China Trade
Whampoa, ca. 1830
óleo s/ tela
27 x 45 cm
Não assinado e não datado
D1274 (b)
INTRODUÇÃO CHINA TRADE
O comércio entre a China e o Ocidente proliferou ao longo da História, quer através da Rota da Seda quer, mais tarde, por via marítima.
Com o encerramento da Rota da Seda no século XIV/XV, que levava os mercadores turcos até à Ásia, através da Pérsia, os europeus procuraram novas vias para aceder ao Extremo Oriente e às suas cobiçadas sedas, chá, porcelanas e outros objectos de luxo.
Os portugueses foram os primeiros a alcançar este objectivo com a descoberta do Caminho Marítimo para a India e o estabelecimento em Macau (1557), território que se tornou na mais importante plataforma de acesso da civilização ocidental ao Celeste Império, transformando-se num dos grandes empórios da Ásia marítima.
Como intermediários privilegiados, os navios portugueses participaram de forma intensa nas grandes rotas do comércio internacional entre a China e outras regiões asiáticas e europeias, gerando o intercâmbio de culturas entre o Oriente e o Ocidente.
Este monopólio durou até 1685, altura em que o Imperador Kangshi promulgou, por édito imperial, a abertura do porto de Cantão a outras potências europeias. Com o encerramento de todos os portos em 1757, no reinado do Imperador Qianlong, Cantão passou a ser o único porto chinês aberto ao comércio internacional.
Convenientemente situado na foz do Rio das pérolas, nas imediações das ilhas de Honan, Cantão tornou-se a mais importante cidade no sul da China, local onde os mercadores ocidentais eram faustosamente recebidos. Foi estabelecida uma área reservada aos estrangeiros, fora dos muros da cidade, com um conjunto de regras que visavam impedir o contacto entre a população chinesa e os ocidentais.
Aí se estabeleceram as principais companhias europeias, constituindo 13 entrepostos ou feitorias, em chinês “hong”. Inglaterra, Holanda, França, Dinamarca, Suécia e América, entre outros, passaram a ter uma presença estabelecida em Cantão, comercio que durou até a primeira guerra do ópio.
A consequência imediata foi o aumento do tráfego em Macau, ponto de acesso a este novo porto. A sua importante localização, na foz do Rio das Pérolas, conduzia à passagem para ilha de Whampoa, ultimo reduto antes de Guangzhu (Cantão).
A presença dos países ocidentais não era, no entanto, pacifica e as trocas comerciais eram permitidas sob determinadas condições. O Imperador Qianlong implementou o sistema cantonês como meio de controlar os ocidentais, proibindo a venda direta dos seus produtos. Era permitido negociar com os mercadores chineses (hongs), que pertenciam ao monopólio conhecido por Cohong – guilda de mercadores chins oriundos da cidade, que estavam sobre a jurisdição do governador e de um supervisor aduaneiro (hoppo). Eram eles que estabeleciam cotas aos produtos e taxas a cobrar.
No entanto, poucos bens ocidentais tinham mercado significativo na China, suscetíveis de ser bens de troca, tornando o comércio difícil, pelo que no final do século XVIII, britânicos e os americanos utilizavam o ópio, como moeda de troca para conseguir o equilíbrio comercial.
Em 1830 os ingleses obtiveram exclusividade das operações comerciais no porto de Cantão. O grande défice em matéria-prima conduziu ao aumento do tráfico de ópio indiano para o Império do Meio (China) e o governo de Pequim proibiu este tráfico, o que levou a coroa britânica a lançar mão de sua força militar terminando com o fim do comércio de Cantão em 1839.
Pintura
A influência europeia na arte chinesa só se fez sentir nos finais do século XVIII, com a chegada dos Ingleses e franceses, que estimularam as encomendas com destino à Europa. Para além de porcelana, foram encomendadas pinturas, lacas, marfins e mobiliário ao gosto europeu, que os orientais executaram de forma perfeita. Este comércio permitiu a divulgação da arte chinesa e também a sua imitação, a chinoiserie.
Na pintura a China Trade retratava produtos de exportação (chá, seda, porcelana) flora e faunas autóctones, cenas da vida quotidiana, retratos e paisagens, em especial dos locais mais visitados pelos estrangeiros. Verdadeiros postais e lembranças muito pretendidas por quem visitava estas paragens, hoje são uma importante fonte histórica.
Pintados por artistas chineses que aprenderam o estilo ocidental, alguns sobre a tutela de artistas ocidentais que residiam nos portos chineses, particularmente em Macau são um trabalho de oficina, feito por vários artistas, para atender à grande demanda que se fazia sentir. O resultado foi um estilo híbrido, onde se nota perícia e requinte de realização, descritiva e minuciosa, mas de perspetiva mais plana, sem o rigor utilizado na pintura ocidental e com uma paleta de cores vivas e luminosas.
