Contador de mesa

Nº de referência da peça: 
F1350

Tabletop cabinet
India, probably Thatta, modern day Province of Sindh, Pakistan, ca. 1580-1620
Teak, ebony, ivory, sadely marquetry and iron; gilt copper hardware | 25.5 x 37.8 x 27.5 cm
Prov.: Pedro Aguiar Branco, Oporto

Contador de mesa
Teca, ébano, marfim, sadeli e ferro; ferragens de cobre dourado
Índia, provavelmente Thatta, Sinde (no actual Paquistão), c. 1580-1620
Dim.: 25,5 x 37,8 x 27,5 cm
F1350

This tabletop cabinet fits into a typically European prototype, its various drawers used for storing valuables such as jewellery, money, and documents.
Ubiquitous in aristocratic interiors of their time, such portable writing boxes and tabletop cabinets would become indispensable utilitarian objects in the daily lifes of Imperial officials and merchants, settling or travelling through Asia. This example is constructed in teak (Tectona grandis), veneered in ebony (Diospyrus ebenum), and decorated with erudite inlaid ivory compositions. Its gilt copper hardware elements include the two side handles and lock escutcheons.
The cabinet’s lateral and top panels decoration is austere, being characterised by an ivory inlaid border of circular medallions with cockerels, highlighted by incisions and black and red coloured mastic, that alternate with oblong cartouches of stylised foliage scrolls. In the central field, large ebony Timurid style foliage cartouches on a teakwood ground. The cabinet’s back elevation is plainly decorated by an ebony frame enhanced by fine ivory filleting. The box front features nine drawers, simulating twelve identical fronts arranged over four tiers, with a large, centrally placed double height drawer that simulates two. The drawers inlaid decorative compositions comprise of face-to-face rooters, symmetrically placed to either side of the scalloped lock escutcheons and, similarly to the lateral and top borders described, of sadeli marquetry elements.
Sadeli marquetry or micro-mosaic, known as khatam in Persian, was initially introduced to India though the Province of Sindh. This technique, which emerged during the Middle Ages in the eastern Mediterranean region, namely in Mamluk Egypt and Syria, would eventually expand into Iran and India. In Saphavid Iran, khatam art, known as khatam-kari and khatam-bandi, flourished in Isfahan, Shiraz, and Kerman. It became widely practiced in India, having been introduced in Surat from Sindh, perhaps via Shiraz, and becoming known as Sadeli.
This technique consists in joining various fine and geometrically cut sticks, mostly of triangular section, in a variety of materials, such as pewter or silver, wood, such as ebony, teak or sandalwood, ivory or bone, either white or dyed, horn, copper or brass, in bundles which are then transversally sliced in thin sections of repeating geometric patterns, more commonly star shaped, that are fixed onto a wooden substrate. The surface is then finished by smoothing, and oiled or waxed before polishing.
The combination of ebony and ivory inlaid motifs and Sadeli, with specific typologies of objects, such as the games boards mentioned in Pelsaert’s Remonstrantie, has assisted recent scholars in proposing a Sindh origin for a determined group of pieces with strong Islamic characteristics and evident Timurid decorative grammar. Similarly to the present cabinet, they feature mostly a non-figurative decoration, and are made in ebony veneered teak inlaid in ivory, dyed bone, exotic timbers and abundant sadeli decorative marquetry.
The main ornamental motif in this rare tabletop cabinet is the rooster, ubiquitous on all its surfaces, excepting the back. Dik in Arabic, such depiction is an uncommon motif in this restricted group of Sindh made objects. Particularly venerated in Islam, this bird is highly respected by Muslims as a divine symbol. Some hadiths, or “sayings, talks”, attributed to the Prophet Muhammad, seem to account for the rooster highest esteem. According to one, the Prophet stated that: “when you hear the crowing rooster, ask God for His favour, as it sees and Angel, but if you hear a donkey’s braying, seek refuge from the devil in God, as the donkey sees a demon”. In another instance the Prophet is credited with saying: “Do not insult the rooster as it summons us to prayer”. As such the crowing rooter symbolizes the daily call for early morning prayer.
Rooster’s depictions in objects such as this cabinet, represent an evident concession to the prevailing aniconism of this Islamic production from Thatta, in present-day Pakistan´s Province of Sindh.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

