Prato de Aparato, 1660-1680
faiança portuguesa / portuguese faience
Ø 39,5 cm
C597
Portuguese faience deep plate of exceptional quality, on account of
the sophisticated ‘Desenho Miúdo’ decoration and masterful use
of the bright cobalt-blue pigment and tin-white enamel.
The clearly Chinese influenced decorative composition is
focused on a centrally placed human figure, a hermit monk walking over a rocky outcrop, holding a staff and a wicker basket. This
figure is surrounded by vegetal and floral elements of obvious local
character, from within which emerges a large chrysanthemum—a
symbolic allusion to spiritual purity and longevity—associated to
three round coins, Chinese tokens of wealth.
Looking over his shoulder the hermit monk contemplates
the path that he has just walked. Characterized by identical decorative details, in an attempt at conveying perspective, the distant
landscape depicts suspended-like architectural shapes and vegetal
motifs, which release the steam condensing in the cloud over his
head. A border of pyramidal six bead groups, interspersed with
trilobate branches, frames the whole scene.
On the brim, a dense arrangement comprising two scenes
from the main characters’ life, each portrayed on diametrically
opposed sides; on one scene, in a landscape defined by a European
styled building with a steaming chimney, the monk sits under a
tree, reading; on the other he is laying down on the snow under
a starry sky, protected by the large wing of a crane and close to
three Chinese round coins. These scenes alternate with landscapes
marked by howling dogs and hunting birds of prey. On the reverse
six equidistant branch motifs.
The Portuguese artist that decorated this rare plate was
clearly inspired by a Chinese legend that tells the story of Lan Caihe (Lan Ts’ai-ho), one of the eight immortals, mythological
Taoist deities and illuminated beings that lived as humans and
became role models for those who search ‘the way’. As such, Lan
Caihe travelled China encouraging people to find the Tao (the way),
that allows for reaching the ideal stage of existence.
He is normally depicted as an old beggar, dressed in blue
and carrying a wicker basket. Known for his peculiar behaviour and
musical ability, he walks the country singing tunes that forecast
the future, sleeping under the stars, or on the snow during the
winter, wearing a light shirt that exhales water vapour from his
immortal body. In summer he is seen reading under a tree, wearing warm clothing. This immortal deity carries a musical sheet on
immortality, which he improvises, being considered the patron of
travelling minstrels. He raised to heaven riding a bird, which the
story refers to as a crane.
This rare plate is an important piece of Portuguese faience,
both for the reproduction of the well-known story that the Portuguese artist interpreted with franc ingenuity, following the
original Chinese model, and for the quality of the painting and
of the enamels.
Magnífico prato de grandes dimensões em faiança portuguesa com grande qualidade, quer pelo meticuloso trabalho de “Desenho Miúdo”, quer pelo pigmento azul-cobalto e esmalte estanífero utilizados. De covo acentuado e aba levantada, assenta em pequeno frete recuado. A decoração é de cariz oriental e centra-se na figura de um chinês eremita, com cesto de verga e cajado, passeando sobre elevação rochosa, ladeada por elementos vegetalistas e florais de inspiração local, onde se destaca um exuberante crisântemo — imagem associada à nobreza espiritual e à longevidade—que se ergue sobre três sapecas, símbolos de riqueza. O monge contempla o percurso que acaba de trilhar, planos perspécticos com as mesmas características decorativas, onde sobressaem arquitecturas e elementos vegetalistas implantados sobre relevos rochosos, que libertam vapor de água, responsável pela formação da grande nuvem cinzenta no céu, sobre a sua cabeça. O covo está preenchido por faixa com grupos justapostos de seis “contas” em triângulo, separadas por ramo de três hastes. Na aba transcrevem-se dois momentos da vida da personagem central, em representação simétrica e diametralmente oposta: num, o monge lê um livro de música sentado sob uma árvore rodeado de uma paisagem com casa de feição europeia, que liberta fumo pela chaminé; no outro, está deitado na neve, junto a três sapecas, por debaixo da asa de um grou, sob céu estrelado. Estas reservas estão separadas por paisagens que alternam com cão uivando e ave de rapina em pleno voo, procurando a sua presa. O reverso é preenchido por seis elementos vegetalistas equidistantes. O artista inspirou-se na lenda chinesa que relata a história de Lan Caihe (Lan Ts’ai-bo), um dos oito imortais, divindades mitológicas tradicionais da doutrina taoísta. São seres iluminados que viveram como humanos na terra e servem de modelo para aqueles que procuram o “caminho”. Lan viajou pela China, exortando as pessoas a procurar o Tao (caminho), que permite alcançar o estado ideal da Existência. É geralmente representado como velho mendigo, vestido de azul, com uma cesta de bambu. Conhecido pelo seu comportamento peculiar e pela sua habilidade musical, percorre o país entoando melodias que prevêem o futuro. No Inverno dorme ao relento na neve e debaixo das estrelas, trajando camisa fina de onde emana um fluxo de vapor de água, proveniente do calor do seu corpo imortal; e, no Verão, à sombra de uma árvore a ler, veste roupas quentes. Este deus imortal transporta uma pauta de músicas sobre a imortalidade, que improvisa, sendo considerado o patrono dos poetas cantores itinerantes. Subiu aos céus montado no dorso de uma ave que a história garante ser um grou Peça rara e de grande importância, quer pela identificação da história congénere que o artista português interpretou de forma ingénua—não deixando de seguir o modelo de porcelana chinesa que lhe deu origem—quer pela qualidade da pintura e dos esmaltes. Este prato é um belo exemplo da famosa “porcelana de Lisboa”.