Posteriormente, nos seus pequenos barcos remavam até aos navios recém-chegados, na esperança de conseguirem vender os seus trabalhos.
Dentro das pinturas China trade, concentremo-nos aqui nas que reproduziam motivos marítimos e em particular as que ilustram o comércio entre europeus e chineses. Imagens desta azáfama, que chegaram aos nossos dias através das pinturas compradas pelos comerciantes como lembranças e cujo charme está, não só na beleza das paisagens, mas também na qualidade do desenho e na história que encerram, maravilhosas janelas sobre a história mundial do seculo XIX.
O conjunto clássico são quatro pinturas que retratam o percurso sequencial dos barcos europeus: Macau, Boca do Tigre, Whampoa (Pazhou) e Cantão. Macau, o primeiro local de terra firme quando avistavam a China; Boca do Tigre, a entrada impressionante no Rio das Pérolas; Whampoa, o ancoradouro final dos barcos e Cantão, o último destino.
As pinturas que apresentamos correspondem a três etapas do processo e inserem-se nos parâmetros do China Trade. Testemunhos que permitem a perceção da geografia dos locais, as arquitecturas e as vivências quotidianas na Praia Grande de Macau, Boca do Tigre e ilha de Whampoa elas carregam um senso documental de precisão e que nos surpreendem pela informação que fornecem ao espectador acerca do corrupio das actividades comerciais e portuárias que se desenrolavam nestes portos à época.
Vista da baía da ilha de Whampoa, (ao centro), a moderna Pazhou. Ao largo, estão fundeados, com as velas recolhidas, inúmeros veleiros das diversas potencias comerciais europeias, identificados pelas bandeiras içadas nos seus mastros. Barcos chineses, juncos e sampanas, entre os navios ocidentais servem de apoio para o transporte de passageiros e mercadorias e outros fins utilitários como tarefas de limpeza, lavagem de roupa e outras necessidades quotidianas dos tripulantes dos East Indiaman.
Depois de deixarem a “Boca do Tigre”, os navios navegavam cerca de trinta e cinco quilómetros, passando por algumas rochas e bancos de areia que exigiam um cuidadoso cálculo de maré, e onde eram guiados por pequenos barcos chineses a troco de gratificação, alcançando a baía de Whampoa, um porto de águas profundas, no Rio das Pérolas.
Os navios estrangeiros não estavam autorizados a subir o rio, até Cantão, onde se localizavam as feitorias, ficando aqui ancorados. A carga dos navios ocidentais eram normalmente aqui descarregadas e levadas por juncos chineses para as Hong (feitorias) de Cantão.
O comércio entre a China e o Ocidente proliferou ao longo da História, quer através da Rota da Seda quer, mais tarde, por via marítima.
Com o encerramento da Rota da Seda no século XIV/XV, que levava os mercadores turcos até à Ásia, através da Pérsia, os europeus procuraram novas vias para aceder ao Extremo Oriente e às suas cobiçadas sedas, chá, porcelanas e outros objectos de luxo.
Os portugueses foram os primeiros a alcançar este objectivo com a descoberta do Caminho Marítimo para a India e o estabelecimento em Macau (1557), território que se tornou na mais importante plataforma de acesso da civilização ocidental ao Celeste Império, transformando-se num dos grandes empórios da Ásia marítima.
Como intermediários privilegiados, os navios portugueses participaram de forma intensa nas grandes rotas do comércio internacional entre a China e outras regiões asiáticas e europeias, gerando o intercâmbio de culturas entre o Oriente e o Ocidente.
Este monopólio durou até 1685, altura em que o Imperador Kangshi promulgou, por édito imperial, a abertura do porto de Cantão a outras potências europeias. Com o encerramento de todos os portos em 1757, no reinado do Imperador Qianlong, Cantão passou a ser o único porto chinês aberto ao comércio internacional.
Convenientemente situado na foz do Rio das pérolas, nas imediações das ilhas de Honan, Cantão tornou-se a mais importante cidade no sul da China, local onde os mercadores ocidentais eram faustosamente recebidos. Foi estabelecida uma área reservada aos estrangeiros, fora dos muros da cidade, com um conjunto de regras que visavam impedir o contacto entre a população chinesa e os ocidentais.
Aí se estabeleceram as principais companhias europeias, constituindo 13 entrepostos ou feitorias, em chinês “hong”. Inglaterra, Holanda, França, Dinamarca, Suécia e América, entre outros, passaram a ter uma presença estabelecida em Cantão, comercio que durou até a primeira guerra do ópio.
A consequência imediata foi o aumento do tráfego em Macau, ponto de acesso a este novo porto. A sua importante localização, na foz do Rio das Pérolas, conduzia à passagem para ilha de Whampoa, ultimo reduto antes de Guangzhu (Cantão).
