Cofre

Nº de referência da peça: 
F1187

Casket
Tortoiseshell and silver
India, Gujarat and Goa (mounts), 2nd half of the 16th century
21,0 x 9,5 x 9,5 cm
Prov.: Luís Cristiano Cinatti Keil (1881-1947) collection

Tartaruga e prata
Índia, Guzarate e Goa (montagens), século XVI (2a metade)
Dim.: 21,0 x 9,5 x 9,5 cm
Prov.: colecção de Luís Cristiano Cinatti Keil (1881-1947)

A rectangular Gujarati tortoiseshell casket of prismatic lid, a well-known shape often favoured for such objects. The chased silver mounts protecting the box’s angles mimic contemporary European wooden caskets reinforced with iron bars and coated in tooled leather or cuir bouilli. Its silver lid edges and horizontal band mounts are engraved with overlapping fish-scale motifs, flanked by fish-scale or feather friezes of decorated edges. Additionally the palmette-shaped corner brackets that raise the casket’s height while simultaneously protecting the fragile tortoiseshell edges, are decorated with foliage scrolls and animals on a European-style streaked ground. The raised square box lock, set on a pierced cartouche plate, features a lizard shaped latch characteristic of this particular production. Probably due to accidental damage shortly after completion, the casket lid was reinforced with a thin sheet of silver along its top length.
The bracket fittings, the lock and the hinges chased decoration of foliage sprays, birds and animals is, in is simplicity, somewhat reminiscent of European Renaissance decorative prints. Only the brackets shape reminds us of the sumptuary arts of the Deccan.
This rare and precious casket dating from the second-half of the 16th century, originally used as a jewellery box, is constructed out of golden and translucent tortoiseshell plaques without any of the darker markings characteristic of this exotic material as, unlike the majority of other known examples, the raw material for its making was selected from the turtle dorsal spotless scutes rather than from the densely patterned dorsal area.
The physical process to which the material was subjected in order to achieve large plaques of invisible joints and specific gauge is known as autografting. Contrary to previous assumptions it is possible to identify with certainty the specific turtle species that provided the raw material for this, as well as for all the other Gujarat, Cambay or Surat tortoiseshell caskets made using identical technique. In fact, of two marine turtle species used in Asia for producing decorative objects, the green sea turtle (Chelonia mydas) and the hawksbill sea turtle (Eretmochelys imbricate), only the latter is viable for autografting. These caskets are therefore free standing and do not require any metal elements to ensure functionality. As such the metal fittings were often not made in Gujarat but in other Indian regions or even as far afield as China.
One of the earliest specific documental references to Gujarati tortoiseshell caskets is to be found in the 1556 post-mortem inventory of Afonso de Castelo-Branco, Lisbon court bailiff: “one tortoiseshell casket mounted in silver worth 2,000 reais”.
One casket of identical shape and European character as well as of similar chased silver decoration and corner brackets albeit made from mottled tortoiseshell plaques, formerly in the Alfredo Guimarães and Arthur de Sandão collections has been recently published. One other identical casket but of more native silver decoration and exclusively made of hawksbill turtle ventral scutes belongs to the Victoria and Albert Museum in London (inv. M.10&A-1945). The present casket, rare for its spotless tortoiseshell carcass, belonged to Luís Cristiano Cinatti Keil (1881-1947), son of the artist Alfredo Cristiano Keil (1850-1907), curator and interim director at the Museu Nacional de Arte Antiga and director at the Museu Nacional dos Coches. It would be inherited by his nephew, architect Francisco Keil do Amaral (1910-1975) and then by the latter’s son Francisco Pires Keil do Amaral (b.1935)

Raro cofre em tartaruga, de corpo paralelepipédico e tampa prismática, uma das tipologias de cofres que os artífices guzarates mais copiaram. Segue, quanto ao modelo, cofres europeus em madeira revestida a cuir bouilli, protegidos por bandas de ferro.

