Contador Cingalo-português / A Sinhalese-Portuguese Cabinet, Ceilão, séc. XVII / Ceylon, 17th. c.
marfim e prata / ivory and silver
26,5 x 42,5 x 31 cm
F1428
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This impressive table cabinet, of exotic wood carcass, is fully coated with intricately carved and thin ivory plaques of tight tendrils, flowers, and small birds scrolls decoration. It features six drawers of varying sizes arranged over three tiers. Resting on spherical silver feet, the cabinet is ornamented with sumptuous finely chased pierced and repousse silver fittings of vegetal motifs scrolls that include six corner brackets, oval lock escutcheons on each drawer front, tacks securing the ivory to the wooden structure, two heavy side handles of diamond-shaped escutcheons, and narrow bands decorating the carpet-like composition on the box top panel.The minutely detailed carved ornamental motifs, featuring vine tendrils and flowers interspersed with small birds, is quintessentially Ceylonese. Similar decorative compositions are also evident throughout the mitred borders of outer surfaces, and also on inner door panels and drawer fronts of some examples from a select group of carved ivory cabinets depicting Adam and Eve after European prints, such as one (24.0 x 27.0 x 18.0 cm) at the Victoria and Albert Museum, London (inv. 1067:1 to 6-1855). According to Veenendaal, one of the scholars who has researched this group, the backward-scrolling tendrils are known as ‘recalcitrant spiral motif’, a plant stem motif associated with the ‘universal germ’, and its presence in this group of Adam and Eve cabinets would allude to the enrichment of nature brought about by the Creation of Man. Nevertheless, its presence in objects devoid of any religious meaning makes such interpretation pointless.Little is known regarding the exact production origin of these pieces, yet it is safe to assume that such export objects were created in the vicinity of the settled European clientele that commissioned them, in major coastal trading centres in Ceylon such as Colombo, Galle or Matara.Portable luxurious cabinets such as the one herewith described were destined for storing documents, currency, and precious items such as jewellery. Albeit quite straightforward in terms of their construction, their strong visual impact relied on the exuberance of their decoration and on the exotic nature of the raw materials, particularly the unusual and durable tropical timbers.Manufactured in Ceylon (Sri Lanka), cabinets of this kind were often commissioned by Portuguese and Dutch officials and by wealthy merchants. While their format is clearly copied from a European prototype, the iconographic elements and the style of the refined ivory carvings are characteristic of Ceylonese sumptuary art. Extant pieces like the present cabinet, are very rare and only seldomly present in public and/or in private collections.
Hugo Miguel Crespo
Este imponente contador de mesa do Ceilão, executado na segunda metade de seiscentos, apresenta estrutura em madeira exótica e é integralmente coberto de finas placas de marfim finamente entalhadas com apertados enrolamentos de gavinhas, flores e pequenos pássaros.
Apresenta seis gavetas de dimensões variadas dispostas em três fiadas. O motivo decorativo de enrolamentos de videira, gavinhas e flores, semeados de pequenas aves, minuciosamente entalhadas no marfim, é tipicamente cingalês. Assente sobre pés esféricos de prata, este contador é enriquecido por sumptuosas ferragens de prata vazada e finamente repuxada e cinzelada com enrolamentos vegetalistas. Para além dos pés, as ferragens incluem seis cantoneiras, seis escudetes de fechadura ovais em cada uma das frentes das gavetas, vários balmázios decorativos fixando as placas de marfim à estrutura de madeira, duas pesadas gualdras ou alças laterais dispostas nas ilhargas, com seus escudetes de fixação em forma de losango, e bandas estreitas a decorar as arestas da composição em tapete na face do topo.
Esquema decorativo semelhante é utilizado nas cercaduras das faces exteriores (e também no interior dos tampos de abater) e frentes de gavetas de alguns exemplares de um pequeno grupo de caixas-escritório e ventós de marfim entalhado com a representação do par genesíaco de Adão e Eva baseada em gravuras europeias, tais como um (24,0 x 27,0 x 18,0 cm) no Victoria and Albert Museum, Londres (inv. 1067: 1 a 6-1855).
De acordo com Veenendaal, um dos autores que se debruçou sobre esta particular produção, estes enrolamentos vegetalistas dispostos em sentido anti-horário ou contrário, são conhecidos como “motivo da espiral recalcitrante”, um motivo de caule ou haste de planta associado ao “germe universal” e, de acordo com o mesmo autor, o seu uso neste grupo específico de escritórios representando Adão e Eva complementaria em sentido essa figuração genesíaca, ao transmitir o desabrochar da natureza pela criação do Homem.
