Aquamanil Quimera em Forma de Rã, c. 1620–1640
faiança portuguesa / portuguese faience
12,5 × 12,5 × 19,5 cm
C592
A mythological creature shaped aquamanile, produced in a Lisbon
pottery workshop in the first half of the 17th century, following a
Wanli Chinese porcelain kendi prototype.
Decorated in a bright cobalt-blue pigment on a tin-white
glazed ground, the frog-like creature is depicted sitting down
on its limbs with a long ‘s’ shaped tail functioning as the vessel
handle. Its expressive features are defined by its raised head, long
prominent wing-like ears extending over the shoulders, wide open
eyes, prominent nose and open mouth with sticking out tongue
forming the spout from where liquid would pour.
The decorative grammar is dense yet simple, almost geometric, being characterised by continuous zig-zagging parallel
lines that cover the entire body. On the chest an exuberant round
cartouche—probably inspired in the ‘wheel of Dharma’—with a
floral composition disposed in a Greek cross pattern with lotus
flowers endings, directly associated to the influence of Chinese
porcelain ornamentation, disposed in a Greek cross pattern, directly
associated to the influence of Chinese porcelain ornamentation.
The strange creature sits on a cushion, suggested by a frieze of
beading, placed over the prominent base.
This fantastic aquamanile, depicted as a stylized frog (ancient Chinese symbol of longevity and the unachievable), clearly
inspired by contemporary zoomorphic kendi,1 is however a miscegenation of various animals, as suggested by the stylised lion
mane, ears and tail and, although of a larger size, it is reminiscent
of the porcelain droppers, common miniature objects used by
Chinese painters. The kendi were originally designed as long necked water
containers, their name originating from the Malay word Kundika,
a type of bottle used in India for carrying water in Hindu and Buddhist rituals. These original and popular vessels, characteristic of
Wanli period porcelain, were widely exported to the Middle East
and to Europe during the late 16th and early 17th centuries and
are present in numerous public and private collections.
Somehow reinterpreting the traditional kendi design by
adding the long tail and by removing the characteristic long neck,
the Portuguese potter that moulded this aquamanile, has nonetheless maintained its liquid container function, somehow even
reinforcing it by the sinuous two-toned cobalt-blue decoration,
suggesting ripples on a pond surface.
Considering its shape this aquamanile can be safely placed
within the ‘Wanli’ period defined by Reynaldo dos Santos. The dense,
yet abstract and purified ornamentation alluding however to the ‘Geometric decoration’ group of characteristic horror vacui (cf.: Intro. Ch. I).
The creative wealth of early 17th century Lisbon potteries
is well exemplified by the originality and mastery of this object,
one of the very few known of zoomorphic form but the only one
in this particular shape.
Aquamanil de fino vidrado estanífero e decorado a azul-cobalto, produzido na primeira metade do século XVII nas oficinas de Lisboa. Representa animal fantástico, inspirado num kendi em forma de rã, da porcelana chinesa Wanli–Kraak. Com fisionomia expressiva, o animal encontra-se sentado, apoiado nas quatro patas e com a cauda enrolada, desenhando um “s”, que serve de pega. Em posição de voo, de cabeça erguida e orelhas salientes inclinadas ao longo do tronco, tem olhos abertos e atentos, nariz proeminente e a boca tem orifício para verter líquido. Repousa em almofada decorada na frente por um friso de contas, que assenta em base saliente. A ornamentação é simples, geometrizada, constituída por linhas paralelas em zig-zag, em todo o corpo e na cauda. No peito, uma exuberante reserva circular, que pode estar inspirada na “roda de Dharma” onde se destaca composição floral em cruz grega, com os braços terminados em flor de lótus e outros elementos relacionados com os ornatos da porcelana chinesa. Embora sugira uma rã, existe uma contaminação por outros animais, como insinua a estilização da juba ao redor da cabeça, as orelhas e a cauda, atribuíveis a um leão. É notória a inspiração nos Kendi zoomórficos, em forma de rã1, uma das criaturas mais representadas na China desde épocas recuadas — símbolo de longevidade e do intangível. Lembra