Caixa

Nº de referência da peça: 
F1154

Caixa
Marfim e prata
Ceilão
Século XVII (meados)
Dim.: 15 x 31 x 20 cm
Prov.: Coleção Particular, Porto
Pub.: Crespo, ‘Choices’ pp. 202 /211
Expo.: ‘Venans de Loingtaines Voyages’, Bordéus, 2019, n.º 30

Jewellery Box
Ivory with silver mountings
Ceylon (Sri Lanka)
Mid-17th century
Dim.: 15 x 31,0 x 20,0 cm
Prov.: P.C., Oporto
Pub.: Crespo, ‘Choices’ pp. 202 /211
Exhib.: ‘Venans de Loingtaines Voyages’, Bordéus, 2019, n.º 30

A rare and large Singhalese box in ivory with silver mountings, with a flat top lid slightly projecting and ball-shaped turned feet.
The box is formed of four dovetailed thick ivory panels of around one cm in thickness, joined by a secret mitred dovetail, also known as full-blind dovetail joint (the outer edges meet at a 45-degree angle while hiding the dovetails internally within the joint). Two exceptionally large panels make up the lid and three form the base, assembled with half lap splice joints, held in place with ivory pins.
The presence of the ball feet informs us of the likely original function of this imposing, sumptuous piece of furniture: it is a box intended to be placed on a dais and probably used to store the precious belongings of a noble lady, objects and materials used for needlework and embroidery such as valuable silk yarn balls and gold and silver thread.
All sides are profusely carved in low-relief with large vine scrolls and stylised lotus buds. These vine scrolls are symmetrically arranged: two on the front, back and sides, in a panel framed by a simple beaded frieze; and four on the lid, in a quadripartite panel framed by a thin beaded frieze and a larger quatrefoil band typical of Ceylonese decorative schemes.
Regardless of the quintessential Ceylonese character of this motif , the sculptural finesse of the carving is clearly inspired in European prints and are similar to the botanical naturalism present in the best Mughal low-relief stone carving datable to the reigns of Jahangir (r. 1605-1627) and Shah Jahan (r. 1628-1658).
The same refinement and floral decoration may be seen in the sophisticated and copious pierced, openwork silver mountings worked in repoussé and chased. These elements, conceived from the outset, with a clear contrast between the silver and the smooth, flat ivory, not only further contribute to the aesthetic unity of its decoration, but were strategically placed over the joints uniting the ivory panels that form this large casket: cusped, polylobate angle-pieces on the lid and also on the socle; bands on the lid forming a cross with a lozenge at the centre (reminiscent of a European-style female coat of arms) dividing the carved composition in quarters, projecting towards the edge and covering the joints; corner uprights covering the edges of the box; and long, projecting hinges with polylobate pierced finials, seen on the back and on the inside of the lid, reminiscent of medieval and Islamic models.
The mountings also comprise the turned-like side handles, exceptional for their weight, and the lock (double, spring lock), with the escutcheon in the shape of a coat of arms flanked by four large hemispherical silver nails and an extraordinary key, possibly slightly later and European in origin, decorated with pierced, openwork floral elements.
The quality of the carving is similar to the best examples produced in Ceylon for the Portuguese market (approximately until 1658), namely to the veneered boxes and cabinets (with a wooden structure covered by tortoiseshell plaques, gilded copper or even mirror mica), covered with thin pierced, openwork ivory carved plaques - see the small table cabinet with doors from the Ashmolean Museum of Art, Oxford (inv. no. EA1976.6) dated to the first half of the 17th century.
The main difference lies in the material used, given that the present box, in its opulence, uses thick, large ivory plaques similar in construction and material to the early caskets made in the Ceylonese imperial city in the mid-16th century, before the carving techniques in very high-relief were lost.
One of the best examples of this veneered, openwork pieces of furniture, similar to the present one and following the same shape, decoration (although less refined) and identical silver mountings, is dated to the second half of the 17th century and belongs to the Rijksmuseum, Amsterdam, inv. no. BK-1971-30.
The superior quality of the carving of the present box contrasts with similar ivory and ebony examples datable to the second half of the 17th century and commissioned by the Dutch. Although similar in their floral decoration, they are distinct in their execution and scale of the motifs, which became larger towards the end of the century. These are mainly caskets and cabinets, but also pipe cases, such as the ones in the Victoria and Albert Museum, London, inv. no. W147-1928, and the Asian Civilisations Museum, Singapore.
Its large dimensions, the artistic level of the ivory carving and silver mountings, and above all the fact that it was built using very thick African ivory panels, make the present box a unicum for its rarity and a tour de force on account of the technical and artistic quality that distinguishes it from all other known pieces of this rare production.

Hugo Miguel Crespo

Bibliography

CHONG, Alan et al., Devotion and Desire. Cross-cultural art in Asia. New Acquisitions, Singapour, Asian Civilisations Museum, 2013.

COOMARASWAMY, Ananda K., Mediaeval Sinhalese Art, New Delhi, Munsharam Manoharlal, 1956.

CRESPO, Hugo Miguel, Choices, Lisbonne, AR-PAB, 2016.

FERRÃO, Bernardo, Mobiliário Português dos Primórdios ao Maneirismo, Vol. 3 (Índia e Japão), Porto, Lello & Irmão Editores, 1990.

