Escritório Namban ou Nipo-Português / A Namban Writing Chest, Japão, período Momoyama Japan, Momoyama period (1573 - 1603)
Further images
-
(View a larger image of thumbnail 1
)
-
(View a larger image of thumbnail 2
)
-
(View a larger image of thumbnail 3
)
-
(View a larger image of thumbnail 4
)
-
(View a larger image of thumbnail 5
)
-
(View a larger image of thumbnail 6
)
-
(View a larger image of thumbnail 7
)
-
(View a larger image of thumbnail 8
)
Exceptional, rectangular shaped Namban writing casket of hinged cover. Wood made, possibly in Cryptomeria japonica, it was produced in the late-16th or in the early-17th century. The lifting cover gives access to a single compartment for storing writing paraphernalia, beneath which there is a long, single drawer, for documents. Copying a typically Iberian furniture model, the chest is decorated in black lacquer (urushi), gold (maqui-e), and mother-of-pearl (raden) inlays, characteristic of contemporary Japanese productions. The various brass hardware elements - handles, corner pieces, oval lock escutcheons and traditional European style latch, are engraved with foliage decorative compositions, and mercury gilt.From the chest’s outer surfaces stands out the cover, defined by a large cartouche of vegetable decorative composition centred by a pair of turtles (kame) - reptiles of exceptional longevity, that grew a long white tail whose exhaled vapours could create sacred jewels1 – with shells featuring a hexagons pattern known as Kikko-mon, originally from the Nara period (710-794), filled with birds and flowers (Karahana).Emerging from the water, the testudines are flanked by a lush Japanese maple tree (Acer palmatum) or Momizi, with a perched cuckoo (Hototogisu), and an orange tree (Tachibana). The surrounding surface is completed by intricate circles of mother-or-pearl intersections forming a star, centred by a flower. This compelling geometric pattern is repeated on the front panel. All the chest’s elevations, as well as the lid, are framed by a broad peripheral band of circles and demi-circles of stylized floral motifs, on a black lacquered ground, that alternate with mother-of-pearl elements centred by small black squares. The mother-of-pearl elements seem to correspond to the aogai, which radiates a turquoise blue sheen, and to the chogai shell, of whitish and iridescent lustre.1 Op. cit, BAIRD, Merrily, Symbols of Japan: thematic motifs art and design, Rizzoli International Publications, Inc., New York, 2001, p. 168.On the casket front, the rectangular surface is divided in two overlapping sections, corresponding to the upper single case compartment and to the lower drawer, delimited by decorative borders. The larger upper section is characterized by two scalloped, mother-of-pearl framed cartouches, flanking the exuberant lock plate. The one to the right features a pair of quail (uzura) among royal blue gentian flowers (rindo), both associated to Autumn. The other, to the left, an orange tree (tachibana), and what seems a Japanese nightingale (uguisu), bird associated with Japanese prose and poetry and whose song is related to the New Year, as evidenced in the Hatsune chapter of the literature classic Genji Monogatari (The Tale of Genji)2.Beneath this section, a full width drawer of geometric pattern decoration, centred by a small, and rather discreet lock escutcheon. On both lateral elevations, dense compositions with orange tree and royal blue gentian flower shrubs, to the right, and, to the left, a Paulownia tree (Kiri), in an allusion to the Japanese Imperial House and to Spring. On the back, a long outstretching Paulownia branch.The chest interior is fully lacquered in black. In the inner cover, a golden pergola sustaining a camellia shrub (Tsubaki), symbol of winter in the traditional Japanese floral calendar. Completing the scene, a grasshopper (Korogi) – a popular pet in Japan that is often pictured in lacquerware pieces – a crane (Tsuru), an allegory to longevity associated to the New Year, and, once again, a cuckoo.In terms of its decorative iconography, it is certain that the emphasis given to the turtles on the chest’s cover panel, relates to the fact that, according to Hindu, Taoist, Confucianist and Buddhist traditions, these testudines participate in the world’s evolution. For their longevity they are associated to the Taoist paradise, Mount Horai, and to the Aquatic palace of the Dragon-God, the King of the Seas. Turtles are frequent characters in Japanese folk tales, such as in the Urashima Taro, in which this reptile is the messenger of the Gods, able to travel between the underwater and the terrestrial worlds. On the other hand, in Japanese art they are associated to the Seven Gods of Good Fortune, a detail that is alluded to by the geometric ornamentation in which the pair is inserted, known and the “seven jewels pattern”, associated to these gods.An exceptional example of Namban art, this small piece of furniture alludes to life and death, as well as to life’s regeneration, metaphorically defined by the four seasons’ regular and continuous rotation. In addition to the evident beauty of this chest, we must also refer its2 Idem, p. 112.decorative sophistication that conveys an important artistic and cultural meaning, reinforced by the rare “seven jewels pattern” which, in a Japanese context becomes an allegory to the seven Shinto Gods of Good Fortune (shichi fukujin)3.Bernardo Morais dos Santos3 Cf. BAIRD, Merrily, Symbols of Japan: thematic
Extraordinário escritório Namban de formato rectangular e com uma tampa articulada em madeira que atribuímos a criptoméria, executado nos finais do século dezasseis ou início do dezassete. A tampa dá acesso ao contentor para material de escrita e, por debaixo, uma gaveta que permite armazenar documentos. Lacada a negro (urushi) esta caixa, que segue os moldes das arcas ibéricas contemporâneas, é decorada a ouro (maqui-e) com incrustações em madrepérola (raden), características usuais do trabalho japonês da época. As montagens tanto das pegas, dobradiças, como dos espelhos de fechadura e aldraba, são em latão dourado a azouge.