também conta-gotas, em miniatura, muito frequentes na China contemporânea, utilizados pelos pintores nas suas obras de arte. Apesar de não apresentar o suporte em gargalo alto, característico dos Kendi, por lhe ser acrescentada cauda, usada como pega. O oleiro manteve assim a função de contentor de líquidos, acentuando-a pela decoração sinuosa das riscas em azul-cobalto, que simula ondas a propagarem-se na superfície da água. A função principal dos Kendi é servir e beber líquidos. O nome deriva do termo malaio Kendika, garrafa usada para o transporte de água nos rituais hindus e budistas, nomeadamente na Índia e nas cerimónias nupciais em Java—recipiente com que a noiva derramava água nos pés do nubente. Muito característicos no período chinês Wanli e de grande popularidade na época, estes contentores eram exportados para o Médio Oriente e Europa, na centúria de Seiscentos, conservandose em diversas colecções públicas e privadas. Se, pela sua forma, o aquamanile se enquadra no período dito Wanli, a ornamentação abstracta e depurada que o preenche é sugestiva da designada “Decoração Geométrica”, com o seu característico horror vacui, (cf.: Intro. Ch. I). A riqueza criativa das olarias de Lisboa, da primeira metade do século XVII, está bem patente em originalidade e mestria. Peça muito rara, não se conhecem mais do que dois ou três exemplares com estas características zoomórficas e a mesma função, sendo certo que, até à data, é o único que se conhece em forma de ranídeo.
Aquamanil de fino vidrado estanífero e decorado a azul-cobalto, produzido na primeira metade do século XVII nas oficinas de Lisboa. Representa animal fantástico, inspirado num kendi em forma de rã, da porcelana chinesa Wanli–Kraak. Com fisionomia expressiva, o animal encontra-se sentado, apoiado nas quatro patas e com a cauda enrolada, desenhando um “s”, que serve de pega. Em posição de voo, de cabeça erguida e orelhas salientes inclinadas ao longo do tronco, tem olhos abertos e atentos, nariz proeminente e a boca tem orifício para verter líquido. Repousa em almofada decorada na frente por um friso de contas, que assenta em base saliente. A ornamentação é simples, geometrizada, constituída por linhas paralelas em zig-zag, em todo o corpo e na cauda. No peito, uma exuberante reserva circular, que pode estar inspirada na “roda de Dharma” onde se destaca composição floral em cruz grega, com os braços terminados em flor de lótus e outros elementos relacionados com os ornatos da porcelana chinesa. Embora sugira uma rã, existe uma contaminação por outros animais, como insinua a estilização da juba ao redor da cabeça, as orelhas e a cauda, atribuíveis a um leão. É notória a inspiração nos Kendi zoomórficos, em forma de rã1, uma das criaturas mais representadas na China desde épocas recuadas — símbolo de longevidade e do intangível. Lembra também conta-gotas, em miniatura, muito frequentes na China contemporânea, utilizados pelos pintores nas suas obras de arte. Apesar de não apresentar o suporte em gargalo alto, característico dos Kendi, por lhe ser acrescentada cauda, usada como pega. O oleiro manteve assim a função de contentor de líquidos, acentuando-a pela decoração sinuosa das riscas em azul-cobalto, que simula ondas a propagarem-se na superfície da água. A função principal dos Kendi é servir e beber líquidos. O nome deriva do termo malaio Kendika, garrafa usada para o transporte de água nos rituais hindus e budistas, nomeadamente na Índia e nas cerimónias nupciais em Java—recipiente com que a noiva derramava água nos pés do nubente. Muito característicos no período chinês Wanli e de grande popularidade na época, estes contentores eram exportados para o Médio Oriente e Europa, na centúria de Seiscentos, conservandose em diversas colecções públicas e privadas. Se, pela sua forma, o aquamanile se enquadra no período dito Wanli, a ornamentação abstracta e depurada que o preenche é sugestiva da designada “Decoração Geométrica”, com o seu característico horror vacui, (cf.: Intro. Ch. I). A riqueza criativa das olarias de Lisboa, da primeira metade do século XVII, está bem patente em originalidade e mestria. Peça muito rara, não se conhecem mais do que dois ou três exemplares com estas características zoomórficas e a mesma função, sendo certo que, até à data, é o único que se conhece em forma de ranídeo.