Contador de Mesa

Nº de referência da peça: 
F1307

Table top cabinet
Teak, ebony, East Indian rosewood, ivory, and dyed bone; gilded copper fittings
Portuguese State of India Northern Province, probably Thane, Bombay (Mumbai), late 16th century
Dim.: 25.0 x 40.0 x 29.0 cm
Prov.: P.C., Portugal

Teca, ébano, sissó, marfim e osso tingido de verde; ferragens de cobre dourado
Província do Norte do Estado Português da Índia, provavelmente Taná, Bombaim, séc. XVI (finais)
Dim.: 25,0 x 40,0 x 29,0 cm
Prov.: Coleção particular, Portugal

Ebony (Dyospirus ebenum) veneered, teak (Tectona grandis) cabinet of sumptuous East Indian rosewood (Dalbergia latifolia), teak, ivory and green dyed bone inlaid decorative compositions, fixed to the box structure by small brass pins.
Modelled after European prototypes, these 16th century portable cabinets ranked amongst the most valued furniture of their age. With four drawers stacked over three tiers, each with its own lock, but simulating nine for symmetry, this type of box was destined to store a myriad of objects such as documents, writing paraphernalia, jewels or other valuable treasures. Its scalloped and pierced gilt copper fittings, comprising eight corner brackets, two side handles and nine lock escutcheons, are characteristic of contemporary Goan furniture production. In addition to these elements, the cabinet’s front is also ornamented by parallel and transversal rows of equidistant dome-shaped gilt copper tacks.
The dense and sophisticated marquetry decorative motifs, consisting of symmetrical designs of flowers and foliage, repeated on each real and simulated drawer front, expand into large carpet-like compositions on the cabinet’s lateral and rear elevations. Evolving from a central field with flowering vases set in symmetry, from which emerge a profusion of branches of Iranian origin, with foliage and stylised flowers, star-shaped rosettes and fan-shaped carnations interspersed with long-tailed birds, this exuberant, yet harmonious arrangement is achieved by the combination of the various exotic timbers with the ivory and green dyed bone elements. A narrow border of hexafoil rosettes alternating teak and ivory, frames these large panels.
On the top surface an additional carpet-like composition, in this instance featuring a wide border of floral and foliage scrolls combined with large, star-shaped rosettes and frilled carnations, with nagini at the corner angles. In the smaller central frame an exuberant flower vase, from which sprout carnations.
Luxurious furnishings were essential items in the decorating of the European elite’ homes, and exotic portable table top cabinets such as this, were also indispensable in the daily lives of European officials and others settled or travelling in Asia. Small yet expensive, these objects were made with exotic and valuable raw materials, and much admired and desired in Europe, for their perceived sophistication and technical accomplishment.
Given that extant 16th century Portuguese records refer the village of Thane – now absorbed by metropolitan Mumbai (Bombay) – as a place renowned for its large community of Muslim craftsmen that produced precious marquetry furniture, it is possible that this cabinet might have originated from that production centre, then located in a Portuguese ruled territory.
This table cabinet belongs to an exceptional and exclusive group of rare early furniture, made for the Portuguese market, which has only recently been identified in regards to its geographical origin, decorative inspirational sources (Iranian, Ottoman and European) and historic production context.

O presente contador de mesa, de estrutura em madeira de teca (Tectona grandis), ricamente faixeado a ébano (Dyospirus ebenum) e decorado com embutidos de sissó (Dalbergia latifolia), teca, marfim, e osso tingido de verde - todos fixos por pequenos pinos de latão, resultando numa sumptuosa obra de marchetaria - replica, quanto à forma, um protótipo europeu tido como dos mais apreciados móveis de conter no século XVI.
Apresenta quatro gavetas e quatro fechaduras - simulando nove, dispostas em três fiadas - que dão acesso aos compartimentos, onde seriam guardados documentos, instrumentos de escrita, papel ou até, joias e outros objectos de valor.
As ferragens de cobre dourado incluem oito cantoneiras, gualdras laterais e nove espelhos de fechadura recortados e vazados, uma decoração que se tornaria típica da produção do mobiliário de Goa. É ainda decorado com pregaria em cobre dourado de cabeça hemisférica, nos entrepanos das gavetas e nas arestas da frente.
A copiosa decoração marchetada consiste em motivos florais simetricamente dispostos nas frentes das gavetas, com flores e folhas estilizadas. A riqueza da ornamentação advém do uso de embutidos de diferentes madeiras exóticas como sissó, teca, e também marfim e osso tingido de verde, sobre o fundo escuro do ébano.
As ilhargas e tardoz apresentam composição em tapete, com o largo campo central preenchido por vasos floridos dispostos em simetria, bordejado por fina cercadura de rosetas de seis pétalas, alternando teca e marfim. Destes vasos, um tema de origem persa, emergem uma profusão de ramos com flores estilizadas, rosetas em forma de estrela e cravos de pétalas serreadas em forma de leque ou recortados, onde repousam pássaros de cauda comprida.
O topo, também em tapete mas com larga cercadura de enrolamentos vegetalistas - com exuberantes rosetas, em forma de estrelas e de cravos com pétalas serreadas recortadas - e nagini nos cantos, apresenta no campo central um vaso florido.
Imprescindíveis no mobiliário interior das residências nobres e patrícias da Europa, escritórios e contadores de mesa portáteis deste tipo tornar-se-iam requisito fundamental para funcionários, mercadores e comerciantes europeus que viviam e viajavam pela Ásia. De pequenas dimensões, foram produzidos na Ásia com materiais exóticos e dispendiosos, sendo muito admirados e avidamente procurados na Europa, não só pela sua forma, mas também pela sua perfeição técnica.
Dado que a documentação portuguesa do século XVI refere a aldeia de Taná, ou Thane - hoje parte da cidade de Bombaim e na qual floresceu uma grande comunidade de artesãos muçulmanos - como origem de preciosos móveis marchetados, é muito provável que o centro de produção deste contador de mesa seja precisamente Taná, então parte da Província do Norte do Estado Português da Índia.
Este contador pertence a um curioso grupo de raras peças do mobiliário mais recuado fabricado para o mercado português e identificado apenas recentemente quanto à sua origem geográfica, fontes decorativas de inspiração (iranianas, otomanas e europeias) e contexto histórico de produção.

Hugo Miguel Crespo

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Mobiliário

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