Cofre (Dibba)
Cofre (Dibba)
Madrepérola, latão e massa colorida
Guzarate, Índia, séc. XVII
Dim.: 12,5 x 20,0 x 13,0 cm
F1105
Casket (Dibba)
Mother-of-Pearl, brass and coloured paste
Gujarat, India, 17th century
Dim.: 12,5 x 20,0 x 13,0 cm
Provenance: Private English collection
F1105
Rare parallelepiped casket of truncated pyramidal lid, with mildly trapezoidal and convex sides wider at the base, fully coated and lined by adjoining mother-of-pearl tesserae, solely fixed by brass pins and bands, without any frame or wooden structure. This specific construction detail, normally reserved for complex shapes such as ewers and bottles, makes this casket rather unique (1).
On the casket exterior the mother-or-pearl tesserae, obtained from the shell of the marine gastropod Turbo marmoratus (a species favoured in the production of luxury items for its iridescence), are cut as simple fish scales (the flat lid section with trilobate elements), the whole composition framed by bands of rectangular elements. The interior, as expected for less visible surfaces, is lined in oyster mother-of-pearl, most likely Pinctada maxima, applied in an alternative mosaic design of hexagonal tesserae at the bottom and vertical rectangular blades on the four inner faces and lid.
The Indian origin of identically shaped tortoiseshell and mother-of-pearl caskets, parellelepiped of truncated pyramidal lids, specifically from Cambay and from Surate in Northern India, has been consensual and undisputed for the last 30 years (2), corresponding to an Islamic typology favoured in the Indian Subcontinent well before the arrival of the first Portuguese.
One of the best know mother-of-pearl Gujarati caskets, of identical shape to the example presented herewith and likely to be, together with the tortoiseshell example from Lisbon’s São Roque Church, one of the earliest to arrive in Europe, is the famous casket from the Museum du Louvre (inv. No. OA11936), superbly mounted in silver in 1532-1533 by Pierre Mangot, silversmith to the French king François I (3).
The trapezoidal shape of our casket and of the raised socle on which it sits (decorated with small incised circles), refers to an Indian casket design tradition (dibba or dibya), whose oldest known example in damascened bronze, presently at the Dauphin Collection, dates from c.1200 (4). These formal parallels, in addition to the cut-out shaped hinges with lower mother-of-pearl sections, the rare red coloured paste decoration and the red cypress cartouches, a tree introduced too India by Emperor Jahangir (r.1605-1627) and much appreciated in Mughal art, suggest a casket produced for the internal market rather than for exporting.
Notes:
(1)On the manufacturing aspects of this production see : Barbara Wills, Susan La Niece, Bet McLeod, Caroline Cartwright, "A shell garniture from Gujarat, India in the British Museum, The British Museum Technical Research Journal, 1, 2007, pp. 1-8.
(2)See: Bernardo Ferrão, Mobiliário Português. Dos Primórdios ao Maneirismo, Vol. 3, Porto, Lello & Irmão Editores, pp. 114-122; José Jordão Felgueiras, "Uma Família de Objectos Preciosos do Guzarate. A Family of Precious Gujurati Works", in Nuno Vassallo e Silva (ed.), A Herança de Rauluchantim. The Heritage of Rauluchantim (cat.), Lisboa, Museu de S. Roque - Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996, pp. 128-155; e Hugo Miguel Crespo, Choices, Lisboa, AR-PAB, 2016, pp. 114-121, cat. no. 12.
(3)See : Michèle Bimbenet-Privat, Les Orfèvres parisiens de la Renaissance, 1506-1620, Paris, Commission des travaux historiques de la Ville de Paris, 1992, pp. 244-245; e Gérard Mabille, "Une nouvelle œuvre de la Renaissance au Louvre le coffret de nacre de Pierre Mangot", La Revue du Louvre et des Musées de France, 4, 2000, pp. 13-14.
(4)See: Mark Zebrowski, Gold, Silver & Bronze from Mughal India, London, Alexandra Press, in association with Laurence King, 1997, pp. 280-281.
Raro cofre de corpo paralelepipédico e tampa troncónica (em telhado de quatro águas e topo plano), de faces ligeiramente bombées ou arredondadas e trapezoidais, mais largas junto ao soco recortado.
É integralmente composto por tesselas de madrepérola fixas entre si, em parede dupla, através de pinos e tiras de latão e sem qualquer alma ou estrutura de madeira, o que o torna exemplar único desta produção do Guzarate onde apenas objectos complexos, tais como, jarros de água e garrafas seguem este tipo de construção.
Se as faces exteriores (frente, tardoz, ilhargas e tampa) são decoradas por mosaico em padrão de tesselas de escamas simples (a da tampa com fragmentos trilobados) com molduramento de peças rectangulares, todas com nácar da concha do gastrópode marinho Turbo marmoratus, muito apreciado nesta produção pelo elevado efeito de iridescência, o interior, em mosaico de tesselas sextavadas no fundo e rectangulares nas demais faces interiores, é todo de concha de ostra perlífera, provavelmente e dadas as dimensões, de Pinctada maxima, normalmente usada nesta produção para os tardozes ou interiores.
A origem indiana de cofres com forma semelhante, em tartaruga e de madrepérola, em concreto de Cambaia e Surat no Guzarate (norte da Índia) é, desde há cerca de três décadas, plenamente comprovada. A forma do nosso exemplar, de tampa troncónica, corresponderá a uma tipologia em uso no subcontinente indiano e de âmbito islâmico, anterior à chegada dos primeiros portugueses.
Um dos mais afamados cofres do Guzarate seguindo esta forma e de madrepérola, dado ser, à semelhança do cofre de tartaruga da Igreja de São Roque, certamente dos primeiros a chegar à Europa, apresenta preciosas montagens datáveis de 1532-1533 de Pierre Mangot, ourives de François I de França, hoje no Musée du Louvre, Paris, inv. no. OA11936. Já a forma ligeiramente trapezoidal do nosso exemplar, e do soco recortado onde assenta (decorado com "o"s incisos), remete para a tradição indiana da produção de cofres (dibba ou dibya) cujo exemplar conhecido mais antigo em metal, de ca. 1200, em bronze damasquinado, pertence à Dauphin Collection.
Este paralelismo formal, junto com a forma recortada das dobradiças (com as folhas inferiores em madrepérola), a rara decoração a massa vermelha e os medalhões recortados com proeminentes ciprestes - árvore muito estimada na arte mogol e introduzidas na Índia pelo imperador Jahangir (r. 1605-1627) - indicam tratar-se de objecto para consumo interno e não produzido para exportação segundo modelos europeus, mormente ibéricos.
- Arte Colonial e Oriental
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- Marfim, Tartaruga e Madrepérola