se uma caixa-escritório outrora da colecção de Francisco Hipólito Raposo, Lisboa.

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