Chama-nos logo a atenção a tampa do escritório, onde se destaca reserva de grandes dimensões polilobulada, que encerra cena vegetalista e onde sobressai um exuberante casal de tartarugas (Kame) - animais que viveriam até uma idade muito avançada, crescendo-lhes uma longa cauda branca que exalaria vapores capazes de criar joias sagradas[1] – e que apresentam carapaças com um padrão de hexágonos designado Kikko-mon, que teve origem no período Nara (710-794), com pássaros ou flores (Karahana) desenhados no seu interior.
Estes testudines, que emergem da água, estão ladeados por um frondoso acer palmatum ou bôrdo nipónico (Momizi) com um cuco (Hototogisu) pousado e uma laranjeira (Tachibana). O restante quadro é preenchido por círculos intricados, com as zonas de interseção preenchidas com madrepérola, desenhando uma estrela centrada numa pequena flor. Este interessante padrão geométrico vai-se repetir na frente do escritório. O todo – tal como as ilhargas e o tardoz - está delimitado por moldura larga periférica de círculos e semicírculos decorados com elementos florais estilizados sobre fundo de laca negra, intercalados com madrepérola decorada com pequenos quadrados desenhados a ouro.
A decoração da frente deste móvel está dividida em duas partes, ambas limitadas por uma cercadura e que correspondem ao contentor e à gaveta. Na parte superior, duas reservas polilobadas, cercadas por um friso de madrepérola e separadas por um exuberante espelho de fechadura. A da direita está ornamentada com duas codornizes (uzura) junto à planta da flor Gentiana (rindo), ambos símbolos associados ao Outono. A outra está preenchida com laranjeira (Tachibana) e, o que parece ser o rouxinol japonês (uguisu) - muito associado à prosa e poesia japonesa, o canto deste pássaro está relacionado com o Novo Ano, como se pode ler no capítulo Hatsune, no famoso Genji no Monogatari (O Conto de Genji)[2]. Por debaixo, gaveta a todo o comprimento decorada com um padrão geometrizado e escudete singelo.
Nas ilhargas, o campo é preenchido à direita por laranjeira e flor Gentiana e, à esquerda, pela árvore de Paulónia (Kiri), numa alusão à casa imperial nipónica e à Primavera. O tardoz é também decorado com um longo ramo de Paulónia.
O interior do escritório é lacado a negro. Na tampa, pérgola desenhada a ouro, onde cresce uma cameleira (Tsubaki), arbusto que simboliza o inverno no calendário floral tradicional japonês. A complementar este quadro, um gafanhoto (Korogi) - animal de estimação popular no Japão, muitas vezes representado em lacas – um grou (Tsuru), alegoria de longevidade, também associado ao Ano Novo e, mais uma vez, o cuco.
As montagens douradas a azougue estão repletas de motivos vegetalistas na sua decoração. A fechadura segue o modelo europeu de aldraba e o escudete é ovalado. Têm ornamentação incisa e contornos ondulantes.
O realce dado às tartarugas prende-se com o facto de nas tradições Hindu, Taoista, Confucianista e Budista, este quelónio ajudar à evolução do mundo. Dada a sua longevidade, é associado ao paraíso taoista, o Monte Horai e ao Palácio Aquático do deus-dragão, rei dos mares. São representados nos contos de folclore japonês como o de Urashima Taro, onde a tartaruga é a mensageira dos deuses, capaz de viajar entre os territórios subaquáticos e terrestres. Por outro lado, na arte japonesa aparece associada aos sete deuses da boa fortuna, facto que se traduz aqui pela ornamentação geométrica onde o casal está inserido, conhecido como “padrão das sete joias”, que se associa a estes deuses.
Sendo um belíssimo exemplar de arte namban, este móvel faz alusão óbvia às estações do ano. É ainda uma clara metáfora à vida e à morte, bem como às mudanças no sentido da vida, que se regenera e se transforma em cada estação.
A madrepérola utilizada é maioritariamente do tipo aogai, que emana um brilho azul-turquesa. Foi também utilizada a concha chogai, com um brilho mais esbranquiçado e iridescente.
À beleza evidente desta caixa, acresce a riqueza decorativa, que lhe confere um importante significado artístico-cultural. Profusamente decorada com o padrão das sete joias, que num contexto japonês é metáfora dos sete deuses xintoístas da boa fortuna (shichi fukujin)[3].
Bernardo Morais dos Santos
[1] Op. cit, BAIRD, Merrily, Symbols of Japan: thematic motifs art and design, Rizzoli International Publications, Inc., Nova Iorque, 2001, p. 168.
[2] Idem, p. 112.
[3] Cf. BAIRD, Merrily, Symbols of Japan: thematic motifs art and design, Rizzoli International Publications, Inc., Nova Iorque, 2001, p. 198.
Receba as novidades!
* campos obrigatórios
Processaremos os seus dados pessoais que forneceu de acordo com nossa política de privacidade (disponível mediante solicitação). Pode cancelar a sua assinatura ou alterar as suas preferências a qualquer momento clicando no link nos nossos emails.