Menino Jesus Bom Pastor

Nº de referência da peça: 
F1291

Baby Jesus The Good Shepard
Ivory
Goa, 17th centruy
H.: 20.0 cm
Prov.: J.C., Oporto

Marfim
Goa, séc. XVII
Alt.: 20,0 cm
Prov.: J.C., Porto

Seventeenth century ivory sculptural composition depicting the Child Jesus as The Good Shepherd. Exceptional for its technical mastery and carving fineness, its minutia of detail reflects contemporary Indian jewellery production.
This recognisable depiction alludes to the evangelical episode of The Good Shepherd, or The Parable of The Lost Sheep. As is usual in such Indian sculptures, the Child is portrayed as if asleep. However, in interesting and evident symbiosis between European Christianity and Eastern Buddhism, he is endowed with some of Buddha’s defining characteristics, such as the ecstatic pose, looking away with half-closed eyes, the fingers resting over the temples and the face leaning onto the right hand. Such contemplative bearing reflets particular symbolism, as it reminds us of the Buddha attaining the enlightenment, after 49 days of meditation under the fig tree.
Seating at the top of a mountain, the Child is attired in a diamond tip patterned shepherd’s tunic, tied at the waist by a laced knot, over galligaskins, and clearly displaying the Good Shepherd attributes – the shoulder bag and the gourd. In sandals and with his legs crossed, in the Buddha meditative posture, he oversees his flock, disperse on the pyramidal hill, in an allusion to the souls scattered all over the world. A sheep rests on his left shoulder, while other lays on his lap, as if held in his hand. His tightly curled hair, slightly hooked nose and beak-like mouth are, together, specific traits characteristic of Indo-Portuguese art of this period.
The hill, sectioned in three stepped platforms, is covered by palm trees. Unequivocally framed according to a clear Christian matrix alluding to Mount Golgotha, it is easy to identify some analogies with the sacred Hindu Mount Meru, such as the relation between the terraced structure and the Gopuram, the ubiquitous stepped towers that serve as gateways to Indian Hindu temples.
On the mountain upper tier, a representation of the Fountain of Life - Fons Vitae – spurting the Water of Redemption that is drank by birds of Paradise. In the middle terrace a group of three sheep. Two seemingly grazing, while the third, centrally placed, is being suckled by a lamb.
Carved in detail in the lower tier, the cave whose entrance is guarded by two lions, with the Penitent Mary Magdalene reclining on her right side, and identified by her long, unkempt hair, invoking her solitary existence and closeness to Christ. She is depicted in a long tunic, with her left hand pointing to an open book of Holy Texts – The New Testament – placed on the lower front, which typifies the written support for her meditation on the Life of Christ. The crucifix, supposedly left by the Archangel Michael, rests on a rock ledge to her right.
The five delicate upright leafy branches, alluding to the Tree of Life, are particularly rare survivors in an object of this period, being often lost or damaged by the passing of time. They slot loosely into the mountain that defines the vertically developing composition.
Standing out from the central branch above Christ’s head, the half-length figure of God The Father emerging from clouds. Crowned with the papal tiara and holding the orb in the left hand He blesses with the right. Suspended from His chest, the dove symbolizing the Holy Spirit.
The composition sits on a socle of carved indented frieze.

