Arqueta

Nº de referência da peça: 
F1366

A chest
India, Gujarat; 2nd-half of the 16th century
Teak, black mastic, mother-of-pearl and shellac; gilt copper mounts
Dim.: 39 x 64 x 37,5 cm

Arqueta
Índia, Guzarate; século XVI – 2a metade
Teca, mástique negro, madrepérola e pintura a goma-laca; ferragens de cobre dourado
Dim.: 39 x 64 x 37,5 cm

Exceptional Gujarati teakwood chest (Tectona grandis) of parallelepiped shaped case and truncated pyramidal cover, coated in black mastic and inlaid with mother-of-pearl elements, belonging to a group of utilitarian objects and small to medium sized furniture of mother-of-pearl decoration, made in Gujarat for the local market and for exporting . Of uncharacteristically large size within the scope of this extensive production, it does nonetheless fit into a subgroup defined by objects of identical decorative characteristics .
Its ancient design, as is often the case with other contemporary Gujarat productions, namely those made in turtle shell, corresponds to an Indian subcontinent typology characteristic of Islamic contexts predating the arrival of the Portuguese, and purposely conceived for storing, and safekeeping, Buddhist sacred texts, the sutras . The mother-of-pearl raw material for such objects was obtained from marine gastropod (Turbo marmoratus), and pearl oyster (Pinctada maxima) shells, the latter of whiter colour gradation than the former.
The lavish and intricate carpet like decoration reflects the long-lasting influence of the international Timurid style, as is evident on the cover decorative composition of three central lobate medallions alternating with large, mirrored palm trees on a ground of foliage scrolls, Chinese inspired and stylised lotus flowers and six petalled rosettes. These palms can be identified as Corypha umbraculifera, or talipot palm, a species native to Eastern and Southern India and Sri Lanka, whose leaves were traditionally used as support for writing. The sloping cover surfaces are decorated with framed floral scroll motifs, that are repeated on the upper edges of the box elevations, and scalloped leaf friezes.
The frontal and rear decoration follows a type of arrangement identical to the cover, featuring three lobate medallions with arabesque decorative motifs alternating with fan shaped palms, most certainly Borassus flabellifer, the Palmyra palm, a southern Asia autochthonous species. The lateral panels feature identical decoration but of one single medallion on a ground of foliage scrolls and lotus flowers.

The present chest is closely similar to the well-known example (40.0 x 55.0 x 32.0 cm) at the Descalzas Reales Monastery collection, in Madrid (inv. 00612591) , although the latter does not feature decorative medallions, it does however include identical Palmyra palms and Chinese inspired lotus flower motifs. It would have probably entered this Royal Monastery of Barefoot Clarisses, as a gift from Empress Maria of Austria (1528-1603) destined to protect the Martyr Saint Margaret of Antioch’s relics, which had been donated by the religious house’s founder, Joana of Austria (1535-1573), Princess of Portugal, and sister to King Filipe II of Spain. Together with another two mother-of-pearl and turtle shell Gujarati chests, this latter example was part of the “Relics Cabinet” (Relicario), formerly the Princess’s private oratory.

The chest has belonged to the famous Jim Dixon (1942-2020) collection. Dixon was a landscape architect known for his rugs, and other historic textiles, collection. His vast botanical knowledge and his passion for artistic depictions of the natural world, might have encouraged the purchasing of this object that has, probably in the 19th or early 20th century, undergone some alterations to its appearance. In addition to the loss of the pigeon-holes that it originally had in its interior, it was also supplemented with carved wooden mouldings to the cover rim and raised socle, alongside brass corner fittings and lock plate, elements that have been recently removed to return the chest to its original appearance. The inner surfaces have also been restituted to their painted decoration, and the minor losses to the mother-of-pearl inlays refilled, according to traditional techniques and materials. The wooden socle, as well as the cast gilt copper mounts fitted to the original positions, are now compatible with those from other chests of identical production and chronology, in public and private collections.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

Bibliography:

CRESPO, Hugo Miguel, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021

DIGBY, Simon, “The mother-of-pearl overlaid furniture of Gujarat: the holdings of the Victoria and Albert Museum”, in Robert Skelton et al (eds.), Facets of Indian Art, London, Victoria and Albert Museum, 1986, pp. 213-222

GARCÍA SANZ, Ana, “Relicarios de Oriente”, in Marina Alfonso Mola, Carlos Martínez Shaw (eds.), Oriente en Palacio. Tesoros Asiáticos en las Colecciones Reales Españolas (cat.), Madrid, Palacio Real de Madrid - Patrimonio Nacional, 2003, pp. 128-141

GARCÍA SANZ, Ana, Annemarie Jordan Gschwend, “Via Orientalis: Objetos del Lejano Oriente en el Monasterio de las Descalzas Reales”, Reales Sitios 138 (1998), pp. 25-39

