Prato de Aparato, 1660-1680
faiança portuguesa / portuguese faience
6,5 x 38,0 x 38,0 cm
C651
Exceptional 17th century Portuguese faience display plate of wide
raised lip and dense cobalt-blue and manganese-purple ‘desenho
miúdo’ decorative motifs, influenced by Chinese Ming-Qing transitional porcelain (1620–1683) aesthetics.
Reinforcing the importance of this plate it is essential to
underline the paste quality and the glaze fineness as well as the
mastery of the cobalt-blue decoration.
In the well, defined by polylobate filleting, a dense and
complex Chinese landscape with three buildings of lusooriental
characteristics, two with smoking chimneys, amongst trees, vegetal motifs and a large flowering peony. Centrally placed under
a cloudy sky, a Chinese male figure dressed in a tunic leans on a
staff, while holding a document in his left hand, perhaps a music
sheet. Highlighting the central scene a white band with six-bead
pyramidal groups alternating with small foliage appointments.
The lip is highlighted by four elliptic cartouches encircling
groups of three paper scrolls, similar to music sheets and inspired
by Chinese painting scrolls—insignia of scholars—wrapped in
undulated ribbons, alternating with trees and clouds landscapes
with seated Chinese male figures, of which two hold a document
(similar to the central figure), and the remaining two sit by an
oriental percussion instrument.
The wavy textured under lip, evidencing the potter’s wheel
throwing work, is decorated by seven blue and purple foliage
branches.
It is likely that both the central figure and the four figures
on the plate lip, allude to the history of Lan Caihe (cf.: n.º 55), one
of the eight Immortals of Chinese mythology, who travelled from
city to city, composing and singing songs that predicted the future and alluded to immortality. This musical propensity turned Lan
Caihe into the patron of travelling poet-singers.
This plate is one of the most complex and representative
pieces for the Chinese porcelain taste in Portugal, which spread
throughout Europe from the early 16th century onwards. This
taste was absorbed by the Portuguese potters in the production
of faience pieces for most of the 17th century, becoming a main
characteristic of the Lisbon workshops exoticism and of the taste
for ‘chinoiseries’ revealed by Portuguese faience.
Excepcional prato de aparato com aba larga e levantada, em faiança portuguesa da segunda metade do século XVII. Pintado a azul-cobalto e a negro de manganês, com abundante decoração de “desenho miúdo”, inspira-se em motivos e ornatos da porcelana chinesa de transição Ming–Qing. Menciona-se a grande relevância artística desta peça, onde se destaca a qualidade da pasta e a finura do esmalte estanífero, bem como a mestria da pintura a azul-cobalto. O centro, delimitado por filete polilobado, está integralmente preenchido por complexa paisagem chinesa, na qual se evidenciam três edifícios de características miscigenadas luso-orientais, dois com chaminés fumegantes, rodeados por árvores e outros elementos vegetalistas, destacando-se uma peónia desabrochada. Sob um céu nublado e acinzentado, sobressai uma figura masculina chinesa, vestida de túnica, que se apoia num cajado e segura, na mão esquerda, um documento que poderá ser uma pauta de música. O covo é acentuado por uma faixa branca com grupos de seis contas dispostas em pirâmide, intercaladas por pequenas ramagens. Na aba, evidenciam-se quatro reservas elípticas, de molduras acentuadas, que enquadram grupos de três maços de documentos, atribuíveis a pautas musicais—inspirados nos símbolos chineses “rolos de pintura”, emblema de letrados—envolvidos por fitas onduladas. Entre as reservas, quatro paisagens com árvores e nuvens, centradas por figuras de chineses sentados, dois segurando um documento (semelhante ao da figura central) e os outros, em frente de um instrumento oriental de percussão. O tardoz, com frete recuado e aba ondulada, evidencia o trabalho da roda do oleiro, decorado com sete ramagens equidistantes, pintadas a azul com caules desenhados a manganês. É provável que a figura central e as quatro personagens da aba representem a história do lendário Lan Cahe (cf.: n.º 55), um dos Oito Imortais da mitologia chinesa, que viajava de cidade em cidade, compondo e cantando canções que previam o futuro e aludiam à imortalidade. A sua habilidade musical tornou-o patrono dos poetas. Esta peça é uma das mais representativas da difusão do gosto pela porcelana chinesa na Europa, processo no qual os portugueses tiveram um papel pioneiro, desde o início do século XVI. Este gosto foi largamente absorvido pela decoração da faiança lisboeta durante a centúria de Seiscentos, podendo considerar-se que esta obra-prima é um dos mais belos exemplos do exotismo das oficinas lisboetas e do gosto pela chinoiserie, que as faianças portuguesas revelaram.
Excepcional prato de aparato com aba larga e levantada, em faiança portuguesa da segunda metade do século XVII. Pintado a azul-cobalto e a negro de manganês, com abundante decoração de “desenho miúdo”, inspira-se em motivos e ornatos da porcelana chinesa de transição Ming–Qing. Menciona-se a grande relevância artística desta peça, onde se destaca a qualidade da pasta e a finura do esmalte estanífero, bem como a mestria da pintura a azul-cobalto. O centro, delimitado por filete polilobado, está integralmente preenchido por complexa paisagem chinesa, na qual se evidenciam três edifícios de características miscigenadas luso-orientais, dois com chaminés fumegantes, rodeados por árvores e outros elementos vegetalistas, destacando-se uma peónia desabrochada. Sob um céu nublado e acinzentado, sobressai uma figura masculina chinesa, vestida de túnica, que se apoia num cajado e segura, na mão esquerda, um documento que poderá ser uma pauta de música. O covo é acentuado por uma faixa branca com grupos de seis contas dispostas em pirâmide, intercaladas por pequenas ramagens. Na aba, evidenciam-se quatro reservas elípticas, de molduras acentuadas, que enquadram grupos de três maços de documentos, atribuíveis a pautas musicais—inspirados nos símbolos chineses “rolos de pintura”, emblema de letrados—envolvidos por fitas onduladas. Entre as reservas, quatro paisagens com árvores e nuvens, centradas por figuras de chineses sentados, dois segurando um documento (semelhante ao da figura central) e os outros, em frente de um instrumento oriental de percussão. O tardoz, com frete recuado e aba ondulada, evidencia o trabalho da roda do oleiro, decorado com sete ramagens equidistantes, pintadas a azul com caules desenhados a manganês. É provável que a figura central e as quatro personagens da aba representem a história do lendário Lan Cahe (cf.: n.º 55), um dos Oito Imortais da mitologia chinesa, que viajava de cidade em cidade, compondo e cantando canções que previam o futuro e aludiam à imortalidade. A sua habilidade musical tornou-o patrono dos poetas. Esta peça é uma das mais representativas da difusão do gosto pela porcelana chinesa na Europa, processo no qual os portugueses tiveram um papel pioneiro, desde o início do século XVI. Este gosto foi largamente absorvido pela decoração da faiança lisboeta durante a centúria de Seiscentos, podendo considerar-se que esta obra-prima é um dos mais belos exemplos do exotismo das oficinas lisboetas e do gosto pela chinoiserie, que as faianças portuguesas revelaram.
Provenance
Col. M.B., Alcobaça; Col. Arthur Sandão, PortoPublications
ROQUE, Mário, Lisboa na Origem da Chinoiserie, Lisboa: São Roque, 2018 (pp. 170-170)Faiança Portuguesa o ateneu Comercial do Porto, Porto, 1997 (cat. p. 35)
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