Caixa de Escrita

Nº de referência da peça: 
F1352

Pen case (qalamdan)
Teak, black mastic, mother-of-pearl, and shellac painting; copper hardware
India, Gujarat, second half of 16th century
Dim.: 10.0 x 31.3 x 10.9 cm
Prov.: Carmen Vargas, Barcelona
F1352

Caixa de escrita (qalamdan)
Teca, mástique negro, madrepérola e pintura a goma-laca; ferragens de cobre
Índia, Guzarate, século XVI (segunda metade)
Dim.: 10,0 x 31,3 x 10,9 cm
Proveniência: Carmen Vargas, Barcelona
F1352

Gujarati luxury goods produced with precious and exotic raw materials, such as turtle shell and mother-of pearl, were amongst the earliest Portuguese imports carried aboard the ships allocated to the India run. Gujarati mother-of-pearl caskets were, specifically, some of the first Indian objects to be mentioned in early 16th century royal inventories, both in Portugal and in France.
Objects originating from this Gujarati mother-of-pearl production can be split into two groups. One first group that includes pieces fully manufactured in mother-or-pearl, or pieces formed by a wooden carcass onto which was applied an outer shell of this valuable material. And a second group, comprising of wooden objects coated in dark mastic, and inlaid with finely sliced mother-of-pearl elements forming complex geometric and floral patterns or, more rarely, figurative of calligraphic motifs. The latter technique was adopted in the production of a variety of typologies, that included caskets, cabinets, games boards, large basins, writing cases such as the one described, and even round shields.
Probably emerging from the same production centres, both techniques favoured highly iridescent mother-of-pearl, in shades of pink, green and blue, extracted from the Turbo marmoratus shell, a marine gastropod once abundant in the Indian Ocean, in the large sized shells that were essential for producing the thick gauged marquetry compositions and double-walled constructions of domestic items.
Our present knowledge of these sophisticated items derives from extant accounts compiled by European travellers’ such as Pyrard de Laval, or by Abu’l- Fazl in his 1595 work Ain-i Akbari. In this account of Emperor Akbar’s reign, Abu’l-Fazl ibn Mubarak (1555-1602), refers the Province of Ahmedabad as an export centre for this production made in Cambay, Surat, and in the capital city of Ahmedabad. Clues on manufactural dates for such objects can be inferred from the stylistic evolution observed in a group featuring figurative iconography, and from very rare, dated pieces. From this small latter group stand out two pean cases, from the Freer Gallery of Art, in Washington D.C. (inv. F1986.58a-c) and from the Benaki Museum, in Athens (inv. 10181), both signed by Shaykh Muhammad Munshi Ghaznavi and dated AH 995 (1587 CE).
Our qalamdan, from the Persian for “pen or quill case” fits into a reduced assemblage destined for storing pens, quills, and other writing paraphernalia. Resting onto two rails, it is composed of dovetail joined teak panels coated in black mastic and inlaid in finely sliced mother-of-pearl elements composing intricate decorative motifs. The attractive design follows the International Timurid style through an ogival reticulated pattern of stylized lotus flower scrolls, of Chinese origin, and comma-shaped foliage. A similar Timurid composition can be identified in a large, recently published casket of identical production. Additionally, our box features discreet copper corner brackets, hinges and lock escutcheon, its inner surfaces being coated in bright red shellac. The underside is defined by blue and yellow decoration of stylized Timurid floral motifs.
In addition to the other two items of the same group that were mentioned above, one of sliding flat top, we must also refer another single-drawer case (dim.: 6.3 x 34.6 x 7.6 cm) with calligraphic decorative motifs and shellac painted floral decoration to the drawer inner panels, from the Los Angeles County Museum collection (inv. M73.5.340). Unlike the mentioned examples, likely made for the local market, our qalaman was most likely destined for exporting to Europe.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

--

Peças sumptuárias produzidas no Guzarate com materiais preciosos e exóticos, como carapaça de tartaruga e madrepérola, contam-se entre os primeiros objectos trazidos da Índia pelos portugueses a bordo dos navios da Carreira da Índia.
Os cofres de madrepérola do Guzarate estão, aliás, entre as primeiras peças indianas listadas nos inventários régios dos inícios do século XVI em Portugal e em França.
De produção guzarate, as obras em madrepérola podem ser divididas em dois grupos. O primeiro inclui peças integralmente em madrepérola ou aplicadas sobre uma estrutura de madeira. O segundo é composto por objectos de madeira coberta por mástique negra com embutidos de madrepérola finamente cortada seguindo complexos padrões geométricos ou florais e, mais raramente, desenhos figurativos ou caligráficos. Os objectos produzidos usando a segunda técnica incluem cofres, escritórios, caixas de escrita como o nosso exemplar, tabuleiros de jogo reversíveis, e também grandes bacias e até escudos.
Ambas as técnicas, feitas talvez nos mesmos centros de produção, utilizam material muito iridescente, em tons de rosa, verde e azul, da concha de Turbo marmoratus, gastrópode marinho que já foi comum no Índico nas dimensões necessárias para o marchetado espesso e a construção de parede dupla dos objectos domésticos.
O nosso conhecimento desta produção reside nos relatos de viajantes europeus, como o de Pyrard de Laval, e também no Ain-i Akbari de Abu’l- Fazl de 1595. Na sua crónica do reinado do imperador Akbar, Abu’l-Fazl ibn Mubarak (1555-1602) menciona a província de Ahmedabad como centro de exportação deste tipo de objectos feitos em Cambaia, Surrate e na capital Ahmedabad. Informação sobre a data de fabrico pode ser deduzida através das mudanças estilísticas observadas num conjunto de peças, em especial as que incluem iconografia figurativa, discutidas mais abaixo, ou de raros objectos datados.
Duas caixas de escrita, uma na Freer Gallery of Art, Washington (inv. F1986.58a-c) e outra no Museu Benaki, Atenas (inv. 10181), estão assinadas por Shaykh Muhammad Munshi Ghaznavi e datadas de AH 995 (1587 AD).
Este nosso qalamdan, do persa “caixa para cálamo [ou pena]” pertence a um pequeno grupo de objectos para guardar cálamos, penas e outros instrumentos de escrita.
Assente sobre duas réguas de madeira, é construído por painéis de teca assemblados entre si e cobertos com mástique preto, encrustado com embutidos de madrepérola finamente cortados formando desenhos intrincados.
O belo padrão deste qalamdan segue o estilo timúrida internacional com um padrão reticulado ogival de enrolamentos com flores-de-lótus estilizadas de origem chinesa e folhas em forma de vírgula. Padrão timúrida semelhante encontramos num grande cofre desta produção recentemente publicado.
O interior e a parte inferior são revestidos a goma-laca vermelha brilhante, enquanto a parte inferior é decorada em amarelo e azul com motivos florais estilizados timúridas.
Apresenta cantoneiras, dobradiças e espelho de fechadura de latão.
Outras caixas de escrita deste grupo incluem, por exemplo, as duas já mencionadas em Atenas e Washington (com tampa plana de deslizar), ou uma em forma de gaveta (6,3 x 34,6 x 7,6 cm), com padrões caligráficos e pintura a goma-laca (ramos floridos) nas laterais da gaveta interior, no Los Angeles County Museum (inv. M73.5.340).
Ao contrário dos exemplares referidos, provavelmente produzidos para o mercado local, o nosso qalamdan seria provavelmente destinado à exportação para a Europa.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Diversos

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.