Caixa de grandes dimensões em marfim de meados do século XVII, produção do Ceilão, com tampa de levantar plana, ligeiramente saliente e pés de bolacha torneados.

O corpo é constituído por quatro espessas placas de marfim, com cerca de um centímetro de espessura, ensambladas em cauda de andorinha cega, com os malhetes escondidos com pestana à meia-esquadria. Duas excepcionais placas formam a tampa, e três formam a base, sabiamente ensambladas em junta plana de encaixe a meia-madeira, fixas com cavilhas também de marfim.
Assente sobre pés de bolacha, esta imponente e sumptuosa peça de mobiliário de âmbito feminino, serviria muito provavelmente para conter os pertences preciosos de uma dama nobre, talvez objectos e materiais ligados à costura e aos bordados, tais como valiosos novelos de retrós de seda e fio de ouro e prata.
As placas são profusamente entalhadas em baixo-relevo, com enrolamentos vegetalistas de gavinhas e botões de flor-de-lótus estilizados, dispostos em simetria: dois na frente, verso e ilhargas, em composição emoldurada por simples friso perlado; e quatro no tampo, enquadradas por perlado fino e banda de florões de quatro pétalas, uma decoração típica cingalesa.
Embora este motivo floral possa ser considerado tipicamente cingalês , o tratamento escultórico do marfim, desenvolvido até cerca da metade da espessura das placas, é claramente inspirado em fontes gravadas europeias, sendo também ocidental o tónus escultórico, de fino relevo, que de alguma forma se aproxima do naturalismo botânico do melhor baixo-relevo pétreo tal como praticado na corte mogol dos imperadores Jahangir (r. 1605-1627) e Shah Jahan (r. 1628-1658).
O mesmo requinte de decoração floral, é observável nas sofisticadas e abundantes montagens em prata vazada, repuxada e cinzelada que, idealizadas logo no momento da conceção da caixa, não apenas contribuem para a unidade estética da sua decoração, como foram estrategicamente colocadas nos pontos de ensamblagem das diversas placas de marfim que formam este grande cofre.
É o caso das cantoneiras polilobadas da tampa, espelhadas no soco e das tarjas da tampa, que divergem a partir de losango central, como se de uma curiosa lisonja se tratasse (escudo heráldico feminino), dividindo-a numa composição esquartelada, que se prolonga à espessura da tampa, cobrindo a assemblagem das duas grandes placas que a compõem, espelhadas também no soco. Mencionamos também as cantoneiras que cobrem as arestas da caixa e as dobradiças que terminam num medalhão polilobado, vazado e remetem para protótipos medievais europeus e islâmicos.
Das montagens fazem igualmente parte as pegas maciças das ilhargas (gualdras), forjadas e lavradas a lima, como que torneadas e a fechadura (dupla, de mola), com espelho em forma de escudete, ladeado por quatro largas tachas semiesféricas e uma extraordinária chave decorada com elementos florais estilizados, vazados, possivelmente de origem já europeia.
A qualidade do entalhe é em tudo comparável à das melhores peças produzidas no Ceilão durante o mercado português (sensivelmente até 1658), em particular as que, possuindo uma estrutura de madeira de teca faixeada a tartaruga ou de cobre dourado (ou até folhas de mica, moscovite), são integralmente cobertas por finas placas de marfim vazadas e entalhadas - veja-se o pequeno contador de duas portas do Ashmolean Museum of Art, Oxford (inv. no. EA1976.6) que, apresentando um marcado cunho da arte e gosto cingaleses, poderá datar-se ainda da primeira metade do século XVII.
A principal diferença reside no material, que no caso da nossa caixa é de uma enorme opulência e liberalidade, dada a extraordinária espessura das placas, a lembrar os primeiros cofres ainda produzidos na corte imperial cingalesa nos meados do século XVI, quando a tradição pela escultura em médio e alto-relevo não se tinha ainda perdido.
Um dos exemplares desta produção faixeada, com finas placas de marfim vazado, que melhor se pode comparar com a presente, é uma caixa com a mesma forma e semelhante decoração, embora muito menos refinada, e com idênticas montagens, em particular quanto às tachas da fechadura, datável da segunda metade do século XVII e conservada no Rijksmuseum, Amesterdão, inv. no. BK-1971-30.
Assim, a finura da decoração entalhada da nossa caixa contrasta com peças semelhantes, em marfim e também em ébano, realizadas já na segunda metade do século XVII para o mercado holandês que, sendo semelhantes no repertório floral, são muito diferentes na execução e igualmente na escala dos motivos, mais larga, e que se agigantará no final do século. Refiro-me a cofres e contadores, mas também a caixas de cachimbo, tal como as que se conservam, por exemplo, no Victoria and Albert Museum, Londres, inv. no. W147-1928, e no Asian Civilisations Museum, Singapura.
As suas generosas dimensões, o nível do trabalho escultórico do marfim e das montagens argênteas, e acima de tudo a circunstância de ter sido construída com recurso a muito espessas placas de marfim africano, tornam esta caixa num unicum, pela qualidade técnica e artística, o que a diferencia de todas quantas se conhecem desta rara produção.

Hugo Miguel Crespo

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Diversos

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.