A presença dos países ocidentais não era, no entanto, pacifica e as trocas comerciais eram permitidas sob determinadas condições. O Imperador Qianlong implementou o sistema cantonês como meio de controlar os ocidentais, proibindo a venda direta dos seus produtos. Era permitido negociar com os mercadores chineses (hongs), que pertenciam ao monopólio conhecido por Cohong – guilda de mercadores chins oriundos da cidade, que estavam sobre a jurisdição do governador e de um supervisor aduaneiro (hoppo). Eram eles que estabeleciam cotas aos produtos e taxas a cobrar.
No entanto, poucos bens ocidentais tinham mercado significativo na China, suscetíveis de ser bens de troca, tornando o comércio difícil, pelo que no final do século XVIII, britânicos e os americanos utilizavam o ópio, como moeda de troca para conseguir o equilíbrio comercial.
Em 1830 os ingleses obtiveram exclusividade das operações comerciais no porto de Cantão. O grande défice em matéria-prima conduziu ao aumento do tráfico de ópio indiano para o Império do Meio (China) e o governo de Pequim proibiu este tráfico, o que levou a coroa britânica a lançar mão de sua força militar terminando com o fim do comércio de Cantão em 1839.
Pintura
A influência europeia na arte chinesa só se fez sentir nos finais do século XVIII, com a chegada dos Ingleses e franceses, que estimularam as encomendas com destino à Europa. Para além de porcelana, foram encomendadas pinturas, lacas, marfins e mobiliário ao gosto europeu, que os orientais executaram de forma perfeita. Este comércio permitiu a divulgação da arte chinesa e também a sua imitação, a chinoiserie.
Na pintura a China Trade retratava produtos de exportação (chá, seda, porcelana) flora e faunas autóctones, cenas da vida quotidiana, retratos e paisagens, em especial dos locais mais visitados pelos estrangeiros. Verdadeiros postais e lembranças muito pretendidas por quem visitava estas paragens, hoje são uma importante fonte histórica.
Pintados por artistas chineses que aprenderam o estilo ocidental, alguns sobre a tutela de artistas ocidentais que residiam nos portos chineses, particularmente em Macau são um trabalho de oficina, feito por vários artistas, para atender à grande demanda que se fazia sentir. O resultado foi um estilo híbrido, onde se nota perícia e requinte de realização, descritiva e minuciosa, mas de perspetiva mais plana, sem o rigor utilizado na pintura ocidental e com uma paleta de cores vivas e luminosas.
Posteriormente, nos seus pequenos barcos remavam até aos navios recém-chegados, na esperança de conseguirem vender os seus trabalhos.
Dentro das pinturas China trade, concentremo-nos aqui nas que reproduziam motivos marítimos e em particular as que ilustram o comércio entre europeus e chineses. Imagens desta azáfama, que chegaram aos nossos dias através das pinturas compradas pelos comerciantes como lembranças e cujo charme está, não só na beleza das paisagens, mas também na qualidade do desenho e na história que encerram, maravilhosas janelas sobre a história mundial do seculo XIX.
O conjunto clássico são quatro pinturas que retratam o percurso sequencial dos barcos europeus: Macau, Boca do Tigre, Whampoa (Pazhou) e Cantão. Macau, o primeiro local de terra firme quando avistavam a China; Boca do Tigre, a entrada impressionante no Rio das Pérolas; Whampoa, o ancoradouro final dos barcos e Cantão, o último destino.
As pinturas que apresentamos correspondem a três etapas do processo e inserem-se nos parâmetros do China Trade. Testemunhos que permitem a perceção da geografia dos locais, as arquitecturas e as vivências quotidianas na Praia Grande de Macau, Boca do Tigre e ilha de Whampoa elas carregam um senso documental de precisão e que nos surpreendem pela informação que fornecem ao espectador acerca do corrupio das actividades comerciais e portuárias que se desenrolavam nestes portos à época.
Vista da baía da ilha de Whampoa, (ao centro), a moderna Pazhou. Ao largo, estão fundeados, com as velas recolhidas, inúmeros veleiros das diversas potencias comerciais europeias, identificados pelas bandeiras içadas nos seus mastros. Barcos chineses, juncos e sampanas, entre os navios ocidentais servem de apoio para o transporte de passageiros e mercadorias e outros fins utilitários como tarefas de limpeza, lavagem de roupa e outras necessidades quotidianas dos tripulantes dos East Indiaman.
Depois de deixarem a “Boca do Tigre”, os navios navegavam cerca de trinta e cinco quilómetros, passando por algumas rochas e bancos de areia que exigiam um cuidadoso cálculo de maré, e onde eram guiados por pequenos barcos chineses a troco de gratificação, alcançando a baía de Whampoa, um porto de águas profundas, no Rio das Pérolas.
Os navios estrangeiros não estavam autorizados a subir o rio, até Cantão, onde se localizavam as feitorias, ficando aqui ancorados. A carga dos navios ocidentais eram normalmente aqui descarregadas e levadas por juncos chineses para as Hong (feitorias) de Cantão.
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