No entanto, a sua utilização em objectos desprovidos de qualquer carácter religioso torna uma tal interpretação sem sentido. Pouco se sabe sobre o lugar exacto de fabrico destas peças, mas é seguro pensar que tais objetos para exportação foram criados nas imediações da clientela europeia que as encomendou, estabelecida em grandes centros de comércio nas zonas costeiras do Ceilão tais como Colombo, Galle ou Matara.
Contadores portáteis e luxuosos deste tipo serviam para proteger documentos, dinheiro e objectos preciosos, tais como peças de joalharia. Sendo simples quanto à construção, o seu impacto visual dependia da riqueza da sua decoração e do carácter exótico dos materiais usados, nomeadamente madeiras tropicais. Contadores deste tipo foram produzidos no Ceilão (Sri Lanka) sob encomenda de oficiais e mercadores portugueses, mas também holandeses. Se por um lado a forma é claramente europeia, a iconografia e o estilo da refinada decoração entalhada em marfim são, no geral, característicos da arte sumptuária cingalesa. Peças semelhantes quanto à construção e repertório decorativo podem ser encontradas em número muito reduzido em colecções públicas e particulares.
Hugo Miguel Crespo
Este imponente contador de mesa do Ceilão, executado na segunda metade de seiscentos, apresenta estrutura em madeira exótica e é integralmente coberto de finas placas de marfim finamente entalhadas com apertados enrolamentos de gavinhas, flores e pequenos pássaros.
Apresenta seis gavetas de dimensões variadas dispostas em três fiadas. O motivo decorativo de enrolamentos de videira, gavinhas e flores, semeados de pequenas aves, minuciosamente entalhadas no marfim, é tipicamente cingalês. Assente sobre pés esféricos de prata, este contador é enriquecido por sumptuosas ferragens de prata vazada e finamente repuxada e cinzelada com enrolamentos vegetalistas. Para além dos pés, as ferragens incluem seis cantoneiras, seis escudetes de fechadura ovais em cada uma das frentes das gavetas, vários balmázios decorativos fixando as placas de marfim à estrutura de madeira, duas pesadas gualdras ou alças laterais dispostas nas ilhargas, com seus escudetes de fixação em forma de losango, e bandas estreitas a decorar as arestas da composição em tapete na face do topo.
Esquema decorativo semelhante é utilizado nas cercaduras das faces exteriores (e também no interior dos tampos de abater) e frentes de gavetas de alguns exemplares de um pequeno grupo de caixas-escritório e ventós de marfim entalhado com a representação do par genesíaco de Adão e Eva baseada em gravuras europeias, tais como um (24,0 x 27,0 x 18,0 cm) no Victoria and Albert Museum, Londres (inv. 1067: 1 a 6-1855).
De acordo com Veenendaal, um dos autores que se debruçou sobre esta particular produção, estes enrolamentos vegetalistas dispostos em sentido anti-horário ou contrário, são conhecidos como “motivo da espiral recalcitrante”, um motivo de caule ou haste de planta associado ao “germe universal” e, de acordo com o mesmo autor, o seu uso neste grupo específico de escritórios representando Adão e Eva complementaria em sentido essa figuração genesíaca, ao transmitir o desabrochar da natureza pela criação do Homem.
No entanto, a sua utilização em objectos desprovidos de qualquer carácter religioso torna uma tal interpretação sem sentido. Pouco se sabe sobre o lugar exacto de fabrico destas peças, mas é seguro pensar que tais objetos para exportação foram criados nas imediações da clientela europeia que as encomendou, estabelecida em grandes centros de comércio nas zonas costeiras do Ceilão tais como Colombo, Galle ou Matara.
Contadores portáteis e luxuosos deste tipo serviam para proteger documentos, dinheiro e objectos preciosos, tais como peças de joalharia. Sendo simples quanto à construção, o seu impacto visual dependia da riqueza da sua decoração e do carácter exótico dos materiais usados, nomeadamente madeiras tropicais. Contadores deste tipo foram produzidos no Ceilão (Sri Lanka) sob encomenda de oficiais e mercadores portugueses, mas também holandeses. Se por um lado a forma é claramente europeia, a iconografia e o estilo da refinada decoração entalhada em marfim são, no geral, característicos da arte sumptuária cingalesa. Peças semelhantes quanto à construção e repertório decorativo podem ser encontradas em número muito reduzido em colecções públicas e particulares.