Banca Indo-Portuguesa / An Indo-Portuguese Dias tabel, India, Goa, séc. XVII / Goa, 17th. c.
Further images
Unusual 17th century Indo-Portuguese writing-table. The teak and sissoo carcass inlaid in an ivory and ebony decorative stylized composition of animals, plants and scrollwork.
The tabletop is profusely ornate, in a pattern that radiates from a central rosette encircled by double filleting that, in turn, frames a row of alternating lozenge and circle motifs, from which radiate centripetal amphorae with stylized vegetal motifs. The outer edge of the tabletop is decorated in a dense and elaborate composition of ebony inlay and long ivory filaments in circles and scrolls, ending in the stylized eye and beak of the Hindu demi-god eagle Jatayu.
The frame is fitted with two drawers with compartmented interiors designed for storage of writing paraphernalia. The drawer fronts decorated by inlaid scrollwork and enriched by pierced and guilt copper escutcheons. On the sides and on the back of the case a central amphora from which emerge floral scrolls ending in blossoming flowers.
The outer angled legs follow a similar matrix of inlaid alternating circles and lozenge motifs, standing on feet shaped as the Hindu mythological protector figure Jatayu. They legs are linked by double, plain and undulating stretchers fitted at two levels and decorated in a similar pattern.
A designação de “arte indo-portuguesa” define as peças fabricadas no antigo Imperio português da India, essencialmente nas oficinas da Costa de Malabar, com maior incidência em Goa e Cochim, que muitas vezes funcionavam como entreposto de várias rotas, e cujo apogeu foi alcançado entre os seculos XVI e XVIII. A partir de 1498 a coroa portuguesa, iniciou uma política de expansão estabelecendo um contacto contínuo e permanente com a Ásia. Para além do esforço de cristianização - um dos estandartes erguidos para justificar a expansão - os interesses comerciais tiveram sempre enorme relevância.
O mobiliário doméstico, tal como é conhecido na Europa, não era tradicional na India antes do seculo XVI, o que impeliu os colonizadores a munirem-se de protótipos europeus adequados à sua vivência e que viriam a ser copiados pelos autóctones.
Deste modo, o papel da Índia na história do mobiliário limitou-se, em grande parte, a transformar e adaptar tipologias e morfologias ocidentais, dando-lhes um cunho muito próprio, bem visível nos materiais indianos, na iconografia, simbolismo, densidade e detalhes decorativos, promovendo o “nascimento” do estilo de móveis Indo-europeu, muito admirado e desejado no Ocidente; aliás, o fascínio e a sedução que o mesmo despoletou no seculo XVII, fez com que tenha adquirido o estatuto de mobiliário de luxo.
A essência estética e criativa da “arte indo-portuguesa” surge de uma miscigenação cultural, derivada da presença colonizadora e missionária, ou de meros contactos comerciais, com a influência local, num esforço de comunicação entre as várias religiões, raças, costumes e estéticas, resultando numa interessante interpenetração de culturas, que coexistiam pacificamente e elegantemente no mesmo móvel.
Fazem prova desta arte os exemplares que encontramos em certos museus e coleções particulares e que podem variar entre modelos de mobiliário litúrgico e civil, entre os quais vigoram: paramenteiros, oratórios, escritórios, contadores, camas, mesas, e outros. Peças que testemunham a força criativa da produção luso-indiana durante a Idade Moderna.
Destacamos a magnífica decoração de embutidos, que auferiu aos móveis um brilho e um esplendor grandioso muito aprazível ao gosto europeu. Normalmente com a estrutura em madeira de teca são decorados com incrustações de ébano e sissó, nalguns casos também com marfim, ao natural ou tingido, e guarnecidos com ferragens vazadas de metal dourado. A técnica de embutidos, realçada a partir do efeito claro-escuro, confere às peças um grande equilíbrio estético, com ilusão de volume e riqueza ornamental. Esta linguagem decorativa é claramente de influência hindu, plena de contrastes de sombra e luz, usando como subterfúgio o recorte de modelos geométricos, vegetalistas estilizados, e compósitos, onde podem ser reproduzidas figuras humanas, animais e mitológicas.
O mobiliário é, sem dúvida, um dos mais brilhantes capítulos da arte indo-portuguesa. Na verdade, em nenhuma outra disciplina o Oriente e o Ocidente se fundiram de forma tão homogénea.
Um dos móveis fundamentais nas habitações, e produzido desde os inícios da nossa colonização, em oficinas orientais, são as mesas, que no seculo XVII compreendiam essencialmente dois tipos: o bufete e a banca. Os bufetes são em geral maiores, com decoração de embutidos nas gavetas. Os pés são fortes e torneados com aplicações de cobre, metal amarelo ou bronze. A banca ou mesa, como a define Maria Helena Mendes Pinto, apresenta o tampo saliente dos dois lados, sustentada por pernas, fixadas por travejamento duplo e normalmente dotada de gavetas-escrivaninhas, para acomodar o material de escrita.
Invulgar Banca ou Mesa indo-portuguesa do séc. XVII, em teca e pau-santo, com embutidos e guarnições em marfim e ébano e decoração estilizada representando composições de motivos vegetalistas, animais e arabescos.
Tampo profusamente decorado, a partir de uma rosácea central estilizada, limitada por duplo círculo com padrão geométrico de losangos alternando também com círculos, a partir dos quais irradiam de forma centrípeta ânforas com elementos vegetalistas estilizados. Termina com longos filamentos de marfim, desenhando formas circulares e um padrão vegetalista ondulante que termina no olho e bico da águia Jatayu1.
Frente com duas gavetas-escrivaninhas apresentando elementos vegetalistas e escudetes em cobre, rendilhado e dourado. Nas faces laterais e tardoz ânfora central da qual parte um exuberante trabalho de embutidos, com enrolamentos estilizados e ramagens que terminam em flores. As gavetas apresentam pequenas divisórias para material de escrita, areeiro e tinteiro.
Pernas divergentes, ornamentadas pela alternância de losangos e círculos, terminando em pés na forma de Jatayu, figura mitológica protectora; são unidas por travessas quadrangulares e recortadas, decoradas com a mesma composição geométrica.
Join our mailing list
* denotes required fields
We will process the personal data you have supplied in accordance with our privacy policy (available on request). You can unsubscribe or change your preferences at any time by clicking the link in our emails.