Nkangi Kiditu

Nkangi Kiditu — Crucifix
Ivory
Kingdom of Kongo, 18th /19th century
Height: 15,7 cm
Prov.: Carmen Vargas, Barcelona
F1096

Nkangi Kiditu - Crucifixo
Marfim
Reino do Congo, século XVIII/XIX
Alt.: 15,7 cm
Proveniência: Carmen Vargas, Barcelona
F1096

Ivory, 18th / 19th century Crucified Christ with two supplicants, applied to a modern cross.
The rotated head of Christ, with no accurate anatomical details, follows the common characteristics of Congolese imagery; oval face, almond shaped eyes with prominent eye-lids and plain orbits, wide nose and full lips. The excessively elongated body has no visible stigmata, any detailing restricted to the parallel grooves that mark the ribs, a common detail in Congolese imagery. In this particular example the lention has been replaced by a plain hanging cloth. The arms emerge at right angles to the body, ending in flat hands with digits simulated by parallel cuts. The same vague details apply to the feet, juxtaposed without overlapping.
Christ’s facial physiognomy is repeated in the supplicants’ features, diverging in the absence of eye-lids, in the triangular nose and in the mild prognathism. Both figures sit cross legged, with their hands on the cheeks and elbows resting on the knees. Some authors identify these figures as angels, others as Mukongo (Congolese), for their characteristic seated position, usually adopted in reverence to a leader.
Art Historian Julien Volper argues that these ivory crucifixes were normally the property of political authorities and therefore the rarest, the valuable raw material mostly imported from the Kingdom of Loango.
On account of its quality and stylistic characteristics this sculpture is similar to a 19th century ivory Nkangi Kidutu in the Felix collection (2); the head and facial features are also similar to the late 18th century female Christ pendant from the Collection of Ethnic Art and Culture in Hong Kong (3), related to the martyrdom of Beatriz Kimpa Vita.

(2) Cf.: Julien VOLPER, Du Jourdain au Congo, art et christianisme en Afrique centrale (cat.), Paris, Flamarion, 2017, p. 60, fig. 33.
(3) IDEM, ibidem, p. 103, fig.64.

Bibliography:
— FRANCO, Anísio, “Santo António (Toni Malau)” in Masterpieces – Pegadas dos Portugueses no Mundo, Porto, ARPAB, 2010.
— FROMONT, Cécile, The Art of Conversion: Christian Visual Culture in the Kingdom of Kongo, U.S.A., The University of North Carolina Press, 2014.
— FU-KIAU, Busenki – Lumanisa, Le mucongo et le monde qui l’entourait, Kinshasa, Office national de la recherche et du Dévelopment, 1969.
— HILTON, Anne, The Kingdom of Kongo, Oxford, Oxford University Press, 1985.
— LIBBY, Douglas Cole, FURTADO, Júnia Ferreira, Trabalho Livre Trabalho Escravo – Brasil e Europa Século XVIII e XIX, São Paulo, Annablume Editora, 2006.
— SANTOS, Eduardo, Religiões de Angola, Lisboa, Junta de Investigações de Angola, 1969.
— SOUZA, Marina de Mello e, “Evangelização e Poder na Região do Congo e Angola: A Incorporação dos Crucifixos por Alguns Chefes Centro Africanos, Séculos XVI e
XVII”, in Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico do Antigo Regime: poderes e sociedades, Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, U.N.L., 2005.
— THORNTON, John K., “The Development of An African Catholic Church in the Kingdom of Kongo, 1491 – 1750”, in Journal of African History, n.º 25, 1984.
— THORNTON, John K., The Kongolese Saint Anthony – Dona Beatriz Kimpa Vita and the Antonian Movement, 1684 – 1706, USA, Cambridge University Press, 1998.
— VAINFAS, Ronaldo e MELLO e SOUZA, Marina de, “Catolização e Poder no Tempo do Tráfico: O Reino do Congo da Conversão Coroada ao Movimento Antoniano, Séculos XV – XVIII”, in Tempo, Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, v. 3, n.º 6, dez/1998.
— VOLPER, Julien, Du Jourdain au Congo, art et christianisme en Afrique centrale (cat.), Paris, Flamarion, 2017.
— VOLPER, Julien, Ora Pro Nobis, étude sur les crucifix bacongo, Bruxelas, Paul Loius, 2011.
— WYATT, MacGAFFEY, Religion and Society in Central Africa, Chicago,The University of Chicago Press, 1986.

