AI Weiwei: Paradigm

Apresentação


Se ter Ai Weiwei na São Roque é surpreendente, muito mais o é uma
exposição de porcelana e peças em Lego do artista.
Dir-me-ão que não tem nada a ver com o fio condutor da São
Roque. Enganam-se!
A grande paixão do artista pela cerâmica da China de que é, para
além do mais, um grande coleccionador, vai de encontro à minha predilecção
pela faiança portuguesa dos séculos XVI e XVII, dado o sincretismo
evidente com a porcelana chinesa.
As relações privilegiadas entre Portugal e o Oriente, fizeram com
que Lisboa se impusesse como o primeiro mercado europeu de produtos
exóticos, entre os quais a porcelana. O fascínio pelo oriente dominou o
padrão cultural e artístico luso, a partir da segunda metade do século XVI
e, a porcelana a ele não escapou. Este ambiente foi propício ao desenvolvimento
de uma faiança singular, seguindo os modelos orientais, que mais
tarde iria influenciar toda a produção europeia.
A faiança portuguesa deu origem às primeiras “chinoiserie”, muito
antes da transposição deste gosto orientalista para o mobiliário, a pintura
ou outro tipo de artes decorativas, que vieram a assumir esta estética mais
tarde, já no século XVIII, quer em França, quer em Inglaterra.
Os oleiros deram largas à sua imaginação e criatividade, inserindo
elementos ocidentais em ambientes marcadamente chineses e vice-versa,
tanto nas representações da paisagem, como na introdução de diferentes
elementos antropomórficos e zoomórficos. Em todos os casos, é notório o
desconhecimento do simbolismo da ornamentação da porcelana chinesa,
que vai ser interpretada através de ingénuas soluções decorativas, com
tanto de simplicidade, como de beleza.
Da mesma forma que os portugueses integraram nas suas criações a
estética oriental, Ai Weiwei modifica e/ou acrescenta contemporaneamente
aos padrões antigos. E não só na cerâmica: fá-lo também noutros materiais,
como na sua versão da “Menina do Brinco de Pérola” de Vermeer, em Lego,
que integra a exposição. Acredita na fusão, não só da antiguidade com a
modernidade, mas também de culturas, neste caso portuguesa e chinesa,
de que é exemplo a obra “Pazar”, inspirada no trabalho de Bordalo Pinheiro,
uma homenagem ao país que escolheu para viver.
E enquadra-se perfeitamente na nossa “missão”: fusão de culturas.
O projeto da São Roque visa a aproximação de povos, diferentes culturas
e religiões e a miscigenação de que tanto temos falado e partilhado.
Esperamos que, enaltecendo a igualdade—“Todos Diferentes, Todos
Iguais”—ajudemos a promover a globalização, contribuindo para pôr fim
às discriminações. Consideramos que a exposição de Ai Weiwei, na sua
luta pela liberdade de expressão e contra o totalitarismo, vai de encontro
ao nosso objetivo.
Obrigado Ai Weiwei!

 

 Mário Roque

 

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