Cofre
Casket
India, Gujarat; 2nd-half of 16th century
Turtle shell; silver fittings
Dim. : 29,5 x 17,5 x 13,5 cm
Cofre
Índia, Guzarate; século XVI (segunda metade)
Tartaruga; montagens de prata
Dim. : 29,5 x 17,5 x 13,5 cm
Rare 1500s parallelepiped casket of undulating ribbed cover, fully constructed with golden, translucent and mottled turtle shell plaques, after one of the rarest European casket typologies copied by Gujarati artisans in this autochthonous raw material.
Its prototype would have been a 15th century French cuir bouilli original (tooled leather coated wood) now at the Cluny Museum – Middle Ages National Museum, in Paris (inv. NNI 952). Similarly to other caskets destined for the safekeeping of small, but highly valuable illuminated Books of Hours, this Paris casket features a lock in one of its shorter sides, a detail unknown in extant Gujarati examples . In addition, its usual system of reinforcing iron bands was, in this instance, enhanced by the tripartite cover profile.
Quite remarkable are our casket’s probably Goan made silver fittings, of which the most striking and unique aspect is undoubtedly their Persian Timurid inspired decoration of waved friezes covering whole surfaces, including the scalloped corner pieces and lateral panels. This repousse decoration was achieved in an expeditious manner by using metal, possibly bronze or iron, matrices, a standard procedure in Indian goldsmithing and jewellery making. These silver fittings are attached to the turtle shell carcass by large round headed silver tacks, or star headed pins, also made in a matrix. The square cased lock and its characteristic lizard shaped latch feature repousse and chiselled waved decoration. Additional silver elements include cast and finely chiselled side and top handles of lizard or snake finials (snake heads swallowing lizards). The fittings Timurid character is also evident in the palm shaped matrix made rear hinges.
Originally used as a jewellery box, this rare and precious casket was likely adapted for religious use. For this repurposing its inner surface was lined in a thin hammered silver sheet. In addition, a Greek cross of scallop shell finials and a central armorial shield, identified as the medieval heraldic for the Kingdom of Majorca, were also added, albeit surmounted by a count’s coronet. Rather incongruous and of revivalist flavour, this heraldic is likely to date from the 19th century .
The silver mounts are assay marked “Elder’s Head”, a stamp used in Portugal from 1886 onwards on objects of artistic or archaeological worth.
One of the earliest documental references to a specific turtle shell casket, is one that refers to a now lost example in the 1556 post mortem inventory for the court bailiff Afonso de Castelo Branco: “hũu quoffre de tartaruga guarnjcido de prata vall - dois mil reais” (a turtle shell casket mounted in silver worth two thousand reals).
Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon
Bibliography:
Lison de Caunes, Jacques Morabito, L'écaille. Tortoiseshell, Paris, Éditions Vial, 1997; e J. Frazier, “Exploitation of Marine Turtles in the Indian Ocean”, Human Ecology, 8.4, 1980, pp. 329-370
Hugo Miguel Crespo, Jewels from the India Run (cat.), Lisboa, Fundação Oriente, 2015
José Jordão Felgueiras, “Uma Família de Objectos Preciosos do Guzarate. A Family of Precious Gujurati Works”, in Nuno Vassallo e Silva (ed.), A Herança de Rauluchantim. The Heritage of Rauluchantim (cat.), Lisboa, Museu de S. Roque - Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996, pp. 151-153
Amin Jaffer, Luxury Goods from India. The Art of the Cabinet-Maker, London, V&A Publications, 2002
Séverine Lepape, Michael Huynh, Caroline Vrand (eds.), Mistérieux coffrets. Estampes au temps de La Dame à la licorne (cat.), Paris, Bibliothèque nationale de France, Musée de Cluny-Musée national du Moyen Âge, Lienart, 2019
--
Raro cofre quinhentista, de corpo paralelepipédico e tampa ondulada, canelada, totalmente executado com placas de tartaruga translucida de cor dourada com as características manchas que associamos tradicionalmente a este material exótico. seguindo uma das mais raras tipologias europeias de cofres que os artífices guzarates copiaram neste material.