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Escultura de Cristo crucificado em marfim, do século XVIII/XIX e colocado sobre cruz em acrílico, com dois orantes no mesmo material e sentados nos braços da cruz.

A cabeça de Cristo, rodada e horizontalizada, não respeitando as regras anatómicas, segue as características habituais da imagética congolense, com o rosto ovalizado, olhos amendoados com pálpebras salientes inscritas em órbitas vazias, nariz largo e boca cavada com lábios carnudos. O corpo do Cristo é exageradamente longilíneo, sem estigmas, com entalhe limitado a sulcos paralelos e profundos, confinados às costelas salientes, como é habitual na arte do Antigo Reino do Congo. O cendal é substituído por saia lisa. Os braços emergem perpendiculares ao corpo, terminando em mão espalmada com rasgos paralelos que simulam os dedos; os pés, com as mesmas características de entalhamento, encontram-se justapostos e não sobrepostos.

Os traços fisionómicos da cabeça de Cristo repetem-se no rosto dos orantes, divergindo na ausência de pálpebras, no nariz triangular de um ligeiro prognatismo maxilar. Estão sentados de pernas cruzadas e os braços, apoiados nos joelhos, seguram a cabeça. Alguns autores consideram que estas figuras representam anjos outros, relacionam-os com os Mukongo, por estarem sentados, posição em que se colocavam em frente do seu chefe, em sinal de respeito.

O investigador Julien Volper considera que estes crucifixos em marfim eram normalmente propriedade das autoridades políticas, sendo por isso os mais raros. Como era hábito esta matéria provinha, em grande parte, do reino de Loango.

O estilo, e a qualidade desta escultura, assemelha-se a um Crucifixo Nkangi Kidutu de marfim do século XIX pertencente à colecção Félix; a cabeça e os pormenores da face são semelhantes ao pingente do Cristo feminino em marfim, do final do século XVIII da collection of Ethnic Art and Culture de Hong Kong, e está intimamente ligado ao martírio de Beatriz Kimpa Vita, do movimento Antoniano Congolês.

Esta rara peça chegou aos nossos dias sem a sua cruz original, que pode ter sido em marfim ou madeira, e com um dos orantes de fabrico posterior, provavelmente de meados do século XX.

Bibliografia:
• FRANCO, Anísio, “Santo António (Toni Malau)” in Masterpieces – Pegadas dos Portugueses no Mundo, Porto, ARPAB, 2010.
• FROMONT, Cécile, The Art of Conversion: Christian Visual Culture in the Kingdom of Kongo, U.S.A., The University of North Carolina Press, 2014.
• FU-KIAU, Busenki – Lumanisa, Le mucongo et le monde qui l’entourait, Kinshasa : Office national de la recherche et du Dévelopment, 1969. HILTON, Anne, The Kingdom of Kongo, Oxford, Oxford University Press, 1985.
• LIBBY, Douglas Cole, FURTADO, Júnia Ferreira, Trabalho Livre Trabalho Escravo – Brasil e Europa Século XVIII e XIX, São Paulo, Annablume Editora, 2006.

• SANTOS, Eduardo, Religiões de Angola, Lisboa, Junta de Investigações de Angola, 1969.
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• THORNTON, John K., “The Development of An African Catholic Church in the Kingdom of Kongo, 1491 – 1750”, in Journal of African History, n.º 25, 1984.
• THORNTON, John K., The Kongolese Saint Anthony – Dona Beatriz Kimpa Vita and the Antonian Movement, 1684 – 1706, USA, Cambridge University Press, 1998.
• VAINFAS, Ronaldo e MELLO e SOUZA, Marina de, “Catolização e Poder no Tempo do Tráfico: O Reino do Congo da Conversão Coroada ao Movimento Antoniano, Séculos XV – XVIII”, in Tempo, Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, v. 3, n.º 6, dez/1998.
• VOLPER, Julien, Du Jourdain au Congo, art et christianisme en Afrique centrale (cat.), Paris, Flamarion, 2017.
• VOLPER, Julien, Ora Pro Nobis, étude sur les crucifix bacongo, Bruxelas, Paul Loius, 2011
• WYATT, MacGAFFEY, Religion and Society in Central Africa, Chicago, The University of Chicago Press, 1986.