Gaveta-escritório Indo-português , séc. XVII
Teakwood carcass writing box of ebony banding, fixed by pegs in the same timber, and ebony filleting and inlaid decorative composition.
The writing box single drawer interior is defined by a tilting top lockable compartment to its frontal length – framed and filleted in ebony, and by an open pigeon-hole to the right lateral, destined for storing writing quills and other writing paraphernalia – that includes two smaller compartments for an ebony sand pot and inkwell.
The drawer half-depth is justified by the presence of two secret compartments that fill the drawer’s lower half. These slide out from the lateral drawer panels, one on each side, with their own individual locks and ebony framed fronts. When removed, the two secret drawers give access – by pulling a small lateral ebony veneered plaque that flanks the opening framing of each of them, to two smaller hidden compartments that fill the empty space between the length of the larger transversal secret drawers and the width of the main drawer.
On the door front a decorative composition of two rampant lions, positioned face to face on either side of the scalloped and pierced mercury gilt lock escutcheon. On the box top surface a large central geometric and scalloped rosette, decorative motif of probable European Mannerist origin. An identical decorative repertoire was adopted for the back and side elevations, the latter enriched by utilitarian gilt copper handles.
This type of writing box, copying 16th and 17th century European prototypes very seldom found in our days, was made for export in the various Portuguese India furniture centres, such as Goa and Kochi, using highly resistant exotic timbers of strong decorative effect. In fact, the latter territory seems to have been, from the late 16th century onwards, the origin for this furniture of quite straightforward decoration and Mannerist stylised floral flavour, sometimes also of Islamic type, characterised by the contrasting effect of the fine grained reddish teakwood (Tectona grandis) with the dense dark brown ebony (Diospyros ebenum) and the often wrought iron hardware.[1]
A writing box / drawer of identical type (dim.: 17.4 x 44.0 x 36.6cm) but of exclusively floral and foliage decoration and certainly made in Goa, is kept in the collection of the Museu Nacional de Arte Antiga in Lisbon (inv. no. 1670 Mov).[2]
[1] See: Mobiliário Indo-Português, Moreira de Cónegos, Imaginalis, 2006, pp. 84-89. The author does not present any example of a writing box / drawer of this Kochi production (pp. 386-394).
[2] See: Anísio Franco, "A Circulação de Modelos na Criação do Barroco Português", in Anísio Franco, et al. (ed.), Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português (cat.), Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga. 2015, pp. 112-122, ref. p. 118, cat. no. 41.
Gaveta-escritório de estrutura em teca com emolduramento (como cantoneiras) faixeado a ébano (fixa com pinos de ébano) e decorada com filete e embutidos também de ébano.
Em caixa, apresenta uma gaveta única, com escaninho à frente de tampa basculante e fechadura individual (com moldura e filete em ébano), escaninho aberto na lateral direita para penas e outros instrumentos de escrita (com dois compartimentos mais pequenos junto à frente, um com poeira e outro com tinteiro, integralmente em ébano), todos a meia-altura, já que a gaveta apresenta compartimentos inferiores de segredo.
Na verdade, as laterais da gaveta dão acesso, de um e de outro lado, a duas gavetas escondidas que correm em sentido oposto, de um e doutro lado da gaveta maior, cada uma com sua fechadura individual e a frente com emolduramento em ébano.
Estas duas gavetas, quando totalmente removidas, dão acesso, pelo lado (fazendo sair uma pequena placa que ladeia, faixeada a ébano, o emolduramento de entrada de cada uma das gavetas), as duas gavetas mais pequenas escondidas que ocupam o espaço deixado vazio pela diferença entre o comprimento das gavetas maiores transversais e a largura da gaveta-escritório.
Enquanto a frente da gaveta é decorada por dois leões rampantes afrontados, com o escudete recortado e vazado da fechadura (em cobre dourado a azougue), o topo é decorado por roseta recortada e geométrica, motivo decorativo muito provavelmente de repertório europeu, maneirista. Esse mesmo repertório é usado no tardoz e nas ilhargas, estas com gualdras laterais em cobre dourado.
Este tipo de gaveta-escritório, replicando modelos europeus quinhentistas e seiscentistas hoje muito raros, foi produzido para exportação com madeiras exóticas, resistentes e de grande efeito decorativo, nos diversos centros produtores de mobiliário da Índia Portuguesa, caso de Goa e de Cochim.
Este último centro parece ter sido responsável pelo fabrico, desde os finais do século XVI, destes objectos de decoração simples, maneirista (floral estilizada por vezes também de tipo islâmico) caracterizados pelo contraste entre a teca avermelhada e de fino veio (Tectona grandis) e o ébano (Diospyros ebenum) de rica cor castanha escura e pelo uso de ferragens em ferro forjado.[1]
Uma gaveta-escritório deste mesmo tipo (17,4 x 44 x 36,6 cm) embora de decoração exclusivamente vegetalista e produzida certamente em Goa, pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (inv. no. 1670 Mov).[2]
[1] Veja-se Pedro Dias, Mobiliário Indo-Português, Moreira de Cónegos, Imaginalis, 2006, pp. 84-89. O autor não apresenta nenhum exemplar de gaveta-escritório desta produção de Cochim (pp. 386-394).
[2] Veja-se Anísio Franco, "A Circulação de Modelos na Criação do Barroco Português", in Anísio Franco, et al. (ed.), Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português (cat.), Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga. 2015, pp. 112-122, ref. p. 118, cat. no. 41.