O protótipo terá sido um exemplar francês, em cuir bouilli (madeira revestida a couro lavrado) do século XV da colecção do Musée de Cluny-Musée national du Moyen Âge, Paris (inv. NNI 952). À semelhança de outros cofres produzidos para custodiar pequenos, mas muito dispendiosos livros de horas iluminados, esse cofre de Paris apresenta a fechadura num dos lados menores, o que nunca ocorre nos exemplares guzarates conhecidos. O seu usual sistema de bandas de ferro é aqui sublinhado pelo perfil ondulado ou canelado da tampa tripartida.
Realçamos as montagens em prata, que protegem todas as arestas da caixa, e que provavelmente terão sido aplicadas já em Goa.
O especto mais curioso e único é a decoração de frisos de ondeados de inspiração timúrida persa, que preenchem todas as cintas de prata, incluindo as cantoneiras recortadas e cobrem integralmente as ilhargas da tampa. Esta decoração relevada foi produzida de forma expedita fazendo uso de matrizes em metal, provavelmente bronze ou ferro, uma solução comum à ourivesaria e joalharia indiana. As bandas são fixas ao cofre através de grandes balmázios ou pregos de prata, de cabeça em estrela igualmente produzida através de matriz.
A fechadura é em caixa quadrangular e a lingueta com forma característica em lagarto, sendo a sua decoração ondeada produzida não através de matriz, mas sim repuxada e cinzelada.
As montagens de prata incluem asas nas ilhargas e topo da tampa, produzidas por fundição, com terminais em cabeça de lagarto ou serpente (cabeças de serpente engolindo cabeças de lagarto) finamente cinzelados. As três dobradiças no tardoz, produzidas através de matriz, são recortadas em palmeta, também de repertório timúrida.
Utilizado originariamente como guarda-joias, este raro e precioso cofre foi provavelmente adaptado a uso religioso posteriormente. A quase totalidade do interior foi coberto de fina chapa de prata martelada e o interior da tampa apresenta uma cruz grega cujos terminais são em concha de vieira, com escudo de armas no centro. Estas podem ser identificadas com as armas medievais do reino de Maiorca embora o coronel que as sobrepuja corresponda à dignidade de conde. Esta configuração heráldica é incongruente, provavelmente revivalista e datando do século XIX. As montagens apresentam-se marcadas em diversos sítios com punção “cabeça de velho”, usado em Portugal desde 1886 para peças de valor artístico ou arqueológico.
Uma das mais antigas referências documentais a cofres de tartaruga, a exemplares concretos, mas hoje desaparecido, é o que surge no inventário post mortem de Afonso de Castelo Branco, meirinho-mor da corte, de 1556: “hũu quoffre de tartaruga guarnjcido de prata vall - dois mil reais”.
Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa
Bibliografia:
Lison de Caunes, Jacques Morabito, L'écaille. Tortoiseshell, Paris, Éditions Vial, 1997; e J. Frazier, “Exploitation of Marine Turtles in the Indian Ocean”, Human Ecology, 8.4, 1980, pp. 329-370
Hugo Miguel Crespo, Jewels from the India Run (cat.), Lisboa, Fundação Oriente, 2015
José Jordão Felgueiras, “Uma Família de Objectos Preciosos do Guzarate. A Family of Precious Gujurati Works”, in Nuno Vassallo e Silva (ed.), A Herança de Rauluchantim. The Heritage of Rauluchantim (cat.), Lisboa, Museu de S. Roque - Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996, pp. 151-153
Amin Jaffer, Luxury Goods from India. The Art of the Cabinet-Maker, London, V&A Publications, 2002
Séverine Lepape, Michael Huynh, Caroline Vrand (eds.), Mistérieux coffrets. Estampes au temps de La Dame à la licorne (cat.), Paris, Bibliothèque nationale de France, Musée de Cluny-Musée national du Moyen Âge, Lienart, 2019
poderão ter sido aplicadas já em Goa.
- Arte Colonial e Oriental
- Artes Decorativas
- Marfim, Tartaruga e Madrepérola