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Escultura goesa em marfim retratando o Menino Jesus Bom Pastor, admirável pela sua detalhada qualidade escultórica, revelando a mão de um eborário versado e com grande sentido estético. Nesta peça pertencente ao século XVII, está patente o episódio evangélico do Bom Pastor (João 10:1-21), a Parábola da Ovelha Perdida, em que Cristo guarda e defende as suas ovelhas (os fiéis) e traz para o redil a ovelha perdida (o pecador).
Num rochedo em socalcos minuciosamente esculpidos, a delicada decoração vegetalista e zoomórfica é revelada. Elegantes ramagens com folhas de palma, em representação da Árvore da Vida , brotam a partir de orifícios na retaguarda da escultura ebúrnea.
No seu cume, a figura do Menino, bem proporcionada, tem cabelos curtos, penteados com caracóis em madeixa, face arredondada, nariz adunco e lábios finos, traços distintivos da arte indo-portuguesa do século XVII. Como todos os Bons Pastores de origem indiana, o Menino está dormente. De Buda, recolhe a Sua atitude de êxtase , caracterizada pela expressão ausente mas de concentração expectante, os olhos fechados, o sorriso hermético, os dedos apoiados nas têmporas e a face inclinada sobre a mão direita. Veste a tradicional túnica de pastor com meias-mangas e que lhe cobre os joelhos, esculpida em pontas de diamante facetadas, representando o velo animal e debruada com afitados lisos. Está cingida na cintura por um cordão com nó de laçada. As pernas estão cruzadas, calça sandálias finamente entalhadas e apresenta os atributos tradicionais: cajado e cabaça suspensa à cintura, transportando 2 cordeiros, um sobre o ombro esquerdo e outro no regaço, ambos com o pelo esculpido em ponta de diamante. Sob o Menino, o seu rebanho espraia-se pela elevação, juntamente com as aves do paraíso, simbolizando as Almas de todo o Mundo.
A coroar a figura do Bom Pastor, ressalta Deus-Pai em «majestade pontifical» envergando a tiara papal - segundo o modelo tradicional criado no século XVII – , que abençoa com a mão direita e com a outra segura a orbe terrestre.
A peanha, de tipo canónico – com formato de rochedo - apresenta quatro registos sobrepostos . No primeiro socalco, a Fonte da Vida (Fons Vitae) irrompe de uma taça, encimada por duas pequenas pias sobrepostas suportadas ao centro por um colunelo. O chafariz simboliza a «fonte de água viva» (João 4:10), depois «fonte da vida» na tradição bíblica, numa alusão a Cristo como Fonte da Vida das almas, suas ovelhas. Dois jorros de água vertem do alto do fuste, dando de beber a um par de aves do paraíso, numa alegoria à Palavra Divina .
O terceiro socalco revela uma gruta com Santa Maria Madalena reclinada no seu interior, de longos e lisos cabelos soltos, vestida com uma longa túnica. Deitada sobre o lado direito, com a mão a suportar a face, semelhante à postura do Bom Pastor, aponta com o indicador esquerdo para um livro aberto, pousado sobre chão, aludindo às suas «atividade missionária e vida contemplativa». A Cruz de Cristo, um dos seus atributos, à apresenta-se à sua direita como símbolo do seu amor pelo Crucificado e da sua reverência pela Paixão do Senhor . Dois enormes leões sentados ladeiam Maria Madalena.
Uma pequeníssima tarja de perlado emoldura o limite inferior da peanha.
A diversidade e complexidade iconográfica apresentada pela escultura confirma, como a provável fonte de inspiração, a utilização de modelos europeus por artesãos indianos, transmitidos através de xilogravuras e gravuras.
Pelo forte sincretismo que contem, a imagem do Bom Pastor é considerada como a representação mais icónica e original da fusão de religiões cristã, budista e Hindu durante a Expansão Portuguesa . A simbiose artística e iconográfica destas peças constitui um importante testemunho físico sobre a problemática religiosa na qual se insere a sua produção, conectando as preocupações da Igreja com a assimilação dos gentios para uma mais fácil conversão, com um claro afastamento iconográfico e estrutural dos protótipos europeus, contribuindo deste modo para a valorização destes objetos enquanto peças de arte híbridas.

Marta Silva Pereira

Bibliografia:
- DIAS, Pedro, A arte do marfim, o mundo onde os portugueses chegaram, Porto: V.O.C. Antiguidades, Lda., 2004
- MARCOS, Margarida Mercedes Estella, Marfiles de las províncias ultramarinas orientales de España e Portugal, Monterrey: G.M. Editores, 2010
- OSSWALD, Maria Cristina, O Bom Pastor na Imaginária Indo-portuguesa em Marfim (vol. 1), Porto: Dissertação de Mestrado em História da Arte, FLUP, 1996
- TÁVORA, Bernardo Ferrão de Tavares e, Imaginária Luso-oriental, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983

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