Magnífico prato de grandes dimensões em faiança portuguesa com grande qualidade, quer pelo meticuloso trabalho de “Desenho Miúdo”, quer pelo pigmento azul-cobalto e esmalte estanífero utilizados. De covo acentuado e aba levantada, assenta em pequeno frete recuado. A decoração é de cariz oriental e centra-se na figura de um chinês eremita, com cesto de verga e cajado, passeando sobre elevação rochosa, ladeada por elementos vegetalistas e florais de inspiração local, onde se destaca um exuberante crisântemo — imagem associada à nobreza espiritual e à longevidade—que se ergue sobre três sapecas, símbolos de riqueza. O monge contempla o percurso que acaba de trilhar, planos perspécticos com as mesmas características decorativas, onde sobressaem arquitecturas e elementos vegetalistas implantados sobre relevos rochosos, que libertam vapor de água, responsável pela formação da grande nuvem cinzenta no céu, sobre a sua cabeça. O covo está preenchido por faixa com grupos justapostos de seis “contas” em triângulo, separadas por ramo de três hastes. Na aba transcrevem-se dois momentos da vida da personagem central, em representação simétrica e diametralmente oposta: num, o monge lê um livro de música sentado sob uma árvore rodeado de uma paisagem com casa de feição europeia, que liberta fumo pela chaminé; no outro, está deitado na neve, junto a três sapecas, por debaixo da asa de um grou, sob céu estrelado. Estas reservas estão separadas por paisagens que alternam com cão uivando e ave de rapina em pleno voo, procurando a sua presa. O reverso é preenchido por seis elementos vegetalistas equidistantes. O artista inspirou-se na lenda chinesa que relata a história de Lan Caihe (Lan Ts’ai-bo), um dos oito imortais, divindades mitológicas tradicionais da doutrina taoísta. São seres iluminados que viveram como humanos na terra e servem de modelo para aqueles que procuram o “caminho”. Lan viajou pela China, exortando as pessoas a procurar o Tao (caminho), que permite alcançar o estado ideal da Existência. É geralmente representado como velho mendigo, vestido de azul, com uma cesta de bambu. Conhecido pelo seu comportamento peculiar e pela sua habilidade musical, percorre o país entoando melodias que prevêem o futuro. No Inverno dorme ao relento na neve e debaixo das estrelas, trajando camisa fina de onde emana um fluxo de vapor de água, proveniente do calor do seu corpo imortal; e, no Verão, à sombra de uma árvore a ler, veste roupas quentes. Este deus imortal transporta uma pauta de músicas sobre a imortalidade, que improvisa, sendo considerado o patrono dos poetas cantores itinerantes. Subiu aos céus montado no dorso de uma ave que a história garante ser um grou Peça rara e de grande importância, quer pela identificação da história congénere que o artista português interpretou de forma ingénua—não deixando de seguir o modelo de porcelana chinesa que lhe deu origem—quer pela qualidade da pintura e dos esmaltes. Este prato é um belo exemplo da famosa “porcelana de Lisboa”.
Provenance
Col. Arthur de Sandão.Literature
ROQUE, Mário, Lisboa na Origem da Chinoiserie, Lisboa: São Roque, 2018 (pp. 166-167)Faiança Portuguesa do Ateneu Comercial do Porto, Porto 1997 (cat. p. 29)
Join our mailing list
* denotes required fields
We will process the personal data you have supplied in accordance with our privacy policy (available on request). You can unsubscribe or change your preferences at any time by clicking the link in our emails.