Paramenteiro do Convento de Santo Agostinho
Excepcional arcaz indo-português, executado pelos carpinteiros reinóis Diogo Moniz e Manuel Rodrigues (1620–1635), responsáveis pela marcenaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça, do Convento de Santo Agostinho, no Monte Santo, em Velha Goa, constituído por dois corpos em teca com molduras de ébano. Frente com duas portas laterais decoradas com “Águias Bicéfalas” – Insígnia da Ordem de Santo Agostinho, embutidas em ébano e com pregaria, ladeadas por quatro gavetões com molduras de ébano recortadas. As gavetas, dadas as suas dimensões, deslizam com a ajuda de pequenas roldanas de ébano nas guias, para facilitar a abertura. Assenta sobre cachorros - leões - em teca. Ferragens em cobre rendilhado e dourado.
A construção deste cenóbio, o maior Convento de Velha Goa, foi iniciada em 1587 e concluída em 1602. Com a expulsão das ordens religiosas de Goa, foi abandonado em 1833, tendo a cúpula ruído em 1842 e o frontispício em 1931. Existia um par de paramenteiros na sacristia do Convento, que foram retirados antes do seu desmoronamento, encontrando‑se o outro na Igreja de Santana, em Talaulim, Velha Goa, em muito mau estado de conservação.
Citando o Sr. Prof. Vitor Serrão: “(…) é peça importantíssima da arte luso-goesa do tempo de D. Aleixo de Meneses e do ambiente gerado por este prelado na “Roma do Oriente”, testemunho deveras importante do património artístico do antigo Império português e foi produzido na fase do chamado Maneirismo de Goa, época em que essa cidade, então no auge do seu esplendor, era considerada a “Roma do Oriente”(...) o grande paramenteiro de madeira exótica com lavores geometrizantes, com emblemas da Ordem de Santo Agostinho e ferragens lavradas, constitui uma peça rara do mobiliário litúrgico do tempo da Contra-Reforma, de um gosto erudito, deliberadamente austero mas com as suas decorações miscigenadas, testemunho de uma antiga grandeza. Pertencia ao mesmo mosteiro agostiniano de Nossa Senhora da Graça em Goa, onde decorava a grande Sacristia, formando o largo arcaz, sabendo-se, pelos documentos de arquivo (Arquivo Histórico de Pangim), que foi lavrado em 1617 por dois mestres carpinteiros reinóis, Diogo Moniz e Manuel Rodrigues e que parte do conjunto passou no século XIX – depois da ruína da igreja dos Gracianos – para a sacristia da igreja de Talaulim, onde ainda resta um fragmento do paramenteiro que, como se sabe, era formado por duas alas para decorar os panos laterais da sacristia. Deve-se ao historiador de arte José Meco a identificação da origem desta última peça em Talaulim, chave fundamental para apurar a origem primeira do paramenteiro que se encontra em Lisboa (...)”.
E ainda o Sr. Arq. Helder Carita: “(...) logo na primeira vez que vi o arcaz dos Agostinhos, fiquei algo perplexo com uma tão excepcional peça em Portugal — não dava para acreditar. Se nos nossos museus e grandes colecções particulares abundam os contadores, arcas, camas, mesas ou oratórios nenhuma peça deste tipo existe (...)".
Com os estudos que foram feitos, não só pelo Doutor Pedro Dias como pelo Doutor Vítor Serrão, foi‑se desenhando com clareza o processo de confirmação de que nos encontrávamos realmente perante o antigo arcaz da sacristia do Convento dos Agostinhos de Velha Goa.
Teca com embutidos em ébano e pregaria
Índia, Goa
Séc. XVII
Dim.: 392,0 × 119,0 × 129,0 cm
Teak with ebony inlay and copper alloy metalwork
India, Goa
17th c.
Dim.: 129,0 x 392,0 × 119,0 cm
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