Olifante Bini-Português, Benin (actual Nigéria), Séc. XVII/XVIII
marfim
40 x 8 x 5 cm
F866
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Raro olifante, ou trompa de caça, em marfim esculpido, trabalho provavelmente da antiga Serra Leoa, na costa ocidental africana. De grande sobriedade na decoração, apresenta corpo liso facetado, de secção oitavada, terminando numa gola de tom mais claro, aspetos que contribuem para a sua raridade e lhe conferem grande elegância. Na pequena curvatura, sobressai uma pequena argola entalhada para suspensão durante o transporte ou o seu uso. Na grande curvatura, junto ao topo, dois pequenos orifícios para sopro. Um triplo anel separa a trompa do bocal simulado, ornamentado com linhas paralelas incisas em ziguezague.Este tipo de artefactos em marfim de produção africana, bem assim como as colheres, os garfos, os saleiros e as píxides de idêntica proveniência, eram geralmente produzidos por encomenda europeia, na zona geográfica correspondente ao território denominado Serra Leoa pelos navegadores portugueses. Conhecidos na Europa desde os tempos medievais, estes instrumentos esculpidos com o formato da presa do elefante, desempenhavam uma dupla função na cultura da guerra e nas caçadas. Para os povos africanos, marcavam o início e o fim dos ataques, servindo como exemplo, o uso bélico de trombetas e buzinas de marfim entre os Cassangas, na região da atual Casamansa e da Serra Leoa, durante a segunda metade do século XVI.De uma forma geral, a secção de diâmetro mais reduzido de um olifante, apresenta um bocal, frequentemente composto por uma ou duas peças de formato troncocónico justapostas. Os instrumentos para uso africano diferem daqueles que eram exportados para o velho continente, via Lisboa, na localização do orifício de sopro, que é transversal da parte côncava.Na grande viagem, temporal e geográfica, dos marinheiros Portugueses ao longo do continente africano, a Serra Leoa, onde Pedro de Sintra chega em 1460, viria a ser a primeira região explorada pelos marinheiros lusos. Aí encontraram sociedades organizadas - principalmente nos reinos Sapi, antepassados dos Bulom (Sherbo), Temne, Quissis e outros pequenos povos da atual Serra Leoa, onde se transformavam materiais preciosos, como o marfim, em objetos de beleza singular.Os Sapi viviam em pequenas comunidades lideradas por um chefe local que, por sua vez, prestava vassalagem a um rei ou chefe supremo. Esta estrutura política sem estado, diferia consideravelmente da dos reinos estruturados com maior centralidade, como o Benim e o Kongo.No caso específico da Serra Leoa, não se encontram nas fontes históricas referências ao tráfico de escravos na zona da Ilha Sherbro / “Cape Mount”, antes de 1680. Este desenvolvimento relativamente tardio da atividade esclavagista poderá ter sido, conforme sugerido por Adam Jones, efeito da existência de produtos como o marfim. Em conjunto, a abundância da matéria-prima, a existência de artífices locais e a manutenção de uma relação comercial em pé de igualdade terão contribuído para, e estimulado o desenvolvimento de uma indústria local de objetos nesse material.A classificação de “Afro-Portugueses” foi primeiro utilizada pelo antropologista William Buller Fagg (1914-1992) em 1959, para designar um grupo de esculturas em marfim existentes no Museu Britânico de Londres, onde era conservador. Atribuídos a artífices africanos, estes objetos estão com frequência adornados com motivos europeus – em particular temas heráldicos relacionados com a corte Portuguesa, tais como as armas da Casa Reinante de Aviz e da Ordem Militar de Cristo bem como a Esfera Armilar – que cobrem as superfícies de taças cobertas (saleiros e píxides), de cabos de punhal ou de faca, de olifantes, de colheres e de garfos, produzidos para exportação. Durante o Renascimento algumas peças de maior sofisticação entram em coleções reais, tais como as da família Médici, Grãos Duques da Toscana, do Eleitor da Saxónia e do Arquiduque Ferdinando do Tirol. Referências a estes objetos, apesar de por vezes erróneas, podem ser encontradas em vários inventários. Por exemplo, dois olifantes que pertenceram aos Médicis são detalhadamente descritos e ilustrados numa obra do Dinamarquês Olaus Worm, publicada em 1643, no qual se descreve a utilização dos olifantes como “objetos para a caça”, atribuindo as suas referências à Casa Real de Portugal.
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