Montagens, em prata cinzelada, protegem as arestas da caixa. As bandas são decoradas por friso de escamas embrincadas (nos extremos laterais da tampa e nas duas horizontais do topo da tampa) ladeado por friso recortado de escamas ou plumas. As cantoneiras, recortadas em forma de palmeta, fazem elevar a o cofre nos cantos, protegendo o fundo de tartaruga, e são decoradas com enrolamentos vegetalistas e animais sobre fundo raiado de gosto europeu.

A fechadura é em caixa quadrangular com espelho recortado em cartela e lingueta na forma característica de lagarto. A decoração cinzelada das cantoneiras, da fechadura e das três dobradiças do tardoz (ornamentadas com enrolamentos vegetalistas, aves e animais) seguem, no seu esquematismo e simplicidade, para gravuras europeias do Renascimento, sendo que, apenas a forma das cantoneiras, remeta para as artes sumptuárias do Decão.

Este raro e precioso cofre da segunda metade do século XVI, utilizado originariamente como guarda-jóias, foi totalmente produzido com placas de tartaruga translúcida de cor dourada, sem as características manchas que associamos tradicionalmente a este material exótico. Ao contrário do que usualmente sucede, este nosso cofre foi produzido não com as escamas dorsais da tartaruga, mas com as ventrais, desprovidas de manchas. Denomina-se autoplastia, por indução térmica, o processo físico pelo qual o material passou até se produzirem placas destas dimensões e espessura, sem juntas observáveis.

Ao contrário do que se tem afirmado, é possível identificar com certeza a espécie animal da qual proveio o material deste e de todos os outros cofres produzidos seguramente no Guzarate, em Cambaia ou Surate, por este método . Isto porque das duas espécies de tartaruga marinha utilizadas na produção de objectos decorativos desde tempos imemoriais na Ásia, a tartaruga-verde (Chelonia mydas) e a tartaruga-de-pente ou tartaruga-de-escamas (Eretmochelys imbricata), apenas a última permite a autoplastia .

Contrariamente também ao que alguns autores têm afirmado, estes cofres são totalmente autoportantes, não carecendo de montagens para assegurar a sua funcionalidade . Isso significa que, em muitos casos, como é o caso do presente cofre, as aplicações de prata não tenham sido produzidas no Guzarate, mas noutras regiões da Índia – frequentemente em Goa - ou mesmo na China .

Danificada a tampa provavelmente pouco depois da produção do primitivo cofre de tartaruga, esta foi reforçada localmente com a aplicação de uma fina chapa de prata que percorre a face de topo da tampa.

Uma das mais antigas referências documentais a este tipo de cofres de tartaruga é o que surge no inventário post mortem de Afonso de Castelo Branco, meirinho-mor da corte, de 1556: “hũu quoffre de tartaruga guarnjcido de prata vall - dois mil reais” .

Um cofre, com a mesma forma, de cariz igualmente europeia, e semelhante decoração cinzelada nas montagens de prata, assim como nas suas cantoneiras elevadas, foi recentemente publicado . Este exemplar, produzido com tartaruga mosqueada, outrora pertenceu às colecções de Alfredo Guimarães e à de Arthur de Sandão.; Um um outro cofre, com a mesma forma e uma decoração mais de carácter local quanto às montagens de prata, realizado integralmente com placas ventrais da tartaruga-de-escamas, pertence ao Victoria and Albert Museum, Londres (inv. M.10&A-1945).

O presente cofre, muito raro pelo uso da tartaruga desprovida de manchas, pertenceu à colecção de Luís Cristiano Cinatti Keil (1881-1947), filho do pintor Alfredo Cristiano Keil (1850-1907), que foi conservador e director interino do Museu Nacional de Arte Antiga e director do Museu Nacional dos Coches, tendo-se mantido na colecção da família até à presente data.

Hugo Miguel Crespo

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Marfim, Tartaruga e Madrepérola

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.