A cabinet made from teak (Tectona grandis), veneered with Ceylon ebony (Diospyros ebenum), and embellished with inlays of ivory, green-dyed animal bone, North Indian rosewood (Dalbergia sissoo) and sandalwood (Santalum album).
This cabinet replicates, in its form, an East Asian prototype known in Portuguese as a ventó. The Japanese term bentō, which passed into Portuguese according to the first Japanese-Portuguese dictionary—the Nippo jisho published as Vocabulario da lingoa de Iapam in 1603—was, and still is, a word for a lunch box. The original Japanese model for the ventó is known as kakesuzuri-bako, or ‘portable writing box’. When fitted with a front door and strongbox-like fittings, it is called funa-dansu, or ‘ship chest’ with drawers. This type of chest was designed to store seals, documents, writing instruments, and ink stones, alongside money. It features a single front door with hinges, often adorned with intricate metal fittings, and an interior comprising various drawers or compartments concealed behind the door.
All exterior sides of this ventó display the same carpet-like decoration: a central field featuring a single flowering plant rising from a baluster-shaped vase, at times flanked by hares and peacocks, framed by a wide border of vegetal scrolls with star-shaped rosettes at the midpoints and crowned double-headed eagles (gaṇḍabheruṇḍa) at the corners. These elements are separated by friezes of quatrefoils, characteristic of this type of production. When opened, the cabinet reveals the typical East Asian arrangement of drawers: two larger drawers at the top for storing paper, two smaller ones below on the right, and a larger square-shaped drawer bellow on the left, making a total of five drawers arranged in four tiers. The drawer fronts are similarly decorated with flowering plants flanked by hares or lions. The interior side of the front door features a central field with a large flowering plant rising from a vase, flanked by two male European figures. Interestingly, from the head down, these figures are depicted wearing female attire typical of women’s fashion from the turn of the seventeenth century. This large panel is framed by a narrow border of quatrefoils.
It is fitted with fire-gilt copper fittings, which include a large Chinese-style lock plate on the front door, three hinges also on the door, corner braces, a handle on the top, a lock plate on the square-shaped drawer inside, and drawer loop pulls. The fittings, particularly the lock plates and corner braces, are masterfully chased with birds and rampant lions among vegetation.
Both the materials, decoration, and intricate fittings of this cabinet point to its origin in the Northern Province of the Portuguese State of India, likely in Thane. A comparable writing box (34.3 x 30.8 x 41.5 cm) from the same production, featuring similar decoration and likely made in the same workshop in Thane, is held in deposit at the Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto (inv. 41 Mob CMP/MNSR) from the collection of the Museu da Cidade (Câmara Municipal do Porto).
Hugo


Ventó de estrutura em teca (Tectona grandis) faixeado a ébano (Diospyros ebenum), e decorado com embutidos de marfim, osso animal tingido de verde, sissó (Dalbergia sissoo) e sândalo (Santalum album).
Esta peça de mobiliário replica, quanto à forma, um protótipo extremo-oriental conhecido por ventó. O termo japonês bentō, que passou para o português, segundo a definição do primeiro dicionário nipo-português, o Nippo jisho publicado como Vocabulario da lingoa de Iapam em 1603, era na verdade, e é ainda hoje, um caixa para almoço. Com efeito, o modelo original japonês para o ventó é conhecido por kakesuzuri-bako, ou “escritório portátil” que, quando apresenta porta frontal e ferragens como a de um cofre-forte, é chamado funa-dansu ou “arca de navio com gavetas”: uma caixa para selos (documentos, instrumentos de escrita e tinta em pedra) e dinheiro com uma única porta frontal com dobradiças, normalmente revestida por complexas ferragens e o interior com várias gavetas ou compartimentos com portas frontais.
As faces exteriores apresentam a mesma decoração, em tapete: campo central com exuberante planta florida elevando-se de um vaso, por vezes ladeado por lebres ou pavões, emoldurado por cercadura larga de enrolamentos vegetalistas com rosetas em estrela nos pontos médios e águias-bicéfalas (gaṇḍabheruṇḍa) coroadas nos cantos; separados por fina cercadura de quadrifólios característicos desta produção. Quando aberto, revela uma partição interior típica extremo-oriental, com duas gavetas superiores, a todo o comprimento do móvel, para guardar papel; por baixo e à direita, duas mais pequenas e, á esquerda, uma quadrada, totalizando cinco gavetas dispostas em quatro renques. As frentes das gavetas são também decoradas com plantas floridas ladeadas por lebres ou leões. A decoração do interior da porta apresenta um largo campo central com grande planta florida, emergindo de um vaso flanqueado por duas figuras masculinas europeias que, curiosamente, surgem vestidas com o típico traje feminino da viragem para o século XVII. O campo central é emoldurado por simples cercadura de quadrifólios.
Apresenta ferragens em cobre dourado a azougue que incluem o espelho de fechadura de estilo chinês na porta frontal, três dobradiças também na porta, cantoneiras, pega no topo, espelho de fechadura da gaveta quadrada no interior, e puxadores das gavetas, de argolas. As ferragens, em especial os espelhos das fechaduras e cantoneiras, são cinzeladas com maestria com aves e leões rampantes por entre elementos vegetalistas.
Tanto os materiais como a gramática ornamental utilizada neste ventó, assim como, as ricas ferragens, apontam para uma origem na Província do Norte do Estado Português da Índia, provavelmente Taná. Um escritório (34,3 x 30,8 x 41,5 cm) em tudo semelhante, provavelmente produzido numa mesma oficina de Taná, está em depósito no Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto (inv. 41 Mob CMP/MNSR) sendo da colecção do Museu da Cidade (Câmara Municipal do Porto).