--

Esta excepcional arqueta de grandes dimensões, de corpo paralelepipédico e tampa tronco-piramidal (em telhado de quatro águas e topo plano) foi construida em teca (Tectona grandis) e revestida a mástique negro e decorada com “embutidos” de madrepérola.
Este grande cofre / arqueta faz parte um grupo de objectos utilitários e peças de mobiliário de pequena e média dimensão produzidos no Guzarate com madrepérola e destinados tanto ao mercado interno como à exportação. Dentro desta produção, é um dos maiores exemplares que se conhece, pertence a um pequeno grupo de objectos decorados a mástique negra e com “embutidos” de madrepérola.
A forma corresponde, como acontece a de outras produzidas na mesma época no Guzarate em tartaruga, a uma tipologia em uso no subcontinente indiano e de âmbito islâmico, anterior à chegada dos primeiros portugueses. Trata-se de um formato antigo e extremo-oriental de contentor utilizado para proteger os textos sagrados do Budismo, os sutras.
A madrepérola tem origem nas conchas do gastrópode marinho Turbo marmoratus) e também da ostra perlífera, provavelmente da Pinctada maxima, de coloração mais esbranquiçada.
A sumptuosa e intrincada decoração em tapete espelha a influência duradoura do estilo timúrida internacional, tal como vemos na tampa, com três medalhões polilobados no campo central, separados por altas palmeiras em espelho, num fundo de enrolamentos vegetalistas, com flores-de-lótus estilizadas de inspiração chinesa e rosetas de seis pétalas. Estas palmeiras podem ser identificadas com a palmeira do Ceilão (Corypha umbraculifera), espécie nativa do leste e sul da Índia e Sri Lanka, onde as folhas eram tradicionalmente utilizadas como suporte para a escrita. As faces inclinadas da tampa são decoradas com enrolamentos florais emoldurados, que encontramos também na parte superior de todas as faces da caixa, por frisos de motivos repetidos em forma de folha recortada.
A decoração da frente e tardoz segue disposição semelhante à da tampa, com três medalhões polilobados com arabescos, separados por exuberantes palmeiras em forma de leque, certamente a palmeira de Palmira (Borassus flabellifer), nativa da Ásia do Sul. As ilhargas apresentam idêntica decoração, com um único medalhão sobre fundo de enrolamentos vegetalistas e flores-de-lótus.
Este cofre / arqueta é muito semelhante ao bem conhecido cofre-relicário (40,0 x 55,0 x 32,0 cm) do Monasterio de las Descalzas Reales, Madrid (inv. 00612591). Embora a de Madrid não inclua na sua decoração os medalhões, apresenta idênticas palmeiras de Palmira e flores-de-lótus estilizadas de origem chinesa. Terá entrado nas Descalzas Reales, um convento de freiras clarissas descalças sob patrocínio régio, talvez como oferta do imperatriz Maria de Áustria (1528-1603) para custodiar as relíquias da mártir Santa Margarida de Antioquia, doadas pela fundadora, Joana de Áustria (1535-1573), Princesa de Portugal. Junto com outros cofres guzarates em madrepérola e tartaruga, formou parte da câmara de relíquias (Relicario), outrora oratório privado da princesa.
Esta arqueta guzarata pertenceu à famosa colecção de Jim Dixon. Dixon (1943-2020) foi um arquitecto paisagista conhecido pela sua colecção de tapetes e outros têxteis de importância histórico-artística. O seu vasto conhecimento botânico e a paixão pelas representações artísticas do mundo natural podem ter motivado a aquisição desta arqueta. Provavelmente no século XIX ou inícios do século XX, o cofre sofreu algumas alterações na sua aparência. Para além de ter perdido os escaninhos que tinha no interior, acrescentaram-se à cintura da tampa e supedâneo uns frisos em madeira entalhada, junto com cantoneiras e fechadura de latão. Durante a recente intervenção estas adições foram removidas, devolvendo-se a aparência original da arqueta. Os interiores retornaram à superfície pintada original e as pequenas perdas na decoração em madrepérola foram preenchidas usando materiais e técnicas tradicionais. O soco de madeira segue agora os exemplares conhecidos em colecções públicas e privadas, assim como as ferragens de cobre dourado, produzidas por fundição e colocados nas furações originais seguindo como modelo peças desta mesma produção e cronologia.

Esta arqueta de guzarate pertenceu à famosa colecção de Jim Dixon. Dixon (1943-2020) foi um arquitecto paisagista conhecido pela sua colecção de tapetes e outros têxteis de importância histórico-artística. O seu vasto conhecimento botânico e a paixão pelas representações artísticas do mundo natural podem ter motivado a aquisição desta arqueta. Provavelmente no século XIX ou inícios do século XX, a arqueta sofreu algumas alterações na sua aparência. Para além de ter perdido os escaninhos que tinha no interior, acrescentaram-se à cintura da tampa e supedâneo uns frisos em madeira entalhada, junto com cantoneiras e fechadura de latão. Durante a recente intervenção de restauro estas adições foram removidas, devolvendo-se a aparência original da arqueta. Os interiores retornaram à superfície pintada original e as pequenas perdas na decoração em madrepérola foram preenchidas usando materiais e técnicas tradicionais. O soco de madeira segue agora os exemplares conhecidos em colecções públicas e privadas, assim como as ferragens de cobre dourado, produzidas por fundição e colocados nas furações originais, semelhantes às de peças desta mesma produção e cronologia.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

Bibliografia:

CRESPO, Hugo Miguel, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021

DIGBY, Simon, “The mother-of-pearl overlaid furniture of Gujarat: the holdings of the Victoria and Albert Museum”, in Robert Skelton et al (eds.), Facets of Indian Art, Londres, Victoria and Albert Museum, 1986, pp. 213-222

GARCÍA SANZ, Ana, “Relicarios de Oriente”, in Marina Alfonso Mola, Carlos Martínez Shaw (eds.), Oriente en Palacio. Tesoros Asiáticos en las Colecciones Reales Españolas (cat.), Madrid, Palacio Real de Madrid - Patrimonio Nacional, 2003, pp. 128-141

GARCÍA SANZ, Ana, Annemarie Jordan Gschwend, “Via Orientalis: Objetos del Lejano Oriente en el Monasterio de las Descalzas Reales”, Reales Sitios 138 (1998), pp. 25-39

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Diversos

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.