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Este contador de mesa segue um protótipo europeu. As muitas gavetas seriam usadas para guardar objectos de valor como jóias, dinheiro e documentos.
Predominantes no mobiliário interior das famílias nobres e patrícias europeias, escritórios portáteis e contadores de mesa deste tipo tornar-se-iam requisito fundamental para os funcionários, mercadores e comerciantes europeus que viviam e viajavam pela Ásia.
Este contador de mesa é feito em teca (Tectona grandis), folheada a ébano (Diospyrus ebenum) e decorado com embutidos de marfim. As suas ferragens de cobre dourado incluem duas gualdras laterais e doze espelhos de fechadura.
As ilhargas e o topo são decorados de forma austera com cercadura de embutidos de marfim com medalhões redondos decorados com galos avivados por incisão e mástique de cores (preto e vermelho), alternando com cartelas oblongas de enrolamentos vegetalistas estilizados, e um campo central com grandes cartelas vegetalistas de estilo timúrida em ébano sobre fundo de teca.
O fundo é decorado de forma simples, com cercaduras em ébano e campo central em teca realçado por filetes em marfim.
A frente apresenta nove gavetas simulando doze dispostas em quatro fiadas com uma grande gaveta quadrada no centro simulando duas. A decoração embutida na frente das gavetas apresenta cartelas com galos afrontados em simetria flanqueando os espelhos de fechadura.
À semelhança das cercaduras das ilhargas e do topo, a decoração embutida na frente das gavetas inclui sadeli. A técnica de sadeli ou micro-mosaico, conhecida como khatam em persa, foi introduzida pela primeira vez na Índia na província do Sinde.
Esta técnica decorativa tem origem na época medieval no Mediterrâneo oriental (Egipto mameluco e Síria), de onde se propagou para o Irão e a Índia. No Irão safávida a arte khatam, conhecida como khatam-kari e khatam-bandi, floresceu em Isfahan, Shiraz e Kerman. Tornou-se frequente na Índia, conhecida por sadeli, tendo sido introduzida em Surrate através do Sinde, talvez via Shiraz. E
sta técnica consiste na junção de varetas finas de forma geométrica (geralmente de secção triangular) de diversos materiais, como estanho ou prata, diferentes tipos de madeira (ébano, teca, sândalo, etc.), marfim ou osso (natural ou tingido de verde, vermelho, etc.), chifre e cobre ou latão, dispostas em feixes que são depois fatiados transversalmente formando finas folhas de padrões geométricos (geralmente em forma de estrela) que se colam a um suporte de madeira. Em seguida, a superfície é alisada, oleada ou encerada e polida.
A combinação de embutidos de ébano e marfim com sadeli e os tipos específicos de objectos como os tabuleiros de jogo mencionados na Remonstrantie de Pelsaert, ajudou investigadores recentes a propor como originário do Sinde um determinado grupo de objectos de vincadas características islâmicas e de repertório decorativo claramente timúrida.
Estes, tal como este exemplar, apresentam uma decoração na sua maioria não figurativa, sendo em teca faixeada a ébano com embutidos de marfim, osso tingido, madeiras exóticas e abundância de sadeli.
O motivo principal deste raro contador de mesa é o galo (dik em árabe), motivo decorativo pouco comum neste raro conjunto de peças fabricadas no Sinde. O galo goza de uma veneração particular no Islão e é muito estimado enquanto símbolo divino pelos muçulmanos. Alguns hadiths, ou “ditos, conversas” atribuídos ao profeta Muhammad, explicam a sua alta estima. Segundo um deles, o Profeta afirmou que: “Quando ouvires o cantar do galo, pede a Deus o Seu favor, porque vê um anjo, mas se ouvires o zurrar de um burro, refugia-te em Deus do demónio, porque o burro vê um demónio”. Noutra, o Profeta acredita-se ter dito: “Não insulte o galo porque ele nos convoca à oração”. O canto do galo simboliza assim o despertar diário para a oração da manhã.
A representação de galos em objectos como este nosso contador de mesa representa uma concessão ao aniconismo predominante nesta produção islâmica de Thatta no Sinde, no actual Paquistão.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

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