Guarda-Jóias

Nº de referência da peça: 
F1355

Betel or jewellery box
Turtle shell; silver fittings
Ceylon (modern day Sri Lanka), ca. 1796-1800
Dim.: 10.0 x 22.5 x 16.5 cm
Prov.: Sopana Tabtimsai
F1355

Caixa para bétel ou guarda-jóias
Tartaruga; ferragens de prata
Ceilão (actual Sri Lanka), c. 1796-1800
Dim.: 10,0 x 22,5 x 16,5 cm
Proveniência: Sopana Tabtimsai
F1355

Lozenge shaped of undulating profile and protruding ribbed sides, this large turtle shell betel, or jewellery box, was made in Ceylon for exporting, in the late 18th century. Resting on silver ball shaped feet, it features a hinged flat cover.
Probably destined to the British market, it was mounted with sumptuous repousse and finely chiselled silver fittings that include, on its outer surfaces, four feet, a top articulated handle with floral medallion plate, garland friezes to the cover and edges, linked by architectural pilasters alternating with exuberant flower vases, pierced double-headed eagle elements, a large hinge, and a key. The inner silver elements comprise of hinge and three floral pieces, two of which sustain silver chains for holding the box open. Also evident in the box interior are the screws and bolts that fix the external mounts.
Similarly to other examples of this export production, its decorative grammar combines local traditional motifs, namely the compacted and dense floral decorative elements, and the solar double headed eagle, the bherunda paksiya - heraldic emblem of the Sinhalese Three Korales flag - with European aspects, such as the garland friezes, the pilasters, or the floral vases. From the hinge’s typically Sinhalese floral ground, emerge a rampant lion confronting a rampant unicorn. These heraldic beasts have been portrayed as supporters of the United Kingdom Royal coat of arms since 1603, when the English lion was combined with the Scottish unicorn, for the accession of James VI of Scotland (r. 1567-1625) to the throne of England, as James I, after the death of Queen Elizabeth I.
The box scalloped shape, its European neoclassical decoration and the presence of the heraldic lion and unicorn, suggest a manufacturing date towards the late 18th century, following Ceylon’s 1795 invasion by the British. The island would subsequently remain a British Crown colony until its independence in 1948.
Large turtle shell boxes and caskets, such as the present betel box, were fashioned after European prototypes, of which the rectangular shaped of flat cover were the commonest, for most of the 18th century, first under Ceylon’s Dutch control and then under British rule.
Produced in precious materials such as silver, turtle shell and exotic timbers, namely coromandel and tamarind, these betel boxes were used for storing and presenting house guests with the elements for betel chewing: tobacco, slaked lime, and Areca nut (Areca catechu), which would be wrapped in a betel leaf (Piper betle). The compound, of strong stimulating and narcotic effects, was offered as a prove of hospitality and respect, and betel boxes were commissioned and gifted as marks of gratitude, all over Asia.
In the classical work “Asian Art and Dutch Taste”, Jan Veenendaal published a turtle shell betel box of similar dating (length: 22.0 cm). Cartouche shaped, it features pierced silver elements of typically Sinhalese floral decoration. A scalloped shaped jewellery box made in coromandel (Diospyros quaesita), a type of mottled ebony native to Sri Lanka and India, belongs to the Dutch Museum, Pettah, Colombo (inv. 29.168.430 dim.: 26.0 x 17.0 x 7.8 cm). Of earlier date, it is characterized by carved decoration, clearly inspired by European rococo ornamental motifs.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

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Em forma de losango e de contorno ondulado com nervuras salientes na cintura, esta grande caixa de bétel em tartaruga (ou guarda-jóias) foi produzido para exportação no Ceilão (actual Sri Lanka) nos finais do século XVIII. Assente sobre pés de bola em prata, apresenta tampa plana articulada.
Provavelmente destinada ao mercado britânico, apresenta sumptuosas ferragens em prata repuxada e finamente cinzelada. As ferragens exteriores incluem pés, pega superior basculante, frisos em forma de guirlanda na tampa e cintura canelada ligados por pilastras arquitectónicas intercaladas com albarradas, aplicações vazadas na tampa representando águias bicéfalas, medalhão central florido no centro da tampa, a grande dobradiça do tardoz e a chave. As ferragens interiores incluem a lado interno da dobradiça e três apliques florais, dois dos quais com correntes de prata por forma a manter a tampa aberta. No interior, podemos ver todos os fios roscados e porcas que fixam as ferragens no exterior.
À semelhança de exemplos semelhantes desta produção para exportação, a gramática decorativo é uma mistura de elementos tradicionais locais, nomeadamente a decoração floral mais densamente compactada e a águia solar bicéfala (bherunda paksiya), emblema heráldico da bandeira cingalesa dos Três Korales, com motivos europeus, como as cercaduras em forma de guirlanda, pilastras arquitectónicas e vasos de flores.
Na dobradiça, tanto no interior como no exterior, sobre fundo floral típico do Ceilão, vemos um leão rampante afrontado a um unicórnio também rampante. O leão e unicórnio rampantes, que são os suportes do brasão real do Reino Unido, são símbolos do Reino Unido desde 1603, quando o leão inglês foi combinado pela primeira vez com o unicórnio escocês após a ascensão de James VI da Escócia (r. 1567-1625) como James I da Inglaterra e Grã-Bretanha ao suceder à rainha Elizabeth I.
Tanto a forma recortada, a sua decoração neoclássica europeia como a presença do leão e do unicórnio heráldicos sugerem uma data nos finais do século XVIII, após a invasão britânica do Ceilão em 1795, que se tornaria colónia da Coroa Britânica entre 1796 e 1948.
Caixas e cofres de tartaruga de grandes dimensões como a presente, conhecidas por caixas de bétel, modeladas a partir de protótipos europeus, sendo as caixas rectangulares de tampa plana as mais comuns, foram produzidas durante o século XVIII sob o domínio holandês e depois britânico.
Feitas de materiais valiosos, como prata, carapaça de tartaruga e madeiras nobres e valiosas (“coromandel”, madeira de tamarindo, etc.), estas caixas de bétel serviam para armazenar e presentear aos convidados da casa as matérias usadas para mascar o bétel: tabaco, cal hidratada e um pedaço de noz de areca (Areca catechu), tudo embrulhado numa folha de bétel (Piper betle). A mistura tem efeitos estimulantes e narcóticos sendo então usada com símbolo de hospitalidade e respeito, e as caixas de bétel encomendadas e oferecidas em gesto de gratidão por toda a Ásia.
Jan Veenendaal, no seu livro clássico sobre Arte Asiática e Gosto Holandês, publica uma caixa de bétel em tartaruga de data semelhante (22,0 cm de comprimento). Com a forma de uma cartela, apresenta ferragens em prata vazada seguindo uma decoração floral mais tradicional do Ceilão. Em madeira de “coromandel” (Diospyros quaesita), um tipo de ébano variegado nativo do Sri Lanka e da Índia, refira-se um guarda-jóias de forma recortada (26,0 x 17,0 x 7,8 cm) no Dutch Museum, Pettah, Colombo (inv. 29.168.430).
De data um pouco mais recuada e com ferragens de latão, apresenta uma decoração entalhada inspirada em ornatos rocaille europeus.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

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