Caixa de Escrita
Rara caixa de escrita em marfim, de formato paralelepipédico e tampa troncocónica, com decoração rebaixada e policromada, enriquecida com aplicações em prata, produzida no Decão, no centro da Índia e datável do século XVII.
A caixa apresenta fino supedâneo aposto em marfim, ornamentado por friso de enrolamentos vegetalistas à cor do marfim, sobre fundo preenchido a vermelho. O fundo tem três flores de oito pontas, sendo duas vermelhas centradas numa a verde, que se destaca pelo tamanho, com um friso de marfim periférico aposto, pintado de vermelho com enrolamentos vegetalistas. A tampa, em caixotão, apresenta uma decoração rebaixada no marfim, com fundo vermelho.
No centro simula um tapete com campo alongado, a modo de friso de medalhões ovalizados, preenchidos por florões (ou estrela) e elementos fitomórficos alternados, rematado por fino emolduramento de cariz vegetalista. A aba está decorada com banda contínua de enrolamentos, que se distribuem simetricamente a partir do centro e que, tal como a moldura do painel central, e contrariamente ao seu meio, apresenta os motivos decorativos em marfim não colorido, realçado de um fundo escavado e preenchido a vermelho.
A caixa é compartimentada de acordo com a sua especificidade, para tinteiros e canetas. O fundo é decorado por enxaquetado preenchido a vermelho, enquanto as paredes laterais interiores apresentam grandes medalhões de tipo timúrida a vermelho, com centro quadrangular não colorido e estão rematados por friso de enrolamentos vegetalistas. As ferragens são em prata cinzelada, constituídas por cantoneiras, dobradiças, linguetas e remates, decoradas nas suas extremidades por flores-de-lótus.
Nos quatro cantos da tampa as arestas estão escondidas com peixes-gato ou Erethistes hara (conhecidos também por butterfly catfish), espécie comum no actual estado de Bidar, no Decão. Este peixe de rio espelha o início da vida universal em várias culturas, símbolo de fertilidade. A par desta representação animal e dos elementos da decoração, a técnica utilizada concorre para a identificação deste raro objecto como tendo sido produzido no Decão. A técnica de entalhe da superfície ebúrnea, mais concretamente rebaixada e posteriormente preenchida por fina massa colorida, aproxima-a da escaiola e do esgrafitado, técnicas de decoração utilizada nas paredes dos edifícios, do Decão e do Sul da Índia, conhecida como arte kavi, sendo exemplo os interiores das igrejas de Goa ou das fachadas dos templos de Karnataka.
Marfim policromado e prata
Índia, Decão
Séc. XVII
Dim: 8,0 x 23,0 x 10,0 cm
Polychrome ivory and silver
India, Deccan
17th c.
Dim: 8,0 x 23,0 x 10,0 cm
— MICHELL, George, ZEBROWSKI, Mark, Architecture and Art of the Deccan Sultanates, Cambridge, Wolfson College, 1999.
— HAIDAR, Navina Najat, SARDAR, Marika (eds.), Sultans of the South. Arts of India’s Deccan Courts, 1323–1687, New York, The Metropolitan Museum of Art, 2011.
- Arte Colonial e Oriental
- Artes Decorativas
- Marfim, Tartaruga e Madrepérola