Bernardo Marques: MOMENTOS INADIÁVEIS

Overview

Natural de Silves, onde nasce em 1898 (m. Lisboa 1962) no
seio de uma família abastada, Bernardo Loureiro Marques
vem para Lisboa em 1918 para frequentar a Faculdade de
Letras. Abandona o curso em 1921 e opta pela carreira
artística. Desenhador, ilustrador, capista, publicitário,
decorador, cenógrafo, figurinista e gráfico, a sua obra, vasta
e multifacetada, confere-lhe um lugar de destaque na arte
portuguesa contemporânea. Expõe colectivamente desde 1920
(III Exposição dos Humoristas portugueses), mas só após a sua
morte a sua obra será mostrada individualmente. Condecorado
com o grau de Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada (1941),
a sua obra foi várias vezes premiada: 1955, Prémio de Desenho,
Exposição Iconográfica das Pescas; 1957, Prémios de Aguarela e
Desenho, I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste
Gulbenkian; 1958, Prémio especial de Pintura, III Exposição de
Artes Plásticas da Câmara Municipal de Almada.
Como quase todos os artistas da segunda geração dos
modernistas, é no campo da caricatura e ilustração que
desenvolve obra inicial e encontra mercado. Em 1920, inicia
a sua actividade de ilustrador com desenhos humorísticos e
colabora intensamente nas principais publicações periódicas
da época, com uma abundante produção entre o mundano e
o popular: ABC, Ilustração Portuguesa, ABC a Rir, O Século, A
Batalha, Diário de Lisboa, Contemporânea, Revista Portuguesa,
Europa, Diário de Notícias (onde publica de 1925 a 1929 a crónica
ilustrada “Os Domingos de Lisboa”), Ilustração, Sempre Fixe,
Civilização, e nas revistas de cinema Imagem, Kino e Girasol. Em
1924 recebe (com Viana, Pacheko, Stuart, Almada, Barradas
e Soares) a encomenda da decoração do café A Brasileira do
Chiado, um friso decorativo, que foi exposto, tal como as
restantes obras, no I Salão de Outono na Sociedade Nacional de
Belas‑Artes em 1925.
Uma estadia em Berlim, em 1929, aguça-lhe a percepção
da estagnação da vida artística em Portugal e permite-lhe o
contacto com o expressionisno alemão, com a obra de George
Grosz em particular. Os desenhos e as aguarelas de Berlim são
registos de um impiedoso observador da sociedade urbana,
e reflectem já um certo desencanto e amargura associados a
um traço mais violento e expressionista que caracterizam a
produção dos anos que se seguem. Expõe obras desse período
no I Salão dos Independentes (1930). Participa ainda no II
Salão dos Independentes (1931) e no I Salão de Inverno da
SNBA (1932). Na década de 1930 estuda artes gráficas em Paris
(1934), cria, Com Keil do Amaral, os cenários do filme O Trevo
de Quatro Folhas (1936) de Chianca de Garcia e integra a equipa
de António Ferro, responsável pela decoração dos Pavilhões
Portugueses da Exposição Colonial Internacional de Vincennes
(1932), da Exposição Internacional de Paris (1937), de Nova
Iorque e de S. Francisco (1939) e do Pavilhão da Colonização da
Exposição do Mundo Português (1940).
Apurando-se em técnica, vai, melancolicamente, passar
gradualmente da análise dos homens à análise das coisas e
concentrar a sua atenção na paisagem, rural ou urbana. Os anos
de 1940 sublinham um percurso profissional de sucesso, entre
a criação de cenários e figurinos (Bailado Verde Gaio, 1940),
a decoração (paquetes Vera Cruz, 1949 e Santa Maria, 1951), a
publicidade, a ilustração e as artes gráficas, colaborando com
várias editoras e aceitando encomendas oficiais do S.P.N./ S.N.I.
Assegura também a direcção artística da Editorial Ática (1947)
e das revistas Panorama (1941– 1949) e Litoral (1944–1945) e
colabora na revista Atlântico (1942– 1945). Assume também a
direcção gráfica da revista Colóquio (1959–1962). Entre 1949 e
1950, é responsável pela equipa de decoradores das Feiras das
Indústrias Portuguesas. Representa Portugal na bienal Bianco
e Nero em 1952 e integra a exposição comemorativa do IV
Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo em 1954.
A partir de 1948, volta ao desenho como actividade
autónoma, centrando-se na análise da paisagem, em espaços
de solidão, despovoados. Ignorando as formas estéticas
que surgiam, Bernardo Marques assumiu uma postura
simultaneamente sensível e distanciada, transferindo para a
paisagem o seu espaço de intimidade. O percurso que se isola e
se matura no silêncio da paisagem, alheio a correntes plásticas
e ideológicas, confere-lhe um certo sentido de liberdade
e de independência. Contemporâneo da segunda geração
modernista, Bernardo Marques participou activamente na
difusão do gosto moderno, sem por isso prescindir de formas
de expressão muito pessoais. Foi acima de tudo um